Capítulo 18

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Com a ajuda de parentes e amigos, me mudei para um pequeno apartamento térreo, que ficava nos fundos de um prédio maior. A casa em que eu morei a minha vida toda estava à venda e a parte dela que me cabia não dava para comprar outra.

A mudança foi rápida. O apartamento ficou atulhado, pois fiquei com a maior parte das coisas que eram de mamãe e não estava preparado para me separar delas. Ainda bem que o local era sossegado e garantia privacidade. Eu tinha muitos vizinhos, mas nunca os via.

Morar sozinho, pagar aluguel, sofrer em silêncio... eu não estava acostumado com nada disso. Logo me dei conta de que ficaria doente se não começasse a me disciplinar: não tinha mais quem me cobrasse horários, fiscalizasse a minha comida ou brigasse por causa da toalha molhada. A roupa lavada não tinha o mesmo cheiro, o chão nunca estava limpo o suficiente, e não importava quantas vezes eu limpasse, a cozinha nunca tinha a mesma organização. A comida não foi problema nos primeiros dias, pois muitas pessoas enviaram coisas para que eu não morresse de fome. Mas em breve eu teria que aprender a me virar.

O trabalho era a única coisa que me distraía de verdade. Eu recebia muitas mensagens, tanto de amigos quanto dos meus interesses românticos, mas apenas em meus dois trabalhos, na escola e no curso de inglês, que eu conseguia esquecer um pouco minha tristeza. Ir para casa no fim do dia era sempre uma tortura.

Eu estava saindo da escola numa tarde quando o vi. Ele estava de bicicleta e parecia um dos meus alunos mais velhos. Fingi que não o vi e fui para o ponto de ônibus, pois não queria dar margem a comentários. Ele foi atrás.

A gente vinha se comunicando frequentemente por mensagens, mas não tínhamos intimidade nem tantas coisas em comum para manter o papo. Mas ele era insistente.

— Oi! — Richard parou a bicicleta ao meu lado. — Quanto tempo!

— Oi! Não tinha te visto. Que surpresa você por aqui.

— Eu vim passar uns dias em casa e saí para dar uma volta. Daí lembrei que você trabalha aqui...

— Hum. Legal... Junior.

Ele se lembrou de nossa conversa da noite da festa e sorriu.

— Que susto! Pensei que você estivesse me confundindo com outra pessoa.

— Não mesmo.

Alguns alunos se juntaram no ponto e me olhavam com curiosidade.

— Você deve fazer sucesso com as meninas... e com alguns meninos. — Ele sorriu, falsamente desinteressado.

— Engano seu. Eu sou muito exigente e eles não gostam de mim. Pode perguntar.

— Não era disso que eu estava falando... — Seu sorriso se intensificou, assim como seu olhar, que entregava suas intenções. Ele passou um dedo no logo da bicicleta.

— Você continua enganado.

— Você quase não falou comigo esses dias... Tá tudo bem?

— É, eu estava me mudando, cuidando de documentos. Meio sem cabeça pra outras coisas.

— Se você precisar de alguma ajuda, me fala, tá?

— Eu falo sim. A gente conversa melhor depois, em outro lugar. Aqui eu tô cercado de alunos, e sabe como é adolescente.

— Em outro lugar? — A voz dele denunciou o interesse crescente.

— Sim, eu te ligo quando eu chegar em casa. Daí a gente combina alguma coisa.

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