Eu vim à Bangkok apenas para prestigiar o trabalho de um artista que deveras admiro. Ontem fui à sua exposição numa galeria de artes e, ainda mais, pude fazer um pouco de turismo com Jaehyun. Honestamente, estou ligeiramente cansado de viagens, sendo esta a última que farei daqui a um tempo. Quero apenas descansar em casa e apenas. Ademais, já tenho algumas ideias para o meu novo trabalho. Só preciso chegar em casa, relaxar e pôr a mão na massa. Literalmente. Ultimamente tenho sido perseguido por uma vontade implacável de esculpir algo. Vou pensar melhor no assunto.Por ora, checo a mensagem com o número da placa que Jaehyun me mandou por mensagem e fico aguardando o tal táxi que irá me levar. Eu não vou dizer que ele está atrasado, longe disso… Além do mais, eu que vim cedo. Nem era para eu estar aqui antes, porque Jae me deixou uns 40min mais cedo para que pudesse pegar o avião. Ele estava atrasado, então eu o perdôo. Está tudo bem.
O taxista deve me pegar às exatas 15:30. Ainda faltam quinze minutos. É chato esperar, mas eu gosto de olhar ao redor e ver como tudo está se movimentando. Encontro inspiração em coisas comuns, por isso tenho os olhos atentos para tudo. Durmo acordado, não nego, porém faz bem à minha consciência. Eu tenho essa mania de divagar, talvez ainda não tenho passado da infância. Veja só: uma folha solitária e alaranjada está caindo da árvore do outro lado da rua, mas antes de pousar ao chão, fica presa no aro de uma bicicleta do garoto que passa às pressas e eu sei que nunca mais irei vê-la de novo.
Não sei quanto tempo passa com as minhas observações, só sei que sou surpreendido com uma buzina endurecedora e, quando me viro para checar que raios está acontecendo, um carro maluco está vindo na minha direção em alta velocidade. Sim, é isso mesmo! Ele está rápido, fora de controle, não parece que irá desviar ou frear. Fico em pânico, meu coração bate rápido e mal sei o que pensar. Nunca antes me aconteceu isso, o que devo fazer? Minhas pernas bambas tem que me guiar agora. Literalmente dou um pulo e corro para longe do poste que eu estava encostado, e justamente é nele onde o carro para. Ou melhor, bate. Ele dá uma encostada no poste, mas é o suficiente para que o para-choque arrebentado caia no chão.
Mas que merda…?
— … muito ineficiente! — uma mulher enfurecida sai do carro e bate a porta com força. Ela está falando em inglês. — Eu não vou te pagar por isso.
— Ah, vai sim! — repentinamente, o motorista sai do carro também e eu passo a analisar a situação.
Eu deveria estar bem longe daqui, afinal esse maldito quase me atropelou, mas esse fato me faz ficar mais ainda interessado na situação. Enquanto regulo a respiração (a adrenalina ainda está correndo pelo meu corpo), percebo se tratar de um táxi. Não sei qual o modelo do carro, sou péssimo com essas coisas. Mas sei que é um carro meio antigo, porque essa coisa está em pé por pura graça divina. Estou sendo generoso ainda. Essa lata-velha está toda remendada e o para-choque no chão da calçada é o menor dos problemas desse cara.
— Quase me matou! — a mulher ainda grita.
O moço simplesmente segue-a pela rua e eu fico sem saber o que fazer. É um caso de abuso? Não sei, prefiro não me meter sem ter certeza. Eu diria que seria cômico ver esse cara passar vergonha na rua com mulher, ainda mais porque o cabelo dele é super verde florescente, mas ele quase me atropelou e risada nenhuma irá apagar isso. Estou pensando em fazer um boletim de ocorrência. Há alguma delegacia por aqui?
— Pois eu fiz o que você pediu para que eu fizesse — o motorista ainda diz.
— Ok, mas só porque chegamos cedo — ela arranca a carteira da bolsa e retira algumas cédulas. — Nunca mais vou com você.
— Quando aparecer dizendo que mudou de ideia, saiba que eu não guardo mágoa! — ele sorri e pega as cédulas na mão dela.
Mesmo recebendo um dedo do meio, ele sai andando até parar ao lado do carro. Põe o dinheiro em algum lugar dentro do veículo e sai para averiguar a situação do para-choque.
