Capítulo Treze

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A cidade se punha assim como o sol, perdendo sua agitação enquanto a noite chegava. Não haviam mais tantas pessoas na rua ou na praça central, e, assim que as estrelas tomaram conta do céu azul-marinho, todos se recolheram em suas casas.

— Por que não tem mais ninguém nas ruas? - indaguei, preocupada – É perigoso a noite?

— Oh não, Aurora é a cidade mais segura do Reino da Luz, eu garanto! - disse Dante, balançando as rédeas para os cavalos irem um pouco mais rápido – É que essa não é uma cidade... noturna. Nós preferimos a luz do dia, desde os primeiros raios de sol, até os últimos feixes da tarde. Não nos interessamos pela noite, não somos como os das trevas.

— Ah... - eu e Roberta nos entreolhamos enquanto a carruagem avançava pela rua deserta, até estacionar bruscamente perto da calçada.

— Chegamos! Sejam bem-vindas a Pensão da Alda! Antes conhecida como Pensão da Alma, popularmente conhecida como Dormitório!

O lugar era uma grande casa de pedra e madeira, com vários andares. Parecia um hotel rústico, daqueles que ficariam mais bonitos numa fazenda e não no meio da cidade. O peitoril das janelas dos quatro andares do edifício estavam repletos de flores amarelas vibrantes, dando um toque de delicadeza a fachada áspera, e o telhado pontudo de chalé era tão extenso que quase tocava as casas vizinhas.

Logo acima da porta de entrada havia uma placa branca com o nome do lugar:

Pensão da Alda

E, numa placa pequena, anexada a maior, estava escrito:

"Dormitório"

Das janelas do térreo era possível ver uma grande movimentação de pessoas dentro da pensão, todos aparentando ser bem jovens. Dante nos ajudou a descer da carruagem, e logo subiu de volta no assento do cocheiro.

— Essa foi a última parada do dia meninas! - disse ele - Amanhã voltarei de manhã para guiá-las até a Academia e mostrar o resto de Aurora. Pégaso e Árion não gostam de atrasos, então aconselho que não demorem muito para nos encontrar, se não eles podem ficar barulhentos e desagradáveis. - os cavalos relincharam, indignados com o que ouviam, mas Dante os ignorou e continuou falando – Ah! E digam oi para Alda por mim, já faz tempo que não a vejo, ela é uma velha amiga minha. Eu diria para ela eu mesmo, mas tenho que ir para o estábulo antes que alguém roube a minha vaga de estacionamento, sabem como é.

— Por que você sempre larga a gente nos lugares, hein? - indaguei e ele riu.

— Não se preocupem, não "largaria" vocês em lugares onde não estivessem seguras. Na verdade, isso me lembra uma vez que fui levar um recém-chegado até a floresta e...

— Já está tarde, é melhor a gente entrar, boa noite Dante! - Roberta o cortou e me puxou para a porta da pensão.

Dante não pareceu nada incomodado com a interrupção, e acenou para nós alegremente, enquanto ele e seus cavalos se despediam de nós e seguiam pela estrada.

Virei-me para Roberta:

— Por que fez isso? Podíamos tê-lo convencido a entrar com a gente. Agora vamos ter que entrar em mais um lugar estranho e desconhecido sozinhas!

— Ah desculpa, mas eu tô cansada demais pra ficar ouvindo ele tagarelando. - bufou – E o cara tem mais de duzentos anos de idade, imagina o quanto de história ele tem pra contar! Eu é que não vou me arriscar a ficar ouvindo.

Roberta empurrou as portas de madeira, e o som de dezenas de crianças e adolescentes conversando e correndo preencheu nossos ouvidos.

O saguão era tão rústico quanto seu exterior. O chão de madeira encerada e o lustre de velas no teto davam um ar clássico ao ambiente, no lado direito, vários sofás e poltronas se agrupavam em volta de uma grande lareira de pedra, onde vários adolescentes conversavam e riam, no lado esquerdo, mais alguns sofás formavam um círculo, e, atrás deles, um grande arco dava passagem para o que parecia ser um refeitório.

A Escolhida da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora