Depois de muito pensar, remoer, roer as unhas, decidi entrar em contato com Jonathan. Não pelo telefone, porque eu ainda estava no trabalho, mas pelo MSN. Eu tinha o e-mail dele, mas nunca tínhamos conversado por ali. Não foi surpresa encontrá-lo online.
"Oi. Vi seu Orkut" — enviei.
A resposta dele veio colorida e animada.
"Oi, Dan! Que bom que você está aqui"
"Estou trabalhando. Mas vi seu Orkut"
"Eu te liguei. Você não me atendeu."
"Desculpe, eu tô meio confuso. Não queria falar com você"
A cor sumiu e a animação também.
"O que tem demais no meu Orkut?"
"Tudo, né. Festas, meninas, amorzinho pra cá, amorzinho pra lá. Achei estranho. Não parece você."
... Jonathan está digitando...
Eu estava ocupado, então a longa resposta de Jonathan teria que esperar. O frio no estômago tinha atingido meu peito, meus dedos, minha cabeça. Eu estava aéreo, cansado. Queria me deitar. Por sorte eu estava sozinho naquela sala. Seria ruim se eu tivesse que ficar sorrindo em um balcão como se estivesse tudo bem.
Quando voltei à conversa com Jonathan, eu me surpreendi com a resposta simples e curta.
"Eu sou fiel a você"
Fiquei confuso. Por que ele tinha dito aquilo? Seria em resposta a alguma coisa que eu tinha falado? Lembrei da Mara perguntando.
Sem saber o que dizer ou fazer, eu não respondi mais no MSN e continuei não abrindo as mensagens de texto no celular. Só à noite, depois de todas as aulas, eu aceitei a ligação dele porque não dava mais para continuar ignorando. Antes de tudo, eu gostava daquele sem-vergonha, e queria conversar com ele.
— Dan! Achei que você não fosse mais falar comigo. — A voz dele saiu abafada, fungando.
— Faz diferença pra você?
— Claro que faz! Por que você tá assim? Eu não fiz nada, caramba!
— Qual daquelas lá é a sua namorada?
— Dan, de onde você tirou isso? É aquela sua amiga, não é? Ela não gosta de mim e fica dando ideias.
— Essa conversa não vai levar a nada, Jonathan. Acho que você tá fingindo que não entendeu o meu susto.
— Não tô fingindo! Eu só fico com você, Dan. Todo mundo aqui sabe que eu sou comprometido; com quem, não interessa. É da minha conta. É da nossa conta só.
— Olha, é meio difícil acreditar que ninguém sabe com quem você namora. Você vive em festas, sempre cercados das mesmas pessoas. Umas mais do que outras. Me explica isso. Eu avisei que pra gente namorar, eu não ia querer palhaçada.
— Dan, na foto qualquer reuniãozinha boba parece uma festa. Algumas são antigas.
— Por que você não fala a verdade, Jonathan? Tem umas coisas que não batem, e não é Mara quem tá me dizendo isso.
— Eu tô falando a verdade! Dan, não vamos ficar brigando de longe. Eu vou sábado agora e a gente conversa. Eu não tô fazendo nenhuma palhaçada com você.
— Sábado agora? Mas tem pouco mais de uma semana que você veio.
— Eu consigo uma grana, eu dou um jeito. Você vai parar de me ignorar?
— Eu vou esperar e a gente conversa, Jonathan.
— Você vai me responder?
— Eu cheguei em casa aqui. Boa noite.
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Temporais
RomanceAlguns personagens dessa história aparecem em "Depois da Tempestade", mas não se trata de uma continuação. Não é preciso ler Depois da Tempestade antes. Quem leu, pode se lembrar de alguns spoilers. Sinopse Dois mundos opostos se encontram no fina...