— Com licença — me aproximo, chamando sua atenção em inglês. Eu sei lá que idioma mais ele fala. Meu tailandês é um lixo.
Ele não escuta. Ou melhor, ele finge que não escuta. O desgraçado está fingindo que eu não existo. Está tudo bem. Não vou me estressar com isso. Há muitas pessoas ignorantes nesse mundo, estou cansado de lidar com elas. Acredito que o karma pode dar certo com esse aí.
Desbloqueio meu celular e checo, de novo, a placa que Jaehyun me mandou. Percebo que não é bem uma placa exata, está literalmente “placa tal ou placa tal”. Como assim “ou”? Ou ele não sabe exatamente o número da placa do motorista ou esse motorista tem uma dezena de placas? Isso é confuso. Confuso demais.
— Essa merda… — escuto o bandido do motorista barbeiro resmungar em mandarim à minha frente.
Eu decido ignorá-lo também, já que ele quer brincar desse joguinho. Mas a questão sai do controle quando, depois de um tempo, ele aparece com uma fita isolante larga e preta para prender o para-choque. Sim, isso mesmo. Ele vai prender o para-choque com fita isolante. Eu até solto uma pequena risada por pura pena, porém me controlo no segundo seguinte.
Começo a olhar ao redor, ver qualquer táxi que passa por aqui, só para ter certeza de que estou esperando alguém real mesmo. Ninguém bate com as informações dadas por Jaehyun. Já são 15:35. Eu não gosto de atrasos. E esse maluco está gastando o rolo inteiro só para prender uma droga de para-choque. Nem é que estou odiando ele de graça ou algo do tipo. É que o homem quase me matou! Eu não posso perdoar facilmente, não. A menos, claro, que ele venha pedir desculpas gentilmente. Mas eu duvido. O modo o qual se porta, se veste e também como me ignorou mostra que ele não é uma pessoa muito amigável e decente. Prefiro ficar longe de gente assim.
O telefone dele toca, chamando minha atenção. Ele interrompe o que é que fazia no carro e se encosta na porta para atender. Eu ponho os olhos nas suas ferramentas jogadas na calçada e, num sobressalto, quase transpareço aversão. Ele está trocando a placa do veículo. Exatamente isso, em plena luz do dia, no meio de uma rua movimentada. O maluco prendeu o para-choque com fita adesiva e ainda está trocando a placa do veículo!
Estou prestes a ir embora de fininho quando percebo uma coisa: os números da placa que ele está tirando, bate com os números que Jaehyun me mandou. E ainda tem mais… A placa nova que está jogada no meio fio também corresponde ao que Jaehyun me mandou. Mas o que está acontecendo aqui?
— Certo, certo… — escuto-o dizer em coreano.
Estou perdido em quantos idiomas ele fala.
Engulo em seco, aperto minha bolsa contra meu peito e penso em pegar outro táxi. Mas não dá tempo. Ele logo põe os olhos em mim, desliga o telefone e se aproxima confiantemente.
— Você que é Lee Taeyong? — diz em coreano quase perfeito, então olha-me de cima a baixo. O que isso quer dizer, afinal?
— Por quê?
— Eu que vou te levar a Pequim. Entra no carro — então se vira, abaixa-se e volta a fazer a adulteração da placa dele como se fosse normal.
— Eu não vou a Pequim com você — cruzo os braços. — Você quase me matou! Não viu que praticamente me atropelou?
— Sabia que nem todo atropelamento mata? — olha-me por cima do ombro.
— E se eu morresse?
— Ora, seria uma pena — ele termina de encaixar a placa falsa e então se levanta com algumas ferramentas. Nem vi a hora que ele apareceu com elas. — Vamos logo, tenho pressa…
Este ser deplorável guarda suas bugigangas dentro do porta-malas e depois entra no carro. Eu não entro, fico do lado de fora. Eu tenho muito pelo que viver, para simplesmente correr risco com um louco inconsequente que pinta as unhas e tem cabelo em cor artificial.
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CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.ten
Fanfiction« se ten era um dos piores taxistas do país, por que é que alguém de tão boa índole como taeyong estaria dentro daquela lata-velha? » taeyong tinha apenas um compromisso naquele fim de semana: um evento acadêmico que o trouxera àquelas bandas descon...