11 - Matar mosquito na coxa é crime ambiental

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— Estou dando um jeito — é a terceira vez que ele fala isso com intervalo de alguns minutos

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— Estou dando um jeito — é a terceira vez que ele fala isso com intervalo de alguns minutos.

Não sei o que será de nós…

— Ten, falar isso não adianta em nada, você sabe — solto um suspiro ao jogar uma pedra do outro lado da pista. — Bem que poderia passar alguém agora…

— Estou dando um jeito.

Eu não sou muito de xingar em voz alta, mas estou doido para mandar ele ir para aquele lugar.

— Falar isso não adianta!

— Pode pegar a garrafa d'água em cima do painel para mim, por favor?

Solto um suspiro e me levanto, para enfim perceber que fiquei tempo demais ali sentado. Pego a bendita garrafa e entrego a Ten, que está com as mãos sujas e algumas partes da camisa também. Como não tenho nada para fazer, invento que vou subir no teto do veículo. Aproveito a distração do Ten para me apoiar melhor na lataria e subir. Ele não percebe, graças aos deuses, então nem me preocupo tanto. Ainda mais porque a vista daqui de cima é legal. Não é assim tão alto, mas é interessante.

Morro de medo do Ten surtar com isso e acelerar o carro enquanto eu estiver aqui. Ele é maluco ao ponto de fazer isso.

— Acho que dei um jeito — ele puxa o capô para baixo e bate.

Rapidamente nota minha presença aqui em cima e cruza os braços, com uma expressão de incrédulo.

— O que você está fazendo aí? — questiona.

— Eu queria estar num lugar alto para te ver falhar. O ângulo é melhor.

Ele forma um sorrisinho de canto dos lábios. Estou começando a gostar disso... Acostumar, na verdade.

— Pois eu não falhei — lentamente aproxima-se de mim. — Pode descer, por favor?

— Não, acabei de subir — balanço minhas pernas.

— Vamos, desça. Eu vou acelerar o carro com você aí.

Eu disse!

— Espera só mais um pouco… — me seguro com firmeza, porque tenho medo de cair.

— Eu vou contar cinco segundos — chega bem pertinho de mim. Se ele já é baixinho quando estou ao seu lado, agora está mais ainda. — É o suficiente para você?

— Não — encaro-o.

Ten dá aquele mesmo sorrisinho que está virando clássico, fica me olhando por um tempo, depois desvia o olhar repentinamente para a pista. Seria normal se alguém tivesse passado, mas não teve nada. Quando me encara de novo, está sério, porém só me olha rapidamente. Eu realmente gostaria de saber qual a dele, mas não entendo muito. Apenas abaixo o olhar para o fiozinho que está saindo da minha camisa. Um suspiro e já estou cansado. Não falo nada, assim como Ten.

Acho que o estresse atual está me ajudando, de uma maneira geral. Eu gostaria de me sentir bem e acredito que brigar com Ten me ajuda a esquecer das coisas que me fazem sentir mal. Veja bem… Não é como se eu tivesse na cabeça que iria me irritar a cada dois segundos, foi algo que aconteceu, porém percebi é aqui em que eu queria tempo e inspiração para ter uma ideia que pegasse o que me incomoda e pusesse numa obra de arte. Mas quanto menos eu penso sobre isso, mais me sinto melhor. E, honestamente, acho que se trata disso. Não quero remoer as mesmas coisas. Se formos mesmo amigos até o fim da viagem, posso pegar seu número de telefone e podemos mandar memes legais ou periodicamente perguntar o que o outro está fazendo.

Só que mal concluo meus pensamentos quando sinto a mão de Ten dar um tapa na minha coxa direita. Assusto-me de início, olho para ele e fico sem saber o que dizer. Isso é tão repentino…

— Tinha um mosquito — é o que explica.

Então desço os olhos e vejo que sua mão ainda está na minha coxa. Ele percebe que notei isso, então afasta, meio sem graça. Põe a mão na nuca e esfrega brevemente.

— Você matou ele — conto, porque estou vendo os restos do bixinho amassado na minha bermuda. — Isso é crime ambiental!

— Ah, me economiza, Taeyong! — revira os olhos e dá uns tapinhas no mosquito morto para que se afaste de mim. — Vamos logo?

— Não, estou cansado e com preguiça — chacoalho os ombros para enfatizar meu drama.

Ten, do nada, põe as mãos nos meus joelhos e me olha fixamente. Sinto seus dedos apertarem contra minha pele e isso me deixa meio arrepiado.

— Eu vou te puxar.

— Tente.

— Quer mesmo isso? Vou te puxar com força.

— Tente.

Ten é sacana demais. Ele me puxa pelas pernas! Inicialmente eu pensava que não iria dar em nada, mas eu realmente cheguei até a pontinha e agora me desequilibro todo. Ele me segura, mesmo assim eu sinto meu corpo ir tombando pra frente e a primeira coisa que faço é me inclinar para me apoiar nele. Esse foi meu maior erro.

— Merda, Taeyong! — exclama no segundo em que eu caio sobre ele.

Prontamente, Ten me segura com firmeza e desde já me sinto patético por ter caído bem nos braços dele. Não era bem minha intenção ser carregado dessa maneira, então me sinto constrangido. Sinto meu rosto ficar quente enquanto olho nos olhos do motorista. Não dizemos nada, mas também não fazemos nada. Seu braço está ao redor da minha cintura, assim como o outro está próximo das dobras dos joelhos. Queria fazer algo, mas o máximo que consigo é olhar nos seus olhos e perceber que eles têm um formato lindo.

Sério. Digo isso sem segundas intenções. Obviamente que já notei o rosto dele antes, mas acho que não tão de perto assim. E estou seguro em dizer que ele é lindo. Angelical. Suas sobrancelhas são perfeitas. E suas bochechas também. Seus olhos castanhos correm pelo meu rosto também, eu sei, estou vendo. Eu pisco algumas vezes por puro nervoso. É estranho estarmos nos encarando assim. Mesmo assim, se ele tiver Instagram, eu gostaria de segui-lo. Porque, nesse punhado de tempo que o encaro, esqueço de como ele é irritante e se opõe a tudo que falo. Neste momento, eu sinto que Ten é uma das coisas mais belas do mundo.

Noto como seu rosto ganha cor, torna-se tímido. Ele desvia o olhar para baixo, então simplesmente fica sem graça de novo e se inclina para me deixar no chão. Eu estico minhas pernas e recuo, encosto minhas costas no carro e tento olhar para qualquer lugar que não seja Ten.

— É… É melhor a gente ir — ele fala tão rápido que mal percebo do que se trata.

— Ah, claro…Claro… — viro-me para entrar no carro e sou surpreendido quando Ten fecha a porta para mim.

Eu não sei explicar, mas estou nervoso. Espero quando ele dá a volta no carro, entra e depois puxa a porta. Solta um suspiro cansado e por pura sorte consegue ligar o carro. Estou feliz por escutar o ronco desse motor miserável. Vamos finalmente sair daqui.

— Põe o cinto —  do nada, me diz, sem nem olhar para mim.

Eu puxo o cinto e travo. Apenas dá tempo para eu olhá-lo pelo canto do olho antes que acelere. Quando o vento bate no meu rosto, percebo: acho que estive segurando o ar esse tempo todo.

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora