20 - Chocolate, chulé e ofensas

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— Não demore — essa fala já não me é surpreendente

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— Não demore — essa fala já não me é surpreendente. Ele fala isso quando vamos nos separar. Desta vez, estamos num shopping center. Ele vai comer enquanto eu vou atrás de um carregador para celular. — Vou estar na praça de alimentação.

— Tomara que morra engasgado — comento, passando direto por ele.

Ele solta uma risadinha debochada e nada mais. Continuo andando, me distraio olhando as vitrines. Algumas chamam minha atenção; outras, nem um pouco. Distancio-me devagar, pensando também em comprar um sorvete ou bubble tea. Ao olhar pra trás com o intuito de checar alguma placa que indique elevador (acho que vi ali em cima o letreiro de alguma loja de eletrônicos), encontro Ten de longe olhando para mim. Finjo estar distraído, desvio o olhar, aperto a alça da bolsa e empurro algumas mechas do cabelo para a orelha. Olho a vitrine de uma chocolateira rapidamente, depois passo os olhos por ele. Bem rápido. Agora encaro uma loja de departamento. Porém, pelos cantos dos olhos, noto: Ten está no meio do shopping, as mãos dentro dos bolsos da calça larga, os olhos traçados por um delineado que fez hoje também, e os tênis riscados de caneta preta que nada fazem. Está estático. Apenas me encarando. Eu finjo não notar. E ele não para de me encarar.

Do jeito que ele falou lá no carro, parecia estar desesperado para comer. Mas não agora. Ele parece estar sendo paciente, silencioso, mas nada sigiloso. Está óbvio, eu notei. Preciso subir para o próximo piso, mas não consigo. O fato de ele estar me olhando deixa-me preso aqui. Se eu me mover, ele move também. E eu não sei por que a ideia de não tê-lo focado em mim me deixa tão assustado. Quero que ele note como tiro o cabelo da testa e como sorrio para a vendedora que acaba de surgir me empurrando amostras grátis de um perfume enjoativo. Quero que ele me veja. Solto um suspiro.

Decido encará-lo também. Viro-me, mas não o vejo mais. Deslizando os olhos pelos clientes, noto sua silhueta caminhando na direção da praça de alimentação. Eu me virei tarde demais, ele já foi. É uma pena. Mas já estou acostumado, sabe. Às vezes eu levo muito tempo para agir. Eu deveria ser menos medroso.

Mas sendo ou não medroso, eu acho o elevador. Andar superior agora, estou aqui. Encontro uma loja interessante e sou abordado por um vendedor gentil. Peço o que preciso e saio feliz da vida com meu carregador. Facilmente acho um lugar para colocar meu celular carregando e sento-me ao lado da tomada tomando sorvete de salt caramel. E isso é tão estranho! Quer dizer, eu amo caramelo salgado, mas é tão diferente e estranho! Embora eu já tenha experimentado incontáveis vezes, sempre parece ser a primeira vez. É bom. Eu gosto disso.

Pacientemente espero… vejo as pessoas caminharem e sinto falta de estar tão desocupado quanto agora. Sei que deveria estar preparando minhas falas para a palestra… mas não consigo me concentrar. Acabo de lembrar do Ten achando que sou coach motivacional exagerado e eu fico rindo disso sozinho. Sozinho! Devem achar que sou algum maluco para estar fazendo isso. Até cubro o rosto, mas não acho que adianta muito. E no final fico sorrindo para o nada. Eu acho que gosto do Ten.

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora