Capítulo 27

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O tempo chuvoso que tinha assustado