Temporais

Capítulo 28

Richard disse "terminamos" e desligou na minha cara. Talvez fosse o melhor a ser feito. Talvez eu devesse ter feito isso antes. Mas nosso relacionamento tinha chegado num nível de toxidade tão grande que eu já estava contaminado com ele. Ficar discutindo com Richard e depois ficar "meio resolvido" era tão normal que eu já sentia falta. Era minha rotina e minha zona de conforto.

Então, ao invés de encarar o fim já anunciado e seguir em frente, eu voltei a insistir com ele. Eu não conseguia aceitar aquele fim.

Eu poderia ter gastado meu tempo gravando vídeos, planejando aulas, mas de repente os barulhos do apartamento de cima se tornaram insuportáveis, e nenhuma das casas para alugar me agradava, e as conversas dos amigos não me atraíam mais. Aquela pessoa sensata e ponderada, que sabia deixar pra lá, estava presa num ciclo de infelicidade.

"O que mudou de um dia pro outro, Rich? Não me diga que foi apenas o temporal."

"Não quero conversar sobre isso"

"Por que você não quer conversar sobre isso?"

"Como está o Jonathan?"

"Ele está bem. Tá pra receber alta, e vai embora com a namorada dele."

"Que triste, né, ele ter namorada?"

"É a vida dele e ele está feliz. Por que isso agora? Te dei motivos para essa mudança brusca?"

E ele respondeu com rispidez, sem esclarecer nada.

Como era de se esperar, essa conversa não chegou a lugar algum. Mas eu ainda achava que aquele término tinha a ver com o fato de Richard ter passado um tempo com Loth. E isso me incomodava muito.

No dia seguinte, depois de muito pensar, acabei mandando mensagem para ele.

"Oi, amigo. Sei que você não tem nada com isso, mas Rich e eu não deu mais. Brigamos, brigamos, e foi isso."

Fiz a ligação e ele atendeu agitado, com a voz pouco firme.

— Eu não entendi bem. Vocês terminaram ou não?

— Sim, nós terminamos. Foi surpresa para mim, mesmo que no fundo todo mundo soubesse que ir dar nisso. Um dia antes a gente estava quase bem, combinando de conversar direitinho. Foi um reencontro tão bom. Eu não entendo.

— Estranho. Mas ele disse o porquê?

— Não. Eu até achei que... você sabe. — Meu coração disparou. Não era certo envolver Loth daquela forma, ele já tinha seus próprios fantasmas. — Ele é bom em arrancar respostas dos outros, respostas do jeito que ele quer ouvir. E poderia interpretar coisas pequenas como se fossem grandes, então...

— Ele chegou a perguntar sobre a gente, como quem não quer nada. Mas eu disse não e pronto. Não tinha nada mesmo, nada que valesse o estresse.

— Entendi. Mas era só isso mesmo, só... a gente sempre quer esclarecer tudo, né.

— Eu entendo.

— Está tudo bem com você?

— Sim, na medida do possível. Vou fazer uma viagem rápida e voltar para encarar mais uma cirurgia. Estou um pouco nervoso.

— Nossa! Desculpe ficar te enchendo com as minhas neuras, você aí com um problema realmente grande.

— Não, tudo bem! Seus problemas me distraem dos meus. E a gente precisa compartilhar, às vezes.

— Me ligue se precisar de alguma coisa.

— Valeu!

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