Capítulo 3

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Jonathan foi à minha casa conforme o prometido. Mas era engraçado, ele dizia que não reparava na simplicidade, mas reparava sim, apenas se esforçava para não demonstrar. Ele chegou animado, falou com minha mãe, disse que era meu amigo do terceiro ano e que eu ia à casa dele. Exagerou bastante no nosso nível de amizade. Eu o convidei ao meu quarto e ele se sentou na minha cama olhando em volta.

No começo, faltou assunto. Conversamos basicamente sobre estudos, Jonathan sempre frisando que o pai exigia que ele passasse num vestibular para medicina naquele ano. Eu achava uma exigência absurda.

— Como é lá na sua casa? — perguntei com cautela.

— Ah... — Jonathan suspirou e olhou para baixo, depois me olhou forçando um sorriso. — É o contrário de bom.

— Puxa... E se você não conseguir passar?

— Bye bye cursinho, inglês, e qualquer coisa que ele tenha que pagar.

— Isso não faz nenhum sentido.

Jonathan não comentou. Em silêncio, ele foi pra janela e ficou olhando o espaço que havia entre a parede da casa e o muro pintado de verde escuro. Estendeu a mão até alcançar uma flor.

— É muito bonito aqui. Parece uma floresta.

Eu estava atrás dele e me aproximei para também ver lá fora.

— É, todo mundo fala isso. São as plantas da mamãe.

Apesar da decadência da construção, o muro quase caindo, aquele lugar era impressionante. As plantas eram tão lindas que as pessoas paravam na rua, do outro lado do muro baixo, para ver. Minha mãe cuidava de tudo com muito carinho.

Por falar em mãe, ela estava saindo com seu porta-moedas bordado, a saia comprida até o meio das panturrilhas e o cabelo preso por grampos num coque, uma típica senhora da igreja.

— Ela tá indo no mercado. Deve que quer fazer um bolo ou coisa assim.

— Por minha causa? — Jonathan se virou para me olhar, então dei um passo pra trás para aumentar a distância entre nós. — Eu não vim pra incomodar. Tenho que ir embora.

— É pra gente, ué. Fica aqui ou ela vai achar desfeita. Você não fica sozinho em casa às terças? Então não tem ninguém pra te encher.

— Tá, eu espero.

De frente para mim e de costas para a janela, os cotovelos apoiados no parapeito e as pernas abertas, Jonathan ficava ainda menor. Nossa diferença de altura era grande. Depois de um tempo me contemplando em silêncio, ele estendeu a mão até meu antebraço e o apertou com dois dedos.

— Você faz musculação?

— Não. Por quê?

— Faz serviço pesado?

— É, eu tô fazendo. Quinta, sexta e sábado eu trabalho no mercadinho. Tem caixas de verduras pra carregar.

Ele subiu a mão e apertou meu bíceps, e escorregou os dedos até a parte posterior de meu braço, que era a mais desenvolvida.

— Tá te fazendo bem, viu? Parece musculação.

— E você aí babando. — Enrijeci os músculos. — Lembra daquela vez que você ficou me tirando na Educação Física e eu te peguei e te levantei com um braço só?

— Lembro. Exibido! E ainda dizia que era meu amigo.

— É porque você era chato e se achava o sabidão. Começava a falar e não parava mais.

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