Temporais

Capítulo 31

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Depois de curtir bastante minha casa nova e minha solidão, de fazer um bom estoque de vídeos pra editar e publicar, decidi que estava na hora de voltar pra pista. Sair, me divertir, conhecer gente nova. Transar, já que tinha tempo que eu não fazia isso.

Começar, talvez, com o Tiago, mas sem dar chances a amarras. Ele mesmo deixava isso claro: se rolasse algo, beleza, a amizade ia continuar. Se não rolasse, beleza também. Não era pra isso que a gente estava conversando. Nós dois estávamos livres e queríamos continuar assim.

Marquei com ele para a famosa noite da seresta e a conversa seguiu rendendo no whats. Ele era da minha idade, adulto e despreocupado. Curtia de tudo, desde que não tivesse que fazer esforço. Tinha desistido de querer provar o que quer que fosse.

Mas, compromisso marcado, faltando apenas cinco dias, me deparei com uma semana complicada. Era a Semana da Criança, e além de ter que trabalhar muito nas escolas, eu ainda tinha que ajudar no projeto social.

Tinha alguns meses que eu dava aulas lá para jovens desinteressados, às terças e quintas-feiras, das dezenove às vinte e uma horas. Era tudo de graça para eles, como já tinha sido para mim um dia. Eu participava também da elaboração dos simulados para os que tentavam Enem ou vestibulares, e era bem tranquilo. A dificuldade era manter as turmas cheias até o fim.

A novidade é que havia atendimento médico e emissão de documentos, e assim se mantinha o movimento o ano todo.

Jonathan também trabalhava lá, mas enquanto eu recebia um pequeno salário, ele era voluntário. Auxiliava o médico pediatra que atendia nas manhãs de sábado, e seu benefício era cumprir alguma obrigação do curso de Medicina. Mas a gente nunca se via, primeiro porque eu o evitava, e segundo porque não tinha como nos encontrarmos por acaso. Dias e setores diferentes, públicos diferentes, e era como se não fosse nem no mesmo lugar.

Mas era a Semana da Criança, e todos, funcionários e voluntários, estavam convocados para trabalhar em escalas nas diversas atividades que faziam alegria do bairro. Eu mesmo ia lá, na minha adolescência, para brincar e ganhar algodão-doce. Aquele espaço tinha passado anos quase abandonado, e depois de inúmeras reivindicações e promessas, estava de volta.

Nas minhas escalas, eu tinha que tomar conta dos brinquedos para que as crianças não brigassem ou se machucassem. Logo no primeiro dia, um menino se machucou no pula-pula e eu o levei ao outro lado do galpão onde ficava o consultório. Jonathan o atendeu, demonstrando completa capacidade de lidar com a infância. Ele era brincalhão enquanto o médico responsável era um velho sisudo e arrogante.

— Ora, ora, o que temos aqui. — Ele pegou na perna do moleque, que chorava. — Será que quebrou? — Moveu-o de um lado para outro com facilidade. — Que pena! Não quebrou. Só vai doer um pouquinho.

Avaliação feita, sem nada que justificasse o remanejamento, inclusive o moleque querendo voltar pra pular de novo, nós ficamos próximos pela primeira vez em muito tempo.

Ignorando outras pessoas ao redor, Jonathan puxou conversa enquanto eu estava pensando numa forma de fugir. Idiota, eu sei, porque a gente estava bem, éramos amigos, mas eu sentia isso. Sentia que tinha que me afastar dele de qualquer jeito.

— Só assim pra eu te ver, não é? — Sorridente, ele tocou no meu braço e estendeu a mão para me cumprimentar.

— Pois é. Como você tá? Seu joelho ficou bom? — Lembrei que eu não o tinha visitado depois do acidente e me sentia mal por isso.

— Ficou meio manco, a clavícula também, mas de boas. Não sou nenhum atleta mesmo. A preguiça que eu tenho de malhar, agora, pelo menos, eu tenho uma desculpa convincente. — O sorriso dele, ostentando a alegria de quem conseguiu quase tudo o que queria e se conformou com o que não podia ter, era lindo. E ele ficava bem de branco, pra variar. — E você? Tá tão sumido! Trabalhando muito?