05 - Sou motorista, não cuidador de idoso

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Estou ficando com fome

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Estou ficando com fome. Eu sei que em algum canto da agenda que Jaehyun diz onde podemos comer aqui perto. Não sei onde estamos, porque eu não conheço muito bem os arredores. Mas sei que já estamos saindo de alguma cidade. Não sei quantas horas se passaram desde que entrei no carro. Acho que eu deveria usar mais meu celular, senão vou me perder. Meu corpo está doendo, de quebra, porque passei muito tempo numa mesma posição.

— Estou com fome — anuncio ao Ten.

— Legal.

— Você não vai fazer nada sobre isso?

— Eu deveria?

— Não é seu trabalho?

— Pelo que eu saiba, sou motorista, não cuidador de idoso.

Reviro os olhos. Estou perdendo a paciência.

— Eu sugeri que você parasse para comermos algo.

— Não, você sugeriu que eu te desse comida na boca.

— Escuta aqui, seu… — me controlo para não ferrar com o momento. Tenho medo de ele acelerar de novo e ambos colodirmos em alguma coisa. — Olha, tem como você parar para comermos algo, por favor?

— Não — nem pensa duas vezes antes de me responder. — Tenho um sanduíche aqui, quer?

— Eu não quero sua porcaria nojenta, eu quero um lugar decente para comer.

— Que ridículo da sua parte, senhor Lee!

— Tem como me economizar, por favor?

— Se eu parar em algum lugar para você comer, fica sem reclamar? — ele me olha rapidamente.

— Tudo bem, mas quando eu… — ele me interrompe ao repentinamente acelerar.

Pronto, é o jeitinho dele de me mandar calar a boca agora.

Então fico quieto. Leva só alguns minutos para o carro parar e vou confessar que essa sensação é apaziguadora. Aparentemente ele decidiu ir num dos restaurantes que Jaehyun indicou na agenda, o que me deixa extremamente confortável. Eu nunca vim aqui, mas só em ver o lado de fora me deixa satisfeito.

— Você vai comer aqui mesmo? — questiona Ten.

— Qual o problema?

Ele põe as mãos dentro da calça e depois dá de ombros. Volta para pegar um pacote de alumínio dentro do carro e silenciosamente me segue. Claro, eu peço ajuda para me comunicar, já que ele provavelmente sabe tailandês. A verdade vem clara: o bendito Ten na verdade é tailandês e por isso ele falou tão fluente na entrada. Isso me deixa de certa forma confortável, porque não preciso me virar sozinho.

Confortável numa mesa com uma bela vista para a rua, eu faço o meu pedido e, quando pergunto ao Ten o que ele quer, apenas abana a cabeça e resmunga que não quer nada.

— Vai ficar com fome? — pergunto, assim que o garçom se afasta.

— Eu trouxe meu sanduíche. Mais prático, mais rápido…

— Qual o seu problema com tempo?

— Nenhum — ele dá de ombros, ao passo que desembrulha o alumínio. — Por que acha isso?

— Você quer ser rápido — concluo.

— Tempo é dinheiro.

— Está tão desesperado assim por dinheiro?

— Você não, né? Você não precisa se preocupar com isso.

Solto um suspiro e cruzo os braços. Não vou discutir, não quero me ocupar com isso. A verdade é que não sinto que conheço ele o suficiente para fazer alguma conclusão ou discutir sobre nossas vidas. As coisas são do jeito que são. Não tenho culpa por nada.

— Vai ficar calado só porque percebeu que estou com razão? — Ten rompe o silêncio.

— Não é sobre ter razão. Só estou comentando…

— Julgando — me corrige. — É algo diferente.

Ele fica me olhando com essa expressão de divertimento e sabichão. Eu odeio ele por isso. Eu sinto que odeio.

Apenas reviro os olhos e aguardo meu pedido chegar. Enquanto isso, Ten está comendo o sanduíche em silêncio, olhando pelo vidro do restaurante. Ele checa o relógio preto no pulso algumas vezes, como se estivesse ansioso ou quisesse logo ir embora. Eu não tenho medo de estar interrompendo ele ou algo do tipo, então não comento nada. Também, aproveito esse momento de silêncio para avaliar melhor minhas opções. Com sorte, amanhã de manhã posso conseguir um outro táxi ou até mesmo entrar em contato com Jaehyun sobre o assunto. Ele continua não recebendo minhas mensagens.

— Vou ali — Ten de repente embrulha o sanduíche, se levanta e sai do restaurante, virando a esquerda em seguida.

Ele não me deu nem espaço para responder, apenas saiu. Então eu fico aqui sozinho. Claro, tem outras pessoas no restaurante, mas mesmo assim me sinto sozinho. E quando meu pedido chega, eu como sozinho. Era de se esperar, na verdade, que esse meliante me largaria de mão na primeira oportunidade. Só que a questão é que talvez eu esteja sentindo muita falta de Jaehyun agora. Queria que ele estivesse aqui. Ele nunca me deixa comer sozinho.

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora