Capítulo 13

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Jonathan sumiu por uns dias, o que eu achei compreensível. Um término, mesmo amigável, mesmo com possibilidades de retorno, é sempre doloroso. Apesar das desconfianças e decepções dos últimos dias, nós tivemos um namoro gostoso, tranquilo, e encerrar isso foi duro. Foi o meu primeiro namoro e, de certa forma, o primeiro dele também.

Fui eu quem tomou a iniciativa de reestabelecer o contato. Saudades, preocupação, culpa (eu me recriminava por tê-lo feito sofrer), tudo isso me fazia ficar de olho nas mensagens que chegavam no celular, e depois de alguns dias sem notícias, me obriguei a tomar uma atitude. Mandei mensagem perguntando como ele estava, e poucos minutos depois ele respondeu. Disse que estava sentindo a minha falta. Precisei enxugar os olhos.

Nós continuamos a trocar SMS, e dias depois, voltamos a conversar pelo MSN. Não era como antes, quando tinha cobrança, confissões de desejos e trocas de "nadas" fofos. Agora havia dor e nostalgia, eu sutilmente querendo saber como ele estava, ele nem um pouco sutil em reclamar que eu tinha terminado no dia de seu aniversário. Essa reclamação substituiu a anterior, o episódio da lixeira, na época do terceiro ano.

Eu dizia que ia deixá-lo com suas reclamações, mas não conseguia ignorar nenhum de seus chamados. E quando ele não chamava, eu ficava preocupado e enviava mensagens. Às vezes a saudade era tanta que eu sentia vontade de pedir pra voltar, de pedir pra tê-lo como namorado de novo. Só não fiz isso porque eu achava que tinha feito o certo, que a gente ficaria melhor como amigos do que forçando compromissos antes da hora.

Todos que sabiam que eu namorava um garoto souberam que eu tinha terminado e que estava sofrendo por isso. Eu recebia conselhos, apoio, mas ninguém entendia por que eu quis terminar. Mesmo a Mara, que sabia os meus motivos, me olhou com surpresa.

— Você terminou mesmo com o ruivinho? Nunca achei que você fosse fazer isso. Você gostava dele!

— Sim. E continuo gostando. Só achei que seria melhor ele ficar livre, sem ter que me dar satisfação do que faz ou deixa de fazer. A gente é novo demais pra ficar fazendo voto de fidelidade, ainda mais namorando escondido, e ia chegar uma hora que ele ia aprontar lá e mentir pra mim aqui. Se é que ele já não fez isso.

— E ele disse que era melhor assim?

— Não. Ele disse que era o contrário. Aliás, ele diz umas coisas que não fazem muito sentido. Ele acha que pode fazer as coisas do jeito dele e que vai dar tudo certo, e que eu tenho que achar normal ele ter uma namorada substituta.

— E por que ele precisa disso? Ele pode fingir que não tem ninguém, como a gente faz. Finge que é amigo.

— A questão que eu não entendo é justamente essa. Parece que a família dele não aceita nem a possibilidade de ele ser gay, e eles marcam em cima. Não é como a nossa que amarra um lenço na cara pra não ver a verdade e segue do nosso lado. Ele vai ser médico, e isso é um investimento da família toda. Eu não quero ficar atrapalhando a vida dele.

— Riquinho de merda! Deixa ele com a vida dele. Você merece coisa melhor. Quando quiser, eu tenho uma dúzia de amigos pra te apresentar.

— Um dia, quem sabe.

Semanas se passaram. Jonathan estava bem, mas diferente. Muito mais rebelde. Relatou brigas e discussões com o pai, reclamou que ele não lhe dava dinheiro. Não nos encontramos, e isso me deixou com um misto de sentimentos. Eu estava com saudades, queria abraçá-lo, beijar sua boca e conferir com meus próprios olhos se ele estava bem. Ao mesmo tempo, achava melhor não o encontrar, pois nas mensagens ele insistia em pedir pra eu reconsiderar minha decisão, e dizia que sabia que eu não queria ter terminado. Às vezes ele era apelativo. "Por favor, não me abandone". Como se eu tivesse abandonado. Eu sempre estava disponível quando ele precisava.

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