Sinto um toque esquisito no meu cabelo, como se alguém quisesse bagunçá-lo. Como não gosto de quando fazem isso, balanço a cabeça. Mas não adianta. A pessoa mexe de novo e eu sou obrigado a abrir os olhos. Meu corpo está cansado ainda, talvez porque fui dormir extremamente tarde.
— Oi — Ten me cumprimenta assim que abro os olhos.
Ele está sentado na cama, ao meu lado, olhando para o meu rosto enquanto tem a mão estendida na minha cabeça. Foi ele quem me acordou mexendo no meu cabelo.
— Ah, oi — me movo na cama e giro meu corpo para que fique virado para cima.
Ten recua, mas continua me olhando.
— Você apagou lá no sofá, então eu te fiz vir ao quarto. Você estava morto de sono.
Coço os olhos ao concordar com a cabeça.
— Você dormiu onde?
— No sofá.
— Ah…
— Te acordei, porque precisamos ir logo. Vamos só tomar café da manhã bem rápido e ir embora. Já gastamos tempo demais dormindo.
Ele se levanta e sai do quarto. Eu fico aqui sozinho, em silêncio. Levanto-me com preguiça e vou ao banheiro. Meu cabelo, de fato, está bagunçado. Levo algum tempo escovando os dentes (levei tempo para achar a escova e creme dental na minha bolsa) e só quando estou abrindo o chuveiro que me dou conta de que Ten literalmente me acordou fazendo carinho no meu cabelo. Ele não estava bagunçando, era só um jeitinho de fazer carinho. Meu Deus do céu!
Na próxima vez que olho-me no espelho, estou com o rosto corado por conta disso. Recordo-me do nosso abraço duradouro ontem. E eu nem sei o que fazer com essa gama de informação. Ontem quase morri do coração. Não vou negar, sabe? Eu gostei do nosso momento. Vai rolar de novo? Não sei. Sinto-me animado e isso nem faz sentido. Também, eu me sinto animado por tudo e todos. Qualquer pessoa que é legal comigo eu acabo nessa palhaçada de ficar sem graça e envergonhado. Eu deveria ter um pouco de senso.
Visto-me com uma camisa de manga curta de veludo marrom e uma calça preta. Quando saio do quarto com minhas coisas e cabelo penteado, encontro todos comendo o café da manhã.
— Aqui — Ten gentilmente me puxa para sentar ao lado dele.
Nisso, eu observo seu rosto e percebo que seu cabelo está meio rebelde hoje. E tem lápis de olho ao redor dos seus olhos. Eu nunca tinha visto ele de maquiagem, então isso me deixa meio distraído. Seu olhar fica ainda mais penetrante quando está assim. Não sei como explicar melhor.
— Hoje vamos almoçar num desses restaurantes de gente besta que você gosta — é o que me diz, ao pegar uma torrada e encher de geleia.
— Não é de gente besta.
— Se você está gastando muito em um fiapo de macarrão, sim, você é besta — então me entrega a torrada.
— Oh, você está sendo tão bonzinho hoje…
Ten sorri pra mim, mesmo que esteja pegando o açúcar para a avó dele.
— A resposta vai ser na velocidade de hoje.
— Espero que você não me mate.
— Acho uma boa fazer inúmeros crimes, mas assassinato não é bem a minha praia. Porém, posso mudar de ideia até o final da viagem.
Solto um falso suspiro impaciente e ele sorri mais com isso. Lindo. Ten é terrivelmente lindo.
Comemos em silêncio, ao contrário do jantar, que foi cheio de conversa. Só que mal termino de comer e já sou puxado por Ten, que insiste em dizer que devemos ir logo (observação: o sol nem nasceu completamente ainda). E então, cordialmente me despeço dos avós de Ten e praticamente sou chutado para longe da casa quando estou agradecendo pela hospedagem, comida e hospitalidade. Eu não sei bem como vai ser nós dois agora, porque estamos menos violentos que antes. As coisas realmente mudam quando conhecemos um pouco as pessoas. Pelo menos ele parece se importar mais comigo.
Abre a porta para mim, super cavalheiro. Aceno para os avós dele que estão na porta de entrada. Queria me mostrar mais grato, porém tenho medo de ofender eles de alguma forma. Acho que um sorriso e uma animação ao agradecer são suficientes e não doem em ninguém. Pelo menos eu acredito nisso.
Aqui no carro, eu resmungo que essa lataria vai desmontar no caminho, então brigamos por alguns minutos a esmo, enquanto Ten liga o motor e acelera para longe daqui. Compreendo que não há como água virar vinho da noite para o dia, porém eu jurava que poderíamos conversar mais hoje também. Foi bom aquilo ontem. Quero escutá-lo falar mais vezes. Pelo menos não brigando comigo ou me chamando de fresco e “patty”.
— Ten — chamo-o. — Você também está sofrendo agora?
Rapidamente olha para mim, sua expressão parece meio confusa, porém fica mais leve quando põe os olhos na pista.
— Sim.
— Pelo quê?
— O preço da gasolina aumentou.
Reviro os olhos.
— Eu não quis dizer isso…
— Eu sei, eu sei — ele sorri. — Acho que não.
— Ah, sério isso? Me abri pra caramba ontem, fiquei nu na sua frente.
— Você ficou nu na minha frente e eu não vi? — ergue as sobrancelhas por puro exagero e eu acabo rindo. — Da próxima vez, eu abro os olhos...
Meu riso congela e o dele também, após segundos. Ele se toca do que falou, então fica sério. Muda de marcha, ainda sério. Eu estou olhando seu rosto ganhar rubor agora. Ele está fingindo que não falou nada de mais? Se ele estava fazendo piadinha com a palavra “nu”, levando no literal, significa que essa de abrir os olhos na próxima vez também é literal? Eu engulo em seco porque não encontro mais nada para fazer.
Preciso beber água urgentemente. Essa informação é demais para mim.
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CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.ten
Fanfic« se ten era um dos piores taxistas do país, por que é que alguém de tão boa índole como taeyong estaria dentro daquela lata-velha? » taeyong tinha apenas um compromisso naquele fim de semana: um evento acadêmico que o trouxera àquelas bandas descon...