24 - Quem voa mais?

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Eu gosto de quando é noite, porque eu fico com sono e o tremor do motor parece mais uma mãe ninando

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Eu gosto de quando é noite, porque eu fico com sono e o tremor do motor parece mais uma mãe ninando. Se bem que esse motor é a maior desgraça do mundo, porque vive dando pipoco e, por isso, eu deito nos bancos traseiros para dormir segurando minha bolsa. Caso alguma coisa aconteça, será preciso apenas abrir a porta e correr. Isso se chama praticidade.

Meu jantar hoje foi uma sopinha, tudo graças à benevolência de Ten. Aparentemente ele está mais manso, mas eu não caio nessa. Daqui a pouco vou sofrer mais na mão dele, então apenas estou pacientemente aguardando o momento. A questão é que não consigo esquecer quão bonito e carinhoso ele foi mais cedo. E eu não sei o que está acontecendo comigo. O Ten é o total oposto de pessoas que me atraem. Totalmente irresponsável, arrogante, o carro é uma droga caindo aos pedaços, só usa roupa preta e só escuta música barulhenta. Nada contra rock, mas isso não deveria ter ficado nos anos 80?

— Que diacho de música é essa, Ten? Eu não tenho paz nem à noite? Estou querendo dormir.

— Durma. Ninguém está te impedindo.

— A música está.

— Que pena — ele aumenta o volume.

Está vendo aí como ele me maltrata?

Silenciosamente, foco meus olhos no teto e lentamente fecho os olhos. Vou ter que dormir de qualquer jeito. E de qualquer jeito o Ten estaciona o carro em algum lugar, depois tira o cinto.

— O que teve? — pergunto, sem nem abrir os olhos.

— Vou comprar água — responde.

— De madrugada?

— Sim.

Solto um suspiro.

— Vá na sombra.

Ele reclama um palavrão em tailandês e depois sai do carro. Eu continuo aqui. Mas então, do nada, surge uma epifania: e se eu simplesmente desligar o rádio para ter um pouco de paz? Isso mesmo! Se isso não for genial, eu não sei mais o que é.

Já vou me levantando e, assim que abro os olhos para achar o rádio, Ten está voltando para o carro. Finjo que não estive tentando fazer nada, afinal ele não pode desconfiar.

— Essa compra foi bem rápida, né? — comento despretensiosamente.

— Eu esqueci minha carteira — ele entra no carro, senta-se como passageiro e abre o porta-luvas.

Enquanto ele mexe e remexe, eu espero pacientemente. Assim que ele sair, eu já vou meter a mão no rádio e desligar. Estou fazendo um bem danado para a humanidade. Mas acho que vai levar tempo, porque ele fechou a porta do carro.

Como ele está demorando horrores, pego meu celular para fingir estar ocupado com alguma coisa interessante. Não tem nada de interessante, claro, só vácuos que estou colecionando e minhas fotinhas legais. Inclusive, acho que sou um bom fotógrafo do céu. Todas as minhas fotos ficaram divinas, modéstia a parte.

CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.tenOnde histórias criam vida. Descubra agora