A Escolhida da Luz

Capítulo Nove

A cerca branca nos acompanhou até chegarmos ao início da estrada de pedra. A nossa frente, um cocheiro terminava de ajeitar as rédeas dos cavalos, que transportavam uma linda carruagem branca e dourada. A cobertura da carruagem se escondia por detrás dos bancos de veludo, e as grandes rodas brancas não continham sujeira alguma, apesar da terra ao seu redor.

— Espero que não tenha esperado muito, vim assim que nos foi revelado sua chegada. - Disse o cocheiro, ainda atento aos cavalos – A sua sorte é que lhe mandaram o cocheiro mais veloz de Aurora, estaremos na cidade antes que perceba. Meu nome é Dante, e estes são Pégaso e Árion. Você vai notar que eles são muito amigáveis e... - Dante finalmente se virou para nós e se calou.

Ele usava um colete marrom, que combinava com sua calça, por debaixo de uma camisa branca, e tinha uma boina xadrez na cabeça. Alguns cachos pretos do cabelo de Dante apareciam por debaixo da boina, contrastando-se com os olhos azuis e a pele vermelha de sol. Ele aparentava ter uns trinta anos no máximo.

Seu olhar se alternava entre mim e Roberta, aparentando confusão. Depois de alguns segundos de silêncio constrangedor ele finalmente disse:

— Hã... desculpe perguntar mas, qual das duas é a recém-chegada? - perguntou

Eu e Roberta nos entreolhamos, duplamente confusas.

— Nós duas acabamos de chegar. - falei

— Isso é impossível, - disse Dante, que havia tirado o chapéu e agora coçava a cabeça como a imagem perfeita de um homem confuso – só vem uma pessoa por vez pra Arret. Essa é a regra.

— Bem, deve haver alguma exceção porque nós duas fomos trazidas aqui por um livro bizarro que saia luz. - disse Roberta.

— Ao mesmo tempo? - perguntou o cocheiro

— Sim. - respondi

— Tem certeza? - perguntou mais uma vez.

— É claro que temos certeza, acabamos de cair daquela árvore! - disse Roberta, irritada.

— O.k., o.k.! Desculpem, é que isso é muito incomum. Na verdade, acho que nunca aconteceu nada assim antes. Bem, então acho que vou ter que levar vocês. - Dante abriu a porta da carruagem e ajeitou a escada para que subíssemos – Vamos, entrem! Tem muito de Aurora para se ver!

Como não havia outra opção, subimos na carruagem e sentamos lado a lado. Dante fechou a porta e sentou-se no banco do cocheiro:

— Duas recém-chegadas, quem diria! Essa é uma coisa difícil de se ver, podem acreditar. Esperem só até eu contar para o pessoal do estábulo, não vão nem acreditar. Não é verdade meninos?

O cavalo branco chamado Pégaso relinchou em resposta, seguido por Árion, um cavalo branco de manchas marrons. A carruagem começou a andar pela estrada de pedra, nos afastando da grande cerejeira.

— Então, - começou o cocheiro – será que eu poderia saber os nomes das minhas passageiras peculiares?

— Eu sou Anny, e essa é Roberta. - disse, tentando ignorar o fato de que ele havia nos chamado de "peculiares".

— Bom, bom. - continuou – Bem, já que fomos devidamente apresentados, acho que deveriam saber que sou uma pessoa muito falante. Alguns até me chamam de tagarela, mas acho que não falo tanto ao ponto de tagarelar. Eu conheci um homem uma vez que falava tanto que teve cãibra na língua! Isso sim é um tagarela, não estou certo meninos? - Os cavalos relincharam novamente – Pégaso e Árion são cavalos muito bons, e muito leais também sabe. Talvez estejam interessadas em saber porque eu os dei tais nomes. Muitas pessoas ficam interessadas nisso na verdade, provavelmente porque o Pégaso são tem asas como um pégaso, e o Árion, bem, ele não corre tão rápido assim para fazer jus ao nome mas...