38 - Enjôo a comida de pobre

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Eles queriam arrancar dos meus pais cerca de cem mil dólares

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Eles queriam arrancar dos meus pais cerca de cem mil dólares. Eu achei uma pena, porque meu pai não daria cem mil dólares para eles. Depois aumentaram o valor para meio milhão. Quase ri na hora. Pobre coitados.

Como acabei de comer — cá entre nós, eles saíram para me arranjar comida e eu comi algo que não faço a mínima ideia do que seja —, não tenho nada para fazer a não ser cálculos. Então, supondo que consigam esse dinheiro, como iriam dividir?

São cinco meliantes, mais Johnny, Jaehyun e Ten. Ten que está sentado, me monitorando também, encostado numa janela cujo vidro está extremamente podre e todo quebrado. Pois bem. Se eles forem dividir igualmente, esse meio milhão vira 62.500 para cada. 62.500 dólares na mão de Ten. Em won, seria quase ₩75.000.000. Eu não quis chegar num número exato, porque estou cansado de pensar. Estou prestes a tentar lembrar quanto é que está custando o baht tailandês, para assim eu adequar melhor a realidade dele. Mas me sinto cansado.

— Ele até que fica quietinho quando você está aqui — um dos homens comenta com Ten, puxando papo. — Mesmo sem estar com a boca coberta, ele fica comportado.

Ten olha para mim.

— É, verdade.

Eu viro o rosto para o outro lado.

Como fiquei quieto comendo, eles não colocaram de novo a fita na minha boca e eu fico aliviado por isso. Então, talvez seja sobre isso: se eu me comportar, as coisas podem dar certo. A real é que eu nem deveria estar pegando leve com eles, porém sei que encher meu coração de raiva só me fará agir por impulso.

— Só deixando registrado — eu falo com a voz embargada pelo tempo que estive calado. — Meu pai não vai mandar esse dinheiro. E se vocês me tratarem mal, ele não vai nem considerar isso.

— Ah, até parece. Seu pai tem uma conta no exterior. É claro que, no desespero, ele vai mandar o dinheiro — o homem que estava conversando com Ten decide me responder.

— E se ele não mandar?

— A gente te mata.

— Que papo é esse?! — Ten levanta-se repentinamente.

— Shh, Ten — o cara põe o indicador nos lábios.

— “Shh” o meu pau! Vocês não vão machucar o Taeyong! — eu não sei o que me assusta mais: o tom e como o punho dele se fecha, ou eu e minha possibilidade de sair morto daqui. — Está escutando?

— Relaxa aí — o homem também levanta.

— Não me peça para relaxar! — surpreendemente, Ten empurra-o pelo peitoral.

O homem cambaleia e olha irritado para Ten.

— Quer saber de uma? Você deveria estar amarrado com ele. Eu nem sei porque Johnny decidiu te deixar solto, sendo que você nem estava interessado nisso. Do nada se interessou? Sério mesmo?

— Quanto mais, melhor. Não é assim que dizem?

— Gente — eu chamo, sentindo um enjôo performar em meu corpo. Não sei o que isso quer dizer.

— Você está fazendo o quê, afinal? — o homem responde a Ten, claramente me ignorando.

— Pelo que eu saiba, vocês provavelmente matariam ele por forçá-lo a comer camarão. Gente morta não dá dinheiro, se é o que quer saber.

— Eu não gosto do modo em que você fala.

— Gente — chamei de novo, mas ninguém atende. Inclino o rosto para baixo e tento levantar, mas só consigo ficar de joelhos.

— E eu não gosto do fato de você ameaçar matar alguém — Ten diz. — Vocês vão conseguir o dinheiro sem precisar matar ninguém. E o que vão conseguir com ele morto?

— Os custos para manter ele aqui são bem baixos, né, Ten?

— Tivessem pensado nisso antes de inventar essa ideia patética e…

Ten interrompe a própria fala para virar-se e ver o que aconteceu na minha direção. Eu mal percebo o que fiz até olhar sua expressão horrorizada. Pois é. Vomitei com tudo no chão. E não terminou. Até a última esguichada de vômito, eles ficam olhando para mim. Meu corpo é projetado para frente uma última vez, eu acabo tossindo ao engasgar um pouco e, como meus braços estão amarrados para trás, perco o equilíbrio e caio para frente com a cara no chão. Parte do meu rosto alcança a poça de vômito que deixei no concreto e eu estou me sentindo estupidamente fodido agora. Eu nunca me humilhei tanto.

— Taeyong! — Ten vem correndo me socorrer.

Ajuda-me a sentar de novo e ainda arranja um pano para limpar meu rosto. Eu só fico em silêncio. Ele manda o outro cara arrumar alguma coisa para limpar o vômito do chão, e ele sai resmungando pelos cantos. Agora, só eu e ele no cômodo, termina de limpar meu rosto e parte da minha camisa que eu nem tinha percebido que havia sujado. Também, ela está tão encardida de poeira que esse é o menor dos problemas. Só a cereja do bolo.

— Ei — fala baixinho, ao passo que esfrega um lencinho umedecido na minha camisa. — Eu não sei o que você está pensando, Taeyong, mas me escute. Eu vou te tirar daqui, ok? Eu não estou com eles. Eu soube disso na mesma hora que você. Olha… — ele olha ao redor atentamente, querendo saber se tem alguém por perto. — Depois te explico tudo. Só quero que confie em mim.

— Eu não quero confiar em você nunca mais — respondo com tanta dureza que até eu estranho minha voz. — Por favor, nunca mais fale comigo.

— Taeyong…

— Por favor — reforço. — Você não é nada para mim senão uma grande decepção. Eu gostaria de nunca mais olhar para você, se possível.

— Você está sendo meio duro…

— Ah, estou? — com a cabeça, aponto para o nosso arredor. Ele alivia a expressão, como quem admitisse que estou certo. — Só te falta apontar uma pistola na minha cabeça, Ten. E sinto que isso está bem perto, dada a conversa de agora há pouco.

— Taeyong, escute…

— O que aconteceu aqui? — Johnny surge do nada dentro da sala, o que fez Ten parar de falar.

— Taeyong tem um certo enjôo a comida de pobre. Toda vez que come, vomita — Ten se senta nos próprios calcanhares, mas não deixa de me olhar. — Precisamos arranjar uma comida que ele consiga comer.

— Ah, depois a gente vê isso. Precisamos gravar um vídeo dele. Vem cá — Johnny puxa Ten e o faz levantar. — Vamos conversar lá fora. Ei, alguém aí fora! Entrem aqui e fiquem de olho no Taeyong!

À medida que dois homens entram na sala onde me encontro, Ten e Johnny vão saindo. Eu pisco os olhos repetidas vezes, porque estou confuso. Da última vez que ele pediu para confiar nele, deu no que deu. E agora não sei o que fazer. Sinto que detesto ele. Mas aposto que, se ele voltasse agora para me dar um abraço, eu cairia nessa nos primeiros segundos. Não sei o que há de errado comigo. Estou enjoado e nada disso passa. Sinto-me horrível, horrível. Simplesmente horrível.

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora