Capítulo 32

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Que bom que você veio! — Jonathan ignorou minha mão estendida e me puxou para um abraço entusiasmado. Sempre baixinho, sua testa encostava no meu queixo ao abraçar. Ele desfez o abraço e deu um passo atrás, me olhando. — É bom te ver. Achei que você não viesse.

— Quase não vim mesmo. Tomei um belo porre essa noite.

— Mas você tá legal?

— Tô pronto pra outra. Eu acho.

Jonathan me obrigou a pôr o carro na garagem. Já tinha dois carros lá e sobrava espaço para mais dois.

Era uma casa de dois pavimentos com janelas grandes, toda branca, telhado de modelo antigo pintado de cinza e uma bela área externa, arborizada. Os muros que cercavam o amplo terreno não eram altos, sendo possível ver da rua toda a arquitetura e paisagismo, mas tinham dispositivos de segurança. Nos fundos, tinha uma piscina enorme e uma área de lazer. A água caía de uma cascata e tinha um trampolim de aparência velha e desgastada pelo sol. Devia ser original.

O dia estava lindo e quente. Jonathan estava usando uma bermuda estampada, curta, que mostrava a cicatriz acima de seu joelho esquerdo, e uma camiseta regata branca que fazia suas cores naturais se destacarem. Ele mantinha a mesma barba rala, sua boca estava vermelha e seus olhos, límpidos. Ele mancava levemente, mas estava saudável e feliz, e eu não consegui identificar os motivos de seus lamentos online.

— Legal a sua barba — ele falou enquanto seguíamos pra perto da piscina. Havia outras pessoas lá. — Você tá parecendo um rei da antiguidade.

— Valeu.

— Vem cá, vou te apresentar a uns amigos meus. — Eram duas mulheres e um rapaz. — O Daniel, a Natacha e a Marina. Eu já te falei da Marina.

Ou seja, aquela era a namorada. Eu a tinha reconhecido pelas fotos das redes sociais. Cumprimentei a todos.

Ficamos em volta do balcão conversando, eles com mais assunto e intimidade, eu olhando a coleção de quadros de fundo preto e tamanhos diversos na parede de tijolinhos. Eram gravuras, fotos de motos antigas e capas de livros famosos, tendo o quadro maior como ponto de partida. Achei de bom gosto. Uma ideia legal pra decorar minha casa alugada sem gastar muito.

— Bonito! — comentei com Jonathan, que já estava ao meu lado. Marina estava do outro lado do balcão e o casal tinha se afastado.

— Obrigado. Tudo ideia minha.

— Vou copiar na minha casa. Agora eu também tenho uma área de lazer.

— Fique à vontade. Em troca da minha ideia, eu quero ser convidado para alguma coisa lá.

Sorri. E não respondi.

Mais sorridente do que falante, Marina participou dos assuntos decorativos, depois saiu de perto de nós.

Antes que o silêncio pesasse, Jonathan abriu o armário sob o balcão e pegou um pote. Nele havia retângulos de cor alaranjada embrulhados individualmente com plástico transparente.

— Olha o que eu achei esses dias! — Ele pegou um dos retângulos e me deu. Era um doce pesado, espesso. — Vendiam esses doces de abóbora aqui do lado quando eu era criança. Eu não podia comer nada que tinha leite, então, quando eu queria um doce, eu comprava esses. Até que acabou e eu nunca mais encontrei. Achei essa semana, por acaso, e quase dei um grito de felicidade. Comprei tudo!

Abri o doce e experimentei pensando nos motivos de Jonathan estar assim tão entusiasmado.

— Gostoso. Parece coisa antiga mesmo. E você parece feliz.

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