Estou com a camisa suja, o cabelo sujo, o corpo inteiro sujo. Estou um caco, quero um banho. Na verdade, quero mesmo a liberdade. Quero ser livre. É tão engraçado o modo com que tentam nos prender fisicamente, mas nunca conseguem parar nossos pensamentos ou acorrentá-los. Eles são livres e pertencem a mim. Ninguém pode tomar isso. Eu estou me vingando de todo mundo com a minha cabeça.
— Toma aqui — Jaehyun joga um colchão de ar no chão ao meu lado. — Para você dormir.
— Você acha que isso é o suficiente?
— É o máximo que podemos lhe dar.
Viro o rosto para Johnny.
— Eu quero falar com meu pai. Me deixe falar com meu pai.
— Relaxa, amanhã você fala com ele — Johnny responde. — Vamos gravar um vídeo.
Solto um suspiro por puro cansaço. Lentamente, deslizo o corpo até estar sobre o colchão. O que ninguém sabe, na verdade, é como meus braços doem assim. É uma dor tão insuportável que você se acostuma. No entanto, obviamente, às vezes me dá uma vontade de arrancar essa corda dos meus pulsos. Não tenho mais forças para tentar tirar.
Aparentemente, Ten nota minha luta para me mover com esse braço amarrado. Ele diz:
— Devíamos soltar as mãos dele.
— Sem chance! — algum dos homens que não conheço exclama.
— Se tivermos uma corda maior, podemos amarrar uma das pernas dele a alguma coisa da construção. Assim, ele ficará preso, mas pelo menos irá conseguir comer sozinho ou dormir de maneira decente.
— A gente devia mesmo era dar um murro nele. Aí o pai dele verá no vídeo que não estamos brincando. Ele não deveria estar dormindo em colchão, deveria estar no chão mesmo. E é bom que chore no vídeo.
— Cara, sinceramente, por que você tem que ser tão cruel? — Ten se vira na direção dele.
Eu ignoro eles e deito de lado no colchão. Essa posição é uma merda. Fecho os olhos.
— Eu quero que consigamos o dinheiro, ora.
— Podemos conseguir o dinheiro sem matar o moleque! — a voz do Ten me chamando de "moleque" todo bravo me faz rir de ironia. Olha que ironia.
— Cala a boca logo! — eu reclamo. Meu rosto fica quente, então dou um impulso de raiva no corpo para conseguir me sentar da maneira mais rápida que posso. Tive que dar um salto. — Vocês não sabem nem sequestrar! Pelo amor de Deus, só cala a boca. Se vão mesmo fazer isso, pelo menos façam direito! Burros! Vocês são burros!
— Ai, ele surtou… — Ten resmunga, perto de Johnny.
— É isso mesmo! Se quiserem me bater, vão em frente. Se quiserem me soltar ou, sei lá, me prender de novo… porra, façam logo! Agora, por favor, parem de ficar enchendo o saco falando toda hora, porque eu não aguento mais! Se quiserem me sequestrar, pelo menos façam com que pareça um retiro de férias! Se estão com medo de me ver fugir, por que não começam a me tratar melhor? Eu não me importo com quanto vão arrancar dos meus pais, eu só não quero que me deixem aqui pra morrer quando essa merda der errado. Eu não vou fugir se não pararem de me bater, me deixar sem comer ou ameaçar me matar. Porque eu juro, eu juro que se eu sair com vida daqui, eu vou me vingar de todos vocês!
— Calma, Taeyong… — Jaehyun fala.
— Principalmente de você, Jaehyun. Tenha certeza de que vou tornar sua vida num inferno. Estou dizendo e você sabe muito bem… meus pais têm poder o suficiente para foder a sua vida. Eu poupo sua mãe, mas eu acabo com você. Eu não estou brincando.
— Tá, tá… calma, anjo — Ten vem até mim, aí engatinha pelo colchão para conseguir me envolver com os braços.
— Para de fingir que as coisas estão bem, Ten! — tento afastar dele, mas não consigo. O maldito continua me abraçando. — Eu não gosto mais de você. Não ficou claro?
— Eu não quero que você goste de mim, eu só não quero que você se machuque mais do que já está. Eu juro.
— Para… — abano a cabeça.
— Fica quieto — afasta-se, quebra o abraço, mas ainda continua no colchão. Ele se move até estar atrás de mim e sinto seus dedos no meu pulso.
— O que você está fazendo? — Johnny vem até nós, como se temesse as ações de Ten mais que tudo.
— Soltando ele — Ten responde.
Eu penso que ele irá desamarrar, mas não. No instante seguinte, Ten dobra a perna na minha lateral esquerda. Não vejo seu rosto, uma vez que ele ainda está atrás de mim, mas sei que ele se curva para conseguir enfiar os dedos dentro do cano alto do tênis. De dentro do tênis, ele arranca um objeto que até então não consigo identificar qual é. Só que, repentinamente, ele faz uns movimentos com os dedos e surge uma lâmina. Ah, claro, um canivete que não parece canivete enfiado no tênis. Bem a cara do Ten mesmo.
Não consigo mais ver o canivete quando ele o traz para si. Apenas sinto a corda se desfazer ao redor dos meus pulsos e eu poder puxar meus braços. Estão dormentes e doloridos. E meus pulsos estão extremamente vermelhos, todos marcados e minha pele está parecendo que foi lixada. Noto a presença de rastros de sangue, o que explica toda a ardência. Minhas tentativas de me soltar me fizeram sangrar e eu nem percebi que havia acabado com minha tez. Não sei como somo tão idiotas quando desesperados por sobrevivência.
— Vê se dorme — uma puxada no meu cabelo me faz tremer de medo. Estou suando frio, mesmo que seja Ten fazendo isso. Chega mais perto da minha orelha para sussurrar: — E não fuja sozinho. Não fuja. Sozinho. Sozinho, não.
Ele me deixa de qualquer jeito sobre o colchão, porque se levanta com o canivete e o pedaço de corda na mão.
— Ok, agora que te soltamos… você vai cumprir com o que disse — Johnny me diz. — Mas vamos ficar de olho. E se você tentar alguma coisa, teremos que… agir.
Eu não gostei dessa hesitação dele em falar. Mesmo assim, concordo com a cabeça. Deito-me de novo no colchão e fico com a cabeça matutando o que Ten me disse: “não fuja sozinho, não fuja sozinho”. Mordo meu lábio e encaro o piso empoeirado. Não sei o que devo fazer.
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CRAZY TAXI (BY MISTAKE) ✘ tae.ten
Fanfiction« se ten era um dos piores taxistas do país, por que é que alguém de tão boa índole como taeyong estaria dentro daquela lata-velha? » taeyong tinha apenas um compromisso naquele fim de semana: um evento acadêmico que o trouxera àquelas bandas descon...