13 - Frescura ou alergia

233 57 70
                                    

A porta do veículo é aberta por Ten

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A porta do veículo é aberta por Ten. Ele está sendo legal e gentil, por isso eu sorrio. Eu saio, porém esqueço de pegar minha bolsa. Então, surpreendentemente, ele pega minha bolsa e coloca no próprio ombro. Lentamente, me guia pelo caminho para a entrada da casa da avó dele. É simples, o bairro também é, não é grande nem me deixa de queixo caído. É só uma casinha comum, como tantas outras.

Como só comi as barrinhas de cereal, eu estou sonhando com essa tal sopa. Não sei nem do que é, mas eu também não sou assim tão chato com comida. Pode ser que um tal meliante diga que sou fresco, mas eu não sou. Eu sei da minhas coisas e da minha vida. Não sou.

Olá, vovó! — Ten animadamente juntas as mãos e curva-se para cumprimentar a senhorinha que aparece à porta quando ele bate.

Olá! — faço o mesmo, também cumprimentando em tailandês. 

Ela responde um monte de coisas, toda animada. Meu primeiro pensamento é: com certeza vou entender alguma coisa que ela diz. Mas não. Não estou entendo quase nada! Ela deve estar falando em algum dialeto que eu não sei. Ten vai ser minha salvação.

E, sendo ele minha salvação, sinto sua mão no meu ombro quando fala com ela. Aponta para mim e diz meu nome, depois fala alguma coisa sobre eu ser cliente. Num gesto apressado, sua avó nos convida a entrar. Ambos tiramos nossos tênis, subimos três pequenos degraus e passamos direto para a sala de estar cujo assoalho é de madeira.

— Senta no sofá — Ten fala comigo em coreano.

Eu me viro à procura do sofá e encontro-o ao lado de um vovôzinho cadeirante. Eu fico sem saber o que fazer. Não sei, alguma coisa me deixa imóvel. Arrepio-me ao sentir a mão de Ten na minha cintura, guiando-me para o sofá. Eu me sento na primeira oportunidade. Após me deixar sentado, Ten se ajoelha ao lado do vovô e o cumprimenta. Com medo de estar sendo desrespeitoso, me levanto rapidamente e o cumprimento também, mas depois volto a sentar com as pernas grudadas de nervoso. A avó dele sumiu em algum lugar, acho que na cozinha, e enquanto isso Ten conversa com o avô, que apenas responde com poucas palavras.

Vejo como ele pega a mão do avô e acaricia gentilmente, sorri enquanto fala e até mesmo usa um tom gentil. Um tom que nunca usou comigo, então estranho de início. Umedeço os lábios sem saber o que fazer. Agora, Ten se levanta e segue até a cozinha. Ele me deixou aqui sozinho, do jeito que pedi que não fizesse. Droga.

Na televisão está passando um programa de esportes e eu finjo ligar para isso só para não entrar numa conversa estranha com o avô de Ten.

— Ah, Taeyong! — Ten surge do além, tirando minha bolsa do ombro e me entregando. — Você quer Tom Yum? Sopinha de camarão? Já tem pronta.

Fico um pouco em silêncio, porque não quero soar arrogante ou desrespeitoso.

— Ahn… Seria arrogante dizer que não? — tenho cuidado até no tom de voz.

— Depende. Se você estiver sendo fresco, como sempre, acaba sendo.

Engulo em seco e esfrego as palmas da mão com nervoso.

— É que eu sou alérgico a camarão — explico.

A expressão dele se torna mais leve, provando que ele compreendeu o que quis dizer. Parece até mesmo estar aliviado.

— Era só ter falado antes. Chegou a me fazer acreditar que você estava sendo exigente…

— A culpa foi minha você pensar nisso?

— Foi! — vira-se e volta para cozinha.

Eu acabo sorrindo com isso sem querer, e acho que o avô do Ten percebe, porque eu pego-o olhando para a minha cara. Fico sério, estou com medo. Tenho medo de qualquer vovô que fica encarando.

Em pouco minutos, aqui vem Ten para a sala. Ele ainda está com as roupas sujas e percebo que até as costas das suas mãos também. Ao invés de se sentar ao meu lado, ele me puxa pelo braço e me faz levantar. Pergunto o que é que ele quer. Eis a resposta:

— Esqueci que você é “tímido” — ele só tira as mãos do meu braço para fazer as aspas. — Venha comigo, pra não ficar aí sozinho e passar mal de timidez.

— Você consegue ser bem irritante — mesmo falando isso, eu sigo com ele para algum cômodo.

Ten liga as luzes, daí percebo se tratar de um quarto. Bem simples, comum, genérico. Os móveis parecem ser antigos, porém muito bem conversados. E não tem um guarda-roupa, é só um armário de madeira simples. Nada de mais. A parede não é branca, mas sim creme. Achei interessante.

— Pronto — a benção de cabelo verde fecha a porta atrás de si. Depois, aponta para a cama ao dizer: — Pode sentar aí.

Caminho com minha bolsa contra a barriga e me sento na lateral esquerda da cama. Tem uma porta do outro lado do quarto, para onde estou virado. Ten vai até lá e abre. É um banheiro. Ele entra, mexe em algumas coisas, depois sai. Vai até o armário, abre, pega uma toalha e volta para o banheiro. Ele empurra a porta, mas não se certifica de que realmente fechou. Tem uma fresta aberta e nessa fresta consigo ver a pia e o espelho. Desvio o olhar por falta de interesse, começo a notar alguns objetos na escrivaninha. Não tem nada de interessante, pra falar a verdade. Só coisas de papelaria, uma luminária e um livro.

Sem querer meus olhos caem na direção do banheiro de novo. Dessa vez, eu acabo deixando de verdade porque o conteúdo me chama atenção. Pelo reflexo do espelho, vejo Ten tirar a camisa suja. Depois, ele tira outra, a de mangas longas, que estava por baixo. Desse jeito, vejo-o, de novo, nu superiormente. Desvio o olhar, me mudo para a outra lateral da cama. Olhar não é certo, não é legal. É melhor eu ficar olhando a rua. Olha só que janela legal! Tem cortina e tudo. Isso que é janela de qualidade...

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora