— Eu não vou — aviso de antemão. — Houve algum engano com a contratação.
Ele põe a cabeça para fora do veículo e me olha atentamente por alguns segundos. Eu odeio quando ele faz isso, e olha que ele deve ter feito umas duas vezes desde o atropelamento. Ou quase. Tanto faz.
— Não houve engano algum.
— Eu não vou num carro caindo aos pedaços.
— O para-choque está bom. Nem precisamos dele. Vamos logo, senão vai ficar tarde.
— Eu vou falar com quem contratou — afasto-me do carro e ligo para Jaehyun, mesmo que esse fora da lei esteja bufando com impaciência.
Ele não atende, mas responde que está embarcando no avião. Eu mando uma foto do carro e pergunto se é isso mesmo. Sua resposta me deixa confuso:
Jaehyun: foi o máximo que consegui.
— Oh, Johnny… Eu não acredito que você me empurrou uma patty para levar até Pequim! — o motorista reclama no telefone e eu encaro-o bem feio.
Patty? Eu nem estou vestido de rosa nem nada. Só estou de bege. Então quer dizer que me vestir bem já me torna automaticamente numa patty? E por que patty? Qual o problema deste homem, afinal de contas?
Analisando melhor, nem tem como eu esperar mais que isso. Tem trezentos piercings, as unhas pintadas, todo de preto como se fosse o Darth Vader e ainda vem com esse papinho de "patty"? Por acaso eu tenho cara de otário? Eu não vou me submeter a isso. Sei de onde vim e onde pertenço. Não vou a lugar nenhum com esse maluco que nem tem cara de quem toma banho, quem dirás lavar esse carro. Eu não percebi, mas aposto que esse lixão solta uma fumaça danada quando o motor está ligado.
— Com licença — me aproximo dele. — Tem alguma recomendação para mim?
— Espera aí, John — ele fala com alguém na linha, então afasta o celular do rosto. — O que é?
— Por acaso o senhor tem alguma recomendação para mim?
— Eu tenho cara de papa pra você me chamar de "senhor"?
— Estou sendo educado. Não te conheço e não quero falar informalmente.
— O que você quer, então? — ele me olha de cima a baixo de novo.
Conserto minha postura e fico mais ereto. Não gosto quando ele me olha assim.
— O senhor conhece algum outro taxista para me recomendar?
Ele olha pra mim, depois ri. Fico sem entender o motivo.
— Ok, ok… — ainda rindo, balança a cabeça. — Anota aí o número dele…
Pacientemente, ele me dita o número do tal taxista e eu ligo na hora. Ponho o celular grudado na orelha e desde já começa a discar. Não dou tanta atenção quando algum telefone dentro do veículo começa a tocar. No entanto, noto a movimentação desse cara que ainda não sei o nome. Ele aparece com um celular flip na mão (cruzes, quem ainda usa isso?) e abre-o prontamente. Paro de focar nisso quando o taxista na chamada finalmente atende.
— Alô? — digo.
— Olá, estou ocupado agora — reconheço a voz. Olho furiosamente para o cara à minha frente. — Tenho que lidar com um engraçadinho que acha que veio de um filme da Barbie. Pode me ligar mais tarde?
Eu encerro a chamada.
— Isso não foi gentil da sua parte — reclamo.
— Quem é que liga para gentileza? — ele ri e dá de ombros. — Entra logo no carro. Não houve engano algum.
— Então me diga o nome de quem te contratou.
Ele põe o celular normal de volta na orelha, faz a mesma pergunta a alguém do telefone e depois me responde:
— Jaehyun.
Merda.
— O que é isso? Por que alguém está te dando a resposta? Por acaso é algum golpe?
— Você é muito nervosinho, hein? — revira os olhos. — Entra logo no carro. Tomara que te assaltem aí na rua.
— É assim que você trata os clientes?
— Estou sendo gentil do jeito que você pediu, Taeyong — seu olhar é hiper intenso e eu fico nervoso com isso.
Aperto minha bolsa contra minha barriga e solto um suspiro. Olho ao redor… Bem, estou no meio da rua. Jaehyun provavelmente não vai mais me mandar mensagens, e nem está atendendo ligações. Se ele contratou essa coisa, deve ser porque no fundo presta. Eu vou deixar, só por enquanto. Mas, se tiver muitos problemas, vou ir embora na primeira oportunidade possível.
— Eu não sei seu nome — sugiro que se apresente.
— Tá, eu sou Ten — ergue a mão para fora da janela e eu aperto rapidamente.
Sua mão está pegajosa e, assim que me afasto para entrar no carro (ele nem se moveu para abrir a porta pra mim!), noto que ele sujou minha mão de graxa. Esfrego os dedos, mas não adianta. Se só em tocar nele teve isso, imagina a porcaria que deve ser o interior desse carro...
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CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.ten
Fanfiction« se ten era um dos piores taxistas do país, por que é que alguém de tão boa índole como taeyong estaria dentro daquela lata-velha? » taeyong tinha apenas um compromisso naquele fim de semana: um evento acadêmico que o trouxera àquelas bandas descon...