Capítulo 35

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Estava sendo um domingo bonito, mas nem toda a animação da casa de Mara me distraía do que eu estava sentindo: ansiedade em relação ao Jonathan. Eu queria falar com ele, queria ouvir o que ele tinha a dizer, queria ganhar meu panetone e agradecer. Queria que acontecesse alguma coisa, mas o dia passava e nada acontecia.

Mara me ofereceu bebida, mas recusei. Eu tinha plena consciência de que vinha exagerando, inclusive estava ganhando peso, e tudo o que eu queria era manter minha vida em ordem. Eu não precisava me tornar um alcoólatra ou ficar fugindo da realidade.

— Eu pensei bem essa noite e hoje... — Eu estava ajudando a limpar a bagunça da casa e Mara estava ao meu lado.

— Hum. — Ela me olhou, interessada. — Conta pra nós.

— Acho que não vai ser ruim se eu falar com Jonathan, me desculpar por ontem e convidar ele pra conhecer a minha casa.

— Se desculpar por quê? A culpa não foi sua. Não foi ele quem chegou sem avisar?

— Sim, mas eu fiquei paralisado igual um idiota com culpa no cartório. Foi chato pra todo mundo, inclusive pro Tiago.

— Você e os seus dramas. Parece uma novela das nove dessas bem sem-vergonhas. Mas deixa eu te contar uma coisa, nego Dan: eu já tô quase torcendo pra você se entender com o Jonathan. Acho que vocês precisam disso, os dois adultos, sem empecilhos, nem que seja pra descobrir que era melhor ter ido ver o filme do Pelé. Porque, se vocês não derem certo dessa vez, nego, merecem os dois uma surra com galho de roseira brava. Tô falando.

— Eu concordo com você. Cada minuto que passa, mais eu vejo que minha vida não está resolvida até eu beijar aquele desgraçado e descobrir o que eu realmente sinto por ele.

— O que te impede de ir lá e beijar? O orgulho?

— Orgulho? — Eu nunca tinha pensado em orgulho.

— Quem meteu o pé na bunda de quem?

— Fui eu, né, e com toda a razão do mundo. Mas a questão é essa: eu não quero envolver coisas do passado.

— Se não quer envolver coisas do passado, por que não beijou ainda? Desde quando você dispensa alguém que se parece com o Jonathan do passado? E olha que esse é muito parecido.

— Lá vem você! — Passei as mãos úmidas pelo rosto. Ri no final. Ela também riu.

Mais tarde, já em casa e com as ideias mais claras, enviei uma mensagem rápida e concisa, que não demonstrava a total dimensão do que eu estava sentindo.

"Ei, Jonathan. Você realmente não precisava ter ido embora ontem. Eu só estava conversando com um amigo."

Ele respondeu quase que imediatamente, com áudios.

"Tudo bem, Dan. Ia ficar chato. Eu tinha que ter avisado, né. Fica de aprendizado pra próxima. Só vacilei em não ter deixado o panetone. Vou mandar entregar no seu curso amanhã."

"Eu não tô mais lá no curso. Tô só na escola e no projeto agora. E em casa."

"Mando pra escola então."

Enquanto eu pensava no que responder, ele mandou outro áudio.

"Dan, a minha formatura tá chegando. Você vai, não vai?"

Para isso, eu tinha uma resposta bem clara.

"Com certeza, Jonathan. Não vou perder nada, nem as partes chatas. Vou em tudo."

Ele agradeceu efusivamente, e dessa vez a alegria em sua voz pareceu mais real. Eu agradeci o panetone e paramos por aí. Ele estava levando a sério o que tinha dito sobre se contentar com a minha amizade se não pudesse ter outra coisa.

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