40 - 3, 2, 1... Ação!

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Acordo assustado, suando frio

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Acordo assustado, suando frio. Sonhei com algo horrível, tenebroso. Não sei se estou me sentindo assim porque simplesmente me sacudiram para acordar ou se o sonho em si me fez ter essas sensações.

No sonho, eu estava correndo num corredor que parece muito com esse galpão abandonado. Eu caí no chão. Estava assustado, com frio e aparentemente tinha machucado a perna esquerda, porque estava mancando. Numa das portas do corredor, dois braços surgiram e me puxaram para dentro. Era um banheiro escuro, horripilante, totalmente abandonado. O chão estava cheio de limo e das paredes saíam ramos de árvores. Quando virei para ver quem me segurou, era Ten. Ele cobriu meus lábios para que eu ficasse em silêncio. Não sei como, mas ouvimos barulhos de passos pesados andando pelo corredor. E quando digo pesado, é algo sobrehumano. Como um gigante à procura de comida. Meu coração batia acelerado, mas fiquei quieto olhando Ten. Com o tempo, ele tirou a mão da minha boca e depois me beijou. No instante seguinte, porém, segurou-me pelos ombros e me empurrou até a banheira. Eu não lutei contra porque achava que era algum jogo de sedução. Mas não era. Ele me empurrou para dentro da banheira cheia e me largou lá, afundando. Não era uma banheira comum. Tinha metros e mais metros de profundidade. Por conseguinte ele pareceu cobrir a banheira como se quisesse ter certeza de que eu não iria sair.

Não sei como aconteceu, mas no instante seguinte eu apareci subindo a superfície e saindo de um vaso sanitário. E quando eu saí, lá estava Ten, parado, olhando para mim. Assustei-me e quase entrei de novo no vaso, mas eu sabia que iria morrer. Só que, por incrível que pareça, ele segurou minha mão e me ajudou a sair. Eu quis bater nele, porém segurou-me pelos braços e disse: “Às vezes a gente tem que machucar as pessoas para impedir que elas passem por coisa pior”. E então, eu acordei sentindo calafrios, meu corpo todo suado, e alguém gritando que teríamos que gravar o vídeo pra já.

— Para de gritar — um dos sequestradores resmunga.

— Se eu não gritasse, ele nunca iria acordar — o outro reclamou.

E estou aqui, olhando o teto cheio de rachaduras, os olhos arregalados e tentando superar o sentimento horrível de correr desesperadamente e ser afogado logo após de receber um beijo.

Eu me sento. É isso. Beijo é só beijo. Sexo é só sexo. Ele não gosta de mim. Nem no sonho nem na vida real. Ele não gosta de mim. Ele só estava entediado, porque a viagem era longa, e eu estava caidinho por ele. É como se ele fosse um coelho e visse um buraco. É automático entrar. Não significa nada.

— Vem para cá — alguém me puxa pelo braço e me arrasta para fora do colchão, depois pelo chão. Encosta-me numa parede ríspida e logo surgem com um celular na mão.

— Eu não quero gravar — é o que digo.

Estou horrível. Minhas roupas estão sujas e minha camisa ainda tem resquícios do vômito de ontem. Eu nem tinha percebido antes, mas meu tênis está imundo. Eu devo estar com o rosto horrível, cheio de olheiras. Meu cabelo está uma bagunça, sinto-me doente e fraco. Só comi uma vez em todo esse tempo. E eu nem sei mais quanto tempo eu estou aqui. Se só passou um dia ou dois ou três. Caralho, eu não sei. Estou fraco e meus olhos perdem o foco drasticamente quando eu movo minha cabeça.

— Você vai falar para o seu papai que, para você ser liberado, ele tem que mandar meio milhão de dólares — um deles me diz.

— A gente não tem esse dinheiro todo, idiota — respondo.

