Capítulo 30

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Cheguei à última casa que eu pretendia ver naquele dia. As imagens que eu tinha recebido, além das que eu já tinha visto no site, eram promissoras. A casa tinha quartos grandes, um com uma boa vista, e se fosse como nas fotos, seria um ótimo lugar pra gravar vídeos.

A rua era sossegada, a fachada era convidativa, e o aluguel era negociado diretamente com o proprietário, o que tinha algumas vantagens. E algumas desvantagens também. Tive que quase implorar, além de dar referências, para que ele aceitasse me mostrar a casa.

Fiz uma ligação, como o proprietário havia pedido, para dizer que eu já tinha chegado, e logo uma caminhonete grande, repleta de cromados e grandes rodas estacionou em frente. Dela saiu um homem também grande, todo tatuado, com braços que faziam os meus, que se diziam "bombados", parecerem asas de frango. Ele aparentava trinta e poucos anos, tinha cabelos pretos raspados nas laterais da cabeça, barba, cordão pesado e anéis. Era "Jack", o proprietário. Ele me estendeu a mão gigante e a apertou com força.

— Bom dia! Você é o "Oderban"? Desculpe, tenho pouco tempo. Vou abrir a casa pra você ver, mas o Iuri vai te mostrar todos os detalhes. — Ele pegou as chaves no bolso.

— Tudo bem. Vou ser rápido.

Jack não estava sozinho. Da caminhonete saiu uma garotinha de uns quatro anos e um rapaz de uns dezoito, no máximo. Esse era o Iuri.

Iuri sorriu para mim como se estivesse vendo uma celebridade. A garotinha me apontou:

— Professor Dan!

Pisquei. Como assim? Ela tinha me reconhecido?

— Sim, sou eu.

— Ela assiste o seu canal. — O jovem gaguejou ao falar. — Que legal você aqui! Eu que mostrei a ela. Sou seu fã.

— Ah, obrigado. — Fiquei sem graça. Era a primeira vez que isso me acontecia. — São apenas aulinhas de inglês.

— As melhores.

— É isso mesmo! — O imponente Jack interrompeu. — Não gosto de meus filhos vendo porco de cara torta, então mandei assistir uma coisa mais útil.

— Ah, valeu! Não acontece muito me reconhecerem por aí.

Iuri era magricelo, tinha cabelos cacheados que quase lhe cobriam os olhos, e me olhava embasbacado, doido pra puxar papo, mas envergonhado, acho que por causa do Jack. Mas ele era velho demais pra ser filho do monstro, e eles não tinham intimidade que sugerisse serem um casal. Imaginei que fosse sobrinho ou, como confirmei logo a seguir, enteado.

— Mostre a casa pro cara, Iuri! — A voz grossa do Jack fez o jovem acordar. — Eu tô com pressa.

— Ah! Sim... eu mostro.

— Se for o que você precisa, me ligue e fazemos o contrato. — Ele me estendeu a mão novamente, mas dessa vez não apertou tanto. — Você tem boas referências. Essa casa não é pra gente enrolado ou bagunceiro.

Jack pegou a filha e a colocou no banco de trás da caminhonete e foi embora deixando o jovem Iuri bem mais à vontade.

Iuri levantou a cabeça e eu pude ver seu rosto inteiro. Ele era bonitinho. Pele mais clara que a minha, sobrancelhas arqueadas, lábios cheios. E aquele jeitinho de "chave de cadeia". Do tipo que eu gostava de ver, que me fazia ter vontades, mas que eu não queria mais por perto de jeito nenhum. Nem de brincadeira.

O portão já tinha sido aberto. Um bom portão, por sinal. Havia outro, eletrônico, para entrar com o carro.

— Me sinto como se estivesse falando com uma celebridade — Iuri tentou. Sua voz saiu nervosa.

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