— Ten, eu… — tento raciocinar uma resposta, organizar as palavras. É difícil demais, nunca sei conversar com ele sem ser para elogiar ou falar mal. Eu tenho tanta coisa para falar mal…
— Vamos descer — ele não quer que eu responda, pelo que entendi. Também, está olhando além de mim. — Quando eu chegar no três, ok?
— Uhum.
— Um… dois… três! — Ten salta da árvore e me puxa junto.
Eu me atrapalho todo, estava hesitante desde antes, eu não gosto de pular das coisas. Acabo caindo no chão, mas ele me diz que não temos tempo para sofrer de dor. Então me puxa e vamos correndo até o oeste, onde tem seu carro. Mas antes de chegar até lá, precisamos correr por uma quantia razoável de metros. Minha perna esquerda está doendo, por isso estou mancando ao correr. Machuquei ao pular errado. E agora tudo que eu sinto é dor e desespero. Acho que não tenho tempo para sentir amor.
Isso me lembra meu sonho. Eu correndo desesperadamente, com a perna machucada. Mas agora está diferente. Ele não está me puxando para me matar. Ele está correndo junto comigo. Nosso suor se tornando um só. O vento que passa não acalma droga alguma, ele me faz sentir mais medo. Se eu pudesse voar, tudo estaria resolvido. Mas não posso. É tão triste que chega a ser engraçado. Espero não estar entrando numa enrascada outra vez. Mas eu acho que não. Dessa vez quero acreditar que não.
Eu engulo em seco quando faltam apenas poucos metros para chegarmos. Mas uma gritaria lá atrás me faz sentir mais medo ainda. Bem, uma hora eles iriam ver dois malucos correndo, né? E eles estão vendo.
— Entra no carro! Entra no carro! — Ten fala comigo, se separando para entrar como motorista.
Ele destrava o carro, eu abro a porta e entro como passageiro. Nunca fiz isso tão rápido na minha vida. Em questão de segundos, puxamos nossas portas e estamos ligando o veículo. Ele dá uma arrancada pouco sutil, acelerando o máximo possível. Com o tempo, vamos indo pela estrada de terra e nos afastando de onde viemos. Isso me deixa aliviado. O cheiro horrível do carro de Ten me deixa aliviado.
— Põe o cinto — ele ordena.
Eu puxo o cinto de segurança e prendo. Ele faz o mesmo. Não falamos mais nada.
Essa estrada leva a outra que junto com essa formam um T. Essa principal, mais longa, é asfaltada. E eu estou aqui me perguntando que buraco de lugar é esse…
— Eu estou com medo — digo.
— Eu sei disso — me responde.
Estamos muito, mas muito rápidos. Mais rápidos até do que aquela vez que ele ficou acelerando de propósito para me provocar. Isso me deixa incomodado porque, se batermos em algo, podemos morrer.
— Você foi bem lá correndo e pulando — suas palavras soam doces, ele está tentando me acalmar.
— Eu machuquei minha perna.
— E mesmo assim você foi bem.
Solto um suspiro.
— Ei, eu peguei sua bolsa. Está aqui atrás. Quando formos para a moto, não esqueça de pegar — me avisa.
Eu olho para trás e vejo a bolsa e, ao lado dela, o ursinho que comprei para o Ten. Vou trazer ele também, mesmo que talvez venha atrapalhar. Provavelmente vou enfiar ele dentro dela e, se não couber totalmente, tanto faz. O que importa é ficar preso.
— Quanto tempo demora? — questiono, virando-me para frente de novo.
— Em breve. Aguenta mais alguns minutinhos, ok?
Balanço a cabeça, embora ele não possa me ver. Sinto-me cansado e amedrontado toda vez que olho pelo retrovisor. Ainda nada. Eles não nos alcançaram. Eu espero que o plano de Ten funcione, senão estamos ferrados. Estamos ferrados.
Passamos direto por um lago e ele vira para a esquerda. Eu penso em falar algo do tipo, mas meu medo é que eu atrapalhe mais ainda. Com o tempo, vai diminuindo a velocidade até parar perto de um provável restaurante.
— Sai, sai do carro — ele arranca o próprio cinto.
Eu me atrapalho para tirar o meu com a mesma velocidade que ele. Quando abro a porta e saio, Ten já pegou minha bolsa e o ursinho. Segura minha mão quando eu bato o carro. Em seguida: exclama:
— Vamos correr!
E voltamos a correr. Vamos para o sentido contrário o qual o carro está. Corremos sem parar. São só alguns metros, mas parece uma eternidade. Estou com sede, com dor e cansaço. Minha respiração está um lixo, então basicamente uso a boca para sobreviver. Quando eu olho Ten, a franja está toda grudada na testa de suor. Estamos um lixo agora.
A noite nunca foi algo que eu pude gostar. Também, é muito escura e sinistra. Mas eu gosto das estrelas e da lua. Gosto do horizonte, mesmo longe, me olhando sem parar. É como se ele dissesse: continue correndo, Taeyong. Uma hora você para e tudo vale a pena. Eu não sei se vai valer tanto assim, mas o que me faz continuar é Ten. Acho que se eu parar e me jogar no chão, é capaz de ele me chutar até chegarmos onde quer chegar. Ele parece irredutível, não quer desistir de mim. Eu não o entendo.
Com a garganta seca, chegamos ao encontro da estrada que estávamos indo e a que viramos para deixar o carro. Bem perto da lagoa, Ten me puxa. Atravessamos a rua sem nem olhar para os lados. Ao lado de um conglomerado de arbustos, há uma moto. Então ele me dá a bolsa, enfia o ursinho dentro e pede que eu coloque-a no ombro. Assim eu faço. Observo-o rapidamente tirar a moto do esconderijo e depois subir.
— Vem!
Não penso duas vezes antes de subir também. Nunca gostei de motos, me parecem muito perigosas. Geram muitos acidentes e eu me sinto desprotegido. No entanto, oh, tenho Ten aqui. Ele liga a motocicleta, eu aperto seu quadril com os meus braços, e em pouco tempo estamos em disparada. Ela é barulhenta e parece meio velha, mas acelera bastante e me faz sentir o vento contra o rosto. Não estamos usando capacete, mas nessa altura do campeonato ninguém se importa com isso.
Eu fecho os olhos a maior parte do tempo, e curvo meu corpo para abraçar Ten com mais firmeza. Ele dirige moto do mesmo jeito que o carro: loucamente bem. Louco, porque ninguém em santa sanidade estaria numa velocidade dessa e arriscando tantas curvas e desvios de uma maneira exagerada como a dele. Ele parece não ter medo da morte. E eu percebi que, quando estou com ele, eu também não sinto que vou morrer. Acho que isso é bom.
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CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.ten
Fanfiction« se ten era um dos piores taxistas do país, por que é que alguém de tão boa índole como taeyong estaria dentro daquela lata-velha? » taeyong tinha apenas um compromisso naquele fim de semana: um evento acadêmico que o trouxera àquelas bandas descon...