Antes mesmo que eu solte minha próxima expiração, uma pancada me atinge de jeito na cara e eu me escoro na parede como se fosse adiantar. Passo uns segundos sem sentir meu rosto muito bem e, quando meus sentidos voltam, recebo outra pancada e dessa vez me parece mais forte. Minha cabeça bate contra a parede e esse choque faz-me ficar mais tonto ainda. Tombo a cabeça para o lado, tentando ficar menos desanuivado. Não saber o que fazer ou o que está acontecendo é extremamente desesperador. Mas hoje estou calmo. Não enxergo as coisas com clareza, minha visão ainda está embaçada e eu tento tocar no meu rosto, porque uma dor aguda vem surgindo no canto da boca. Ergo minha mão suja de poeira e toco. Quando afasto e deixo visível para mim, vou focando o olhar nos meus dedos até notar o vermelho.

— Por que você bateu nele? — escuto.

— Porque ele é muito ousado e está sendo tratado como rei. E é bom que ele saia sangrando no vídeo, para verem que não estamos brincando aqui.

— Johnny vai descobrir.

— Johnny só liga para ele porque o Ten mandou. Mas a real é que isso não importa. E qual o problema? É só sangue. Ele nunca se machucou na vida?

— Calem a boca aí, por favor? — um terceiro resmunga.

Eu não presto atenção neles visualmente, pois ainda olho meu sangue nos dedos. O entorpecimento dá lugar a uma dor horrível no rosto. Eu não sei se há sangue também no nariz, estou com medo de tocar e descobrir. Também, não tem como eu saber. Minha mão já está suja de sangue. E agora meus olhos se enchem de lágrimas, porque eu sou aquele garoto estúpido do ensino fundamental que chorava toda vez que caía no meio da brincadeira. Eu chorava ao ralar o joelho e chorava por ter de desinfectar. Agora as coisas não mudaram tanto.

— Prepara a câmera — é o que diz algum deles.

Escuto um barulho esquisito, mas não levanto o olhar de início. Levo algum tempo para virar. E quando vejo, tomo um susto inexplicável. Começo a tremer, tremer de verdade, e não consigo desviar os olhos do cano da pistola apontada para mim.

— Vamos gravar o vídeo logo? — o que segura a arma pergunta.

Eu concordo com a cabeça, hesitante.

Olho ao redor e noto que somos só nós quatro aqui. Gostaria que Ten estivesse aqui. Ele não gosta de mim, mas pelo menos não deixaria ninguém me bater ou me matar. Não morrer é um luxo. Um luxo que eu não posso bancar no momento.

— Três, dois, um… Tá gravando! — fala.

Pisco os olhos algumas vezes. Não sei nem o que falar para o meu pai.

— Oi, pai… eu tô bem… ou melhor, eu tô vivo… ainda — engulo em seco. Tem uma arma apontada para a minha cabeça. Tem uma arma apontada para a minha cabeça. Meu Deus, tem uma arma… — Fizeram algumas coisas comigo, mas… bem, o senhor pode ver… é… hmm… por favor, eles só vão me deixar em paz se o senhor mandar o dinheiro…

Um dos sequestradores levantam uma mão aberta e aponta para ela com a outra. Então me lembro. Sim, o meio milhão que acham que vão ter.

— Meio milhão de dólares — engulo em seco. Não acho mais graça nesse valor. De repente, parece minha única salvação. Foda-se Ten ou Jaehyun. Eu só tenho a mim mesmo. — Por favor, por favor… mande o dinheiro, senão podem fazer coisas muito ruins comigo.

— Tem dois dias para enviar o dinheiro — o que está com a arma quem diz. — Senão ele já era.

Minha respiração começa a sair pela boca. Vejo-me em pânico, abaixo a cabeça. Pisco os olhos para tentar me acalmar, mas não consigo. Acho que encerram o vídeo, porque eu não falo mais nada e depois começam a conversar entre si. Não sei se a arma ainda está próxima a minha cabeça, tenho medo de checar.

— Fica de olho nele. Vamos editar o vídeo.

Eu me deito ao chão frio e podre. Tem um cheiro estranho e, pior ainda, a poeira ainda me faz espirrar. Meus dedos estão sujos de sangue, mesmo assim não me importo mais. Apoio a cabeça nos meus próprios braços e fico aqui mesmo, chorando baixinho e não pensando em nada. Porque se eu pensar, vou agir por impulso e tenho certeza que isso vai me matar.

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora