Estou de barriga cheia, mesmo assim não deixo de comer o pudim que embalei para viagem. Como já está de noite e aparentemente o Ten nunca se cansa de dirigir, eu aproveito o milagroso silêncio para comer o resto da sobremesa. Até ofereço ao Ten, porém ele balança a cabeça na negativa. Não tem falado muito, eu percebi. Às vezes eu gostaria de saber o que se passa na cabeça dele.
Ele está com pressa de chegar a Pequim, mas já falei para ele relaxar. Honestamente, nem me preocupo mais com essa palestra. Se eu disser que houveram contratempos, posso adiar para o dia seguinte ou depois. Eu só não quero morrer sem sair desse carro. Num melhor momento eu vou falar com Ten sobre pararmos mais. Precisamos dormir num lugar decente também, comer boas refeições, ou então parar para esticar as pernas. Agora mesmo, estou exausto. Gostaria de parar um pouco e respirar.
Acho que vou falar. Sei lá. O tempo está meio fechado, parece querer chover.
— Ten — chamo. — Podemos parar um pouco?
— É melhor adiantarmos.
— Eu quero parar — falo calmamente, para que ele entenda.
Solta um suspiro e procura um lugar para dar uma estacionada. Espero apenas dois minutos até estarmos parados. E então, na escuridão do carro, eu abro a porta e saio do veículo. O ventinho fresco e úmido bate no meu rosto. Bato a porta e me encosto nela, olhando ao redor do supermercado cheio de luzes, onde estamos. Eu acho que estava precisando um pouco disso: silêncio, paz, calmaria. Por mais que eu diga que minha busca por inspiração é uma máscara, eu quero pintar essa máscara no meu rosto para que eu seja ela. Quero substituir o que está detrás da máscara. Não preciso ficar sofrendo por coisas pequenas.
— Tá bem? — escuto a voz de Ten ao meu lado. Nem vi a hora em que se aproximou.
— Uh, acho que sim — estalo os dedos das mãos e ergo o olhar para um poste que está piscando no estacionamento do estacionamento.
Silêncio.
As únicas coisas que escutamos, por um punhado de tempo, são os carros que passam e conversas de clientes aqui perto. E às vezes minha camisa é recheada pelo vento que beija bem frio, porém amante. Acho que posso escrever alguns versos sobre isso mais tarde. Ou eu possa desenhar. Queria estar em casa agora. Queria beber um cházinho quente que Jaehyun me faria, porque quando estou pensativo, ele sempre se dispõe a estar ao meu lado. Ele não está aqui. Não tenho chá para beber, nem filmes ruins para assistir. Só tenho o silêncio.
— Você quer mesmo que eu fale? — do nada, Ten me chama atenção.
Eu me viro para encará-lo.
— Sobre…?
— Sobre mim. Sobre… — ele estende a palavra, descruza os braços e levanta os dedos para simbolizar aspas: — “O que estou sofrendo” ou algo do tipo.
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CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.ten
Fanfiction« se ten era um dos piores taxistas do país, por que é que alguém de tão boa índole como taeyong estaria dentro daquela lata-velha? » taeyong tinha apenas um compromisso naquele fim de semana: um evento acadêmico que o trouxera àquelas bandas descon...