Capítulo 33

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Jonathan fechou a porta do quarto do Juninho e abriu outra, maior e de duas folhas, que dava numa varanda. Havia lá uma mesa redonda alta com três cadeiras de ferro pintadas de um azul clarinho, meio turquesa, já com aparência desgastada. O guarda-corpo era relativamente baixo, formado por balaústres torneados, pintados de branco, encimados por uma laje estreita. Dois vasos brancos do mesmo material dos balaústres, um em cada extremidade do guarda-corpo, exibiam pés de hortênsias já no final da floração. Achei bonito, mesmo com os efeitos do tempo visíveis nas trincas esverdeadas do concreto.

Jonathan puxou uma cadeira e se sentou enquanto eu olhava para fora. Por alguns minutos, não dissemos nada. Se tivéssemos falado, teria sido sobre a beleza daquele guarda-corpo. Daquela varanda dava pra ver a rua e o jardim na frente da casa, com árvores velhas repletas de hera e plantas epífitas. Era sossegado, nostálgico e aristocrático.

Eu sabia o quanto ele gostava daquele lugar e era extremamente apegado, não com o passado e com o que tinha vivido lá, mas com a casa em si, com o que ela significava. Era praticamente uma mansão.

Era o lugar dele, que ele visitava mesmo quando estava alugada, e ele tinha ficado extremamente feliz por tê-la de volta. O pai deve tê-la dado como uma espécie de compensação ou como incentivo para que ele continuasse se esforçando.

Me virei e Jonathan estava sorrindo, com os cotovelos sobre a mesa e o queixo apoiado na palma da mão. Apreciei o brilho de seus olhos e esperei pelo que ele tinha a dizer. E ele demorou a falar, medindo as palavras, sempre sorridente, me olhando de um jeito intenso.

— Dan..., se você me conhecesse hoje, e eu fosse totalmente honesto e te contasse tudo sobre mim, tudo mesmo, eu teria alguma chance?

Voltei meu olhar para fora da varanda, para um ninho de passarinho na árvore mais próxima, quase ao alcance da minha mão. Depois o olhei, ele sorrindo, de olhos baixos. A boca fina e pequena foi a primeira que eu beijei com prazer.

O tempo não tinha feito grandes mudanças físicas em Jonathan. Ele tinha o mesmo cabelo dos dezoito anos, talvez um pouco menos dourado, o mesmo olhar esverdeado, o mesmo porte físico, pequeno e magro. Os mesmos dentes pequenos e alinhados, e até a barba, que parecia nunca crescer, era do mesmo jeito. Suas sardas estavam mais claras e menores, especialmente nas mãos, resultado de algum tratamento dermatológico.

Foquei em seu rosto. Nas últimas vezes em que eu o tinha visto, ele estava com olhos vermelhos, boca seca, marcas de expressão e olheiras, mas sem bebida, sem drogas e sem sofrimento, ele voltava a aparentar menos idade do que tinha. Eu o beijaria se tivesse acabado de conhecê-lo.

— Não sei — respondi por fim. — Pra ser honesto, eu não sei. O que você diria sobre você mesmo hoje talvez fosse diferente do que eu me lembro, e talvez, por não ter te conhecido antes, eu fosse uma pessoa diferente.

Jonathan assentiu lentamente, fitando o vazio. Voltou a me olhar.

— Mas eu te chamo a atenção de alguma forma, sem ser pelas lembranças e experiências passadas? Tente imaginar como se fosse a primeira vez. Eu sou bonito pra você?

— Isso, sem dúvida. Eu sempre disse que você é bonito. Mas meu gosto pessoal, o que eu acho bonito, talvez ainda tenha relação com minhas primeiras experiências, e você estava nelas. Então, mais uma vez, eu não sei.

— Você acha que, se fosse a primeira vez, a gente daria certo de novo, já contando com a premissa de que nada, nunca é perfeito?

Me apoiei de costas na balaustrada.

— Lisonjeio falar em "dar certo de novo".

— Verdade. Esse "de novo" não colou bem, porque não deu certo. Se tivesse dado certo, a gente ainda estaria juntos.

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