Pedi que, se vamos escutar rock o caminho todo, que por favor coloque uma música leve de The Beatles. Discutimos por cinco minutos ininterruptos e depois tive que escutar Here Comes The Sun por uma hora inteira. Eu não aguento mais! Eu vou me jogar da janela do carro e eu não estou brincando.— Ten, por favor… — finjo um choro. — Me deixa mudar, ou eu vou arrancar esse aparelho e jogar fora.
— Aí você me paga por ele.
— Vale muito a pena! — me inclino para desligar o rádio.
Ten me dá um tapa na mão e dessa vez eu rio, mas seguro sua mão e avanço de novo. Dessa vez consigo apertar para desligar e agradeço aos céus por isso.
— Não! — grito quando vejo-o fingir que vai ligar de novo. — Você disse que seríamos amigos até nos matarmos. Você quer que eu te mate agora?
— Acha uma boa ideia? — ele põe a mão de volta no volante.
— Honestamente, sim — falo, mesmo que ele sorria levemente com isso.
Depois disso, que nem da outra vez, afasta a franja dos olhos e fica sério. Eu achava que era um acontecimento isolado, mas se repetiu. Não compreendo do que se trata, porém espero que seja algo bom. É bem repentino.
Fico quietinho até o momento em que paramos numa lanchonete barata de uma província que não faço a mínima ideia do nome. Por sorte, Ten come comigo, ao invés de sumir. Mas não falamos nada que não seja sobre o que iremos pedir ou quem irá pagar. Após o café da manhã atrasado, caímos na estrada de novo. Deixo a janela aberta e o vento sacode minha roupa. Eu troquei no banheiro da lanchonete, então agora estou usando apenas uma camisa de algodão branca e uma bermuda marrom escuro. Eu não trouxe muitas roupas e gosto muito de trocar. Qualquer coisa eu repito quando não tiver mais nenhuma.
No meio do nada, chupo a balinha de melancia que Ten me deu mais cedo. Ela é gostosa até. Meu corpo está cansado de só ficar sentado, então eu sugiro pararmos em alguma coisa legal que está na lista que Jaehyun mandou a ele. Ten diz que só está seguindo a rota que Jaehyun deu e que isso já é o suficiente. Ele não quer parar numa plantação aleatória para ficar vendo mato crescer. Foram as palavras dele.
— Pelo menos vamos tentar esticar um pouco as pernas… — tento convencê-lo.
— Bote as pernas pra fora da janela e você consegue esticar.
Sinceramente…
— Escuta aqui, Ten, eu sei que você não está nem aí para o meu bem estar, mas saiba que é melhor você fazer o que eu mando, porque…
— Shh! — ergue o indicador direito.
— Não me mande calar a boca!
— Você está ouvindo isso? — olha-me preocupado.
Fico quieto. Escuto, baixinho, pequenos baques ou estouros vindo de algum lugar. Olho ao redor, mas não tem nada senão mato. Não deve estar vindo de lá. No nosso lado esquerdo tem uma espécie de ribanceira, mas não parece fazer barulho algum. E então, repentinamente o carro morre e a resposta fica bem na cara. Meu desespero me faz abrir a porta e pular para o lado de fora. Eu não sei o que está acontecendo.
— Calma, Taeyong — Ten sai do carro e caminha até o capô, o qual abre para checar a situação. — É só uma besteirinha…
— Ah, claro! — reviro os olhos e cruzo os braços.
Lentamente caminho para longe do carro, porque desde o início eu falei que esse negócio não iria prestar. Ou esse carro vai explodir até o final da viagem, ou vai desmontar. Eu não minto, não invento, eu sempre falo a verdade. Se eu tivesse ido de avião as coisas seriam diferentes… Mas, não, eu tive que inventar ir de carro. Se arrependimento matasse…
— Vou dar um jeitinho aqui! — eu nem vejo o rosto de Ten quando ele diz isso, porque o capô está cobrindo.
— Oh, Ten! — chamo-o.
— O que é?
— Isso é um carro ou um fogão?
— Quê? — ele põe o rosto pra fora e eu consigo ver sua expressão confusa.
— Porque vai pegar fogo daqui a pouco…
Ele revira os olhos no mesmo instante e, antes de se inclinar para cutucar o carro, ele levanta o dedo do meio. Veja só a ousadia dele! Não acredito que Jaehyun contratou uma criatura desrespeitosa para me levar até Pequim. Ainda mais porque eu não ando com alguém como ele. Se eu pudesse, largaria ele aqui com esse carro soltando pipoco e sairia com um jatinho particular. Mas, perceba, a droga do meu celular descarregou (descobri isso no café da manhã) e eu aparentemente esqueci meu carregador nas coisas de Jaehyun. Ou seja, dependo inteiramente desse “amigo” que me dá mais estresse do que alegria.
Ele volta para o carro e tenta dar partida, mas não tem êxito. E é assim que eu me sento no meio-fio e começo a pensar em todas as coisa de ruim que fiz na vida para eu ter de pagar agora. Se tivermos sorte, um caminhão da Coca-cola passa por aqui e nos dá carona. Estou com sede e não quero beber a água quente e de gosto estranho do porta-luvas do Ten. Eu nem sei de onde ela é. Nem sei de onde ele é.
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CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.ten
Fanfiction« se ten era um dos piores taxistas do país, por que é que alguém de tão boa índole como taeyong estaria dentro daquela lata-velha? » taeyong tinha apenas um compromisso naquele fim de semana: um evento acadêmico que o trouxera àquelas bandas descon...