Capítulo 26

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Faltando poucos dias para recomeçar minha rotina maluca de professor, acabei convidando Loth para dar uma volta. De todas as pessoas que poderiam me fazer companhia naquele momento confuso, ele era o que me entenderia melhor. E ele não me encheria de perguntas sobre Richard; eu estava em standby em relação a meu namoro e queria apenas me distrair.

Loth carregava a conversa para o lado que ele entendia, ou seja, longe de relacionamentos, sexo, fofocas. Ele preferia assuntos culturais e financeiros. Além disso, ele estava se preparando para mais uma cirurgia e não estava feliz. Uma tarde relaxante e uma conversa despretensiosa poderia ser útil para ele também.

— Aceito o convite — ele respondeu. — Estou precisando mesmo sair. Só peço que seja num lugar tranquilo, ok?

— Vai ser. Você vai curtir. — Enviei o endereço e ele concordou. E acabou chegando primeiro.

Estacionei meu compacto basiquinho ao lado do Volvo dele. Loth saiu do carro e abriu a outra porta do mesmo lado. Olhou o amplo espaço repleto de mesas, food-trucks e feirinhas e ficou pensativo.

— Nós vamos andar muito?

Me aproximei para entender o porquê de sua pergunta. Lá dentro ele tinha um arsenal: muletas de dois tamanhos, uma bengala básica e espaço para transportar algo maior, se fosse necessário. Às vezes ele piorava e precisava de uma cadeira automática.

— Você gosta de ser independente, não é?

— Isso mesmo.

— Mas deixa tudo aí e vem comigo. — Ofereci meu braço. — Nós vamos devagar.

Loth relutou.

— Tem certeza?

— Tenho, ué! Vamos ver o que tem de bom e comer alguma coisa.

Caminhamos tranquilamente até encontrar um local sossegado, uma mesinha e uma cadeira para ele. Me sentei no meio-fio, perto de suas pernas, e coloquei a garrafa de suco que tinha comprado ao meu lado. Perto de nós tinha música ao vivo, e ficamos ouvindo sem dizer nada. A tarde estava bonita e o momento ficou gostoso.

— Gostei do clima e das atrações daqui — ele disse, olhando em volta. — Parece tão democrático. Não imaginava que um local aberto pudesse ser tão gostoso.

— Eu também gosto. Há quem ache as coisas um pouco caras aqui, mas é isso, né. Tem arte de rua, livros, comida, exposições. Músicas velhas, músicas indies... coisas para chatos como nós que não curtem o que os outros curtem.

— Somos tão parecidos... — Loth sorriu. — Acho que a gente se daria bem se... — Ele tossiu levemente. — Em outras situações.

— É verdade. Somos parecidos e isso é confortável. A gente se daria bem sim.

— E o seu relacionamento?

Não achei invasivo ele perguntar. Eu estava, naquele exato momento, com vontade de falar.

— Está em suspenso nesse momento. É daquele jeito: bom de perto, ruim de longe...

— Você parece estar tentando resolver as coisas da melhor forma possível, sem magoar ninguém. Sendo correto, e não apaixonado.

— Eu passo essa impressão?

— Às vezes, sim.

— É que você não conhece o Rich. Eu também pensei assim quando ele começou a dar chiliques, ano passado. Mas então a gente se encontrou e eu fiquei lá, olhando pra ele, esquecendo o que ia dizer. Toda vez que a gente se encontra, é assim. Antes dele, eu tive um relacionamento longo. Só que a gente não ficava amarrado um no outro. A gente se gostava, mas ele não se assumia, por isso, quando ele estava longe, eu conhecia outras pessoas, aproveitava as oportunidades. Isso fez uma certa "fama" pra mim. E foi com essa fama que eu conheci o Richard. Ele veio com a ideia de que eu transava com todos os meus amigos, e que... — Estranhei a expressão de Loth. — Você tá me ouvindo?

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