22 - A ressaca com arrependimentos

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— É, vamos demorar mesmo… Ora, a culpa não é minha! Sempre precisamos parar

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— É, vamos demorar mesmo… Ora, a culpa não é minha! Sempre precisamos parar. Se não tivéssemos que parar, bem, estaríamos já lá… Quê? Pode demorar? E a palestra? Ah, então fale com ele… Não fale comigo assim, Johnny! Claro que não estou dormindo direito! E eu deveria fazer o quê, então? Você me diz uma coisa e depois diz outra! Tá bom, tá bom… Ok, tchau!

Eu finalmente abro os olhos. Ten está encostado na porta do carro, falando no telefone, e agora percebo que é um modo bem irritante de acordar. Mal consigo me levantar e sinto uma bendita dor tomar conta da minha cabeça. E quando Ten se afasta e para de impedir a iluminação da janela, eu me sinto o próprio Drácula sob a luz solar. Nunca pensei que o sol doeria tanto.

— Ten… — resmungo baixinho, mas é claro que ele não escuta.

Ten fala com alguém aqui perto, eu até me viro para ver quem é. Apenas um moço do posto de gasolina. E isso é tão chato, sabe. Só paramos quando vamos ao posto de segurança arranjar algo para comer ou quando eu choramingo. Que triste.

— Ten! — eu abro a janela e ponho a cabeça pra fora.

— Oh, você acordou — vira-se para mim.

Ele está vestindo um macacão azul marinho típico de mecânico e isso não faz sentido nenhum na minha cabeça. Quando foi que se trocou? Por que está vestido assim? Quê?

Não fala nada depois disso, apenas se aproxima de mim e inclina-se para apoiar os antebraços na janela aberta ao meu lado.

— Ei, o que está acontecendo? Por que está vestido assim?

— Ficamos parados desde que você dormiu. Perdemos umas onze horas e meia de estrada.

— Eu dormi por onze horas e meia?! — arregalo os olhos, mas a minha repentina mudança de expressão também dói minha cabeça.

— Vai escovar os dentes, credo! — afasta-se dramaticamente da janela e eu desejo estar com energia para dar um murro nele.

Abro a porta no mesmo instante, nem dando tanto tempo de vê-lo se afastar o suficiente para que não seja atingido por mim. Não estou nem aí, meto a porta nele sem nem hesitar. Que se dane.

— Ai! Ficou bravinho, foi? — Ten está rindo enquanto tropeça para trás.

— Quando eu voltar, vou te dar uma surra! — agarro minha bolsa e marcho furiosamente para dentro da maldita lojinha.

Acanhado, pergunto ao funcionário onde fica o banheiro e, assim que entro, vou escovar os dentes. Se o Ten acha que me atinge, ele está muito enganado. E eu também não estou muito bom hoje, não. Estou cansado, minhas costas estão doendo e eu não sei porque, tem grama grudada no meu corpo. Outra coisa: estou sem camisa. Como é que estou sem camisa?

E então, com a escova na boca e puxando os fiapinhos de grama do meu peito, bate uma coleção de lembranças soltas de ontem e eu acabo ficando parado olhando a parede. Meu. Deus. Do. Céu. Eu rolei na grama ontem à noite! Eu flertei com Ten ontem. Eu tentei beijar o Ten! Eu tentei beijar o Ten! Isso é… caramba, que vergonha!

Cuspo o creme dental violentamente com um certo medo. Porque… Ten com certeza lembra. Sim, ele lembra. Por que é que… Argh, eu me sinto tão mal por ontem! Eu tentei beijar Ten e… Nossa, ele me rejeitou. Com que cara eu vou sair desse banheiro agora? Agora que sei o que aconteceu, não sei como vou olhá-lo nos olhos. Talvez eu não deva falar nada, afinal ele também não disse coisa alguma. Talvez devamos esquecer tudo isso… deixar no passado…

— Taeyong! Vamos logo! — escuto sua voz através da porta. Inclusive, ele até bate duas vezes. — Está trocando de pele?

Eu ignoro. Vou responder o quê, afinal? Eu nem consigo pensar numa mísera resposta a altura para competir com o que foi dito. Sinto-me extremamente envergonhado.

E quando abro a porta, após guardar minhas coisas e vestir uma camisa, eu encontro-o parado ao lado de uma prateleira, checando os preços de uns salgadinhos. Eu apenas solto um pigarro para chamar sua atenção. Não adianta, porque ele não olha para mim nem fala nada, continua olhando os preços. Por fim, agarra dois pacotes e põe debaixo do braço.

— Vem — segura meu braço e puxa-me gentilmente para o caixa.

Ao pôr os pacotes no caixa, larga meu braço e eu engulo em seco por puro nervoso. Como eu posso começar isso? Quero me desculpar, mas ao mesmo tempo não quero trazer o assunto à tona. Porque… e se ficarmos estranhos? Aliás, por que tenho tanto medo do fato de ficarmos estranhos? O que isso significa, afinal?

— Ei, Ten? — começo chamando, ainda mais agora que ele está distraído pegando o saco, após realizar o pagamento.

— Hm?

— Desculpa por ontem — solto o ar que estive segurando. Vou ser corajoso o suficiente para aguentar esse tranco. — Eu agi de maneira bem estúpida. Eu não deveria ter tentado te beijar… Se você se sentiu invadido, de alguma forma… Por favor, me desculpe. Estou completamente arrependido. Se eu puder fazer algo ou…

— Taeyong — me interrompe repentinamente. Abre a porta da lojinha de conveniência e surpreendentemente me deixa passar primeiro. — Relaxe quanto a isso. Está tudo bem. No contexto, não foi nada de mais. Você nem insistiu, aliás. Não pese sua cabeça com esse assunto.

— Mesmo assim — solto um suspiro, metade por incômodo pela dor de cabeça e metade por consolo quanto ao assunto abordado. — Ainda somos amigos até um matar o outro?

— Somos sim, Taeyong. Somos, sim — ele sorri sem mostrar os dentes e eu retribuo.

Mas, de alguma forma, isso me deixa incomodado. Amigos. Somos apenas amigos.

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora