Capítulo 21

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Numa sexta-feira à tarde eu saí da escola e fui comprar umas roupas. Demorei mais do que gostaria e, pra piorar, começou a chover. Eu tinha planejado chegar em casa cedo, descansar, fazer várias coisas, por isso estava nervoso.

Atravessei a rua correndo para me abrigar sob uma marquise, pois o ponto de ônibus era desprotegido. Abracei as sacolas para que nada se molhasse. Enquanto esperava a chuva diminuir, olhei o celular. Richard não gostava de ser ignorado.

Um carro parou logo à frente, mas eu não prestei atenção, tinha vários carros por ali. Ele deu ré, mas também não significou nada para mim. Apenas quando vi uma cabeça castanho-avermelhada e um sorriso familiar eu entendi: era o Jonathan me chamando.

— Oi! Quer uma carona?

— Não precisa, Jonathan. Obrigado.

— Vai se molhar para que? Entra aqui!

Ele continuou a insistir e eu acabei aceitando. Entrei no carro e coloquei as sacolas no colo. Ele me sorriu e ajustou a temperatura do ar-condicionado.

— E aí, como tem passado?

— Estou levando. Me acostumando, sobrevivendo. E você?

— Do mesmo jeito de sempre.

— O que você tá fazendo aqui? Não é seu local.

— Não mesmo. Eu tô na maternidade, bem longe daqui. Mas eu queria te ver, então te procurei ao invés de te ligar.

— Eu disse pra você não fazer isso, não disse?

— Tá bravo assim por quê?

— Não tô bravo. Por que você me procurou de novo?

— É o mesmo assunto daquela vez. Assunto sério. Preciso de ajuda, e você tinha dito que ia ajudar.

— Passaram os trinta dias e você não falou mais nada. Achei que você tivesse deixado isso pra lá.

— Você deixaria? — Ele me olhou. — Você deixaria pra lá?

Abri a boca para responder, mas não saiu nenhum som. Eu nunca tinha me colocado no lugar dele pra pensar.

— Você não sabe, não é?

— Não. Sendo honesto, eu não sei o que eu faria no seu lugar. Mas também, eu nunca chegaria ao ponto de ter esse tipo de dúvida.

Jonathan não respondeu. Apenas manteve o olhar no trânsito.

— Em que você quer a minha ajuda? — Retomei o diálogo reconhecendo que meu comentário tinha sido ruim.

— Mandei fazer o exame. Agora falta coragem pra olhar o resultado.

— Tá aqui? Me dá e eu olho pra você.

— Tem três dias que tá aqui no carro e eu tô... bem, você me conhece. Se eu fosse pedir pra outra pessoa abrir, teria que contar a história e tudo mais. E você já sabe, então...

— Não, tudo bem. Eu olho. E fico por perto até você assimilar o resultado. É pra isso a minha ajuda, não é?

— É.

Eu nem tinha reparado, mas já estávamos chegando na minha rua. Jonathan parou próximo ao portão e desligou o carro. Abriu o porta-luvas, tirou um envelope branco lacrado e me entregou.

— Como você colheu a amostra? Não pediu a minha ajuda nisso...

— Tinha a questão da oportunidade, que era a parte mais difícil. Eu quase não vejo o pivete. Tinha desistido já de tentar, daí um dia meu pai me pediu pra buscar ele na escola, então eu tomei coragem e dei andamento no plano. Falsifiquei uma autorização dele pra isso.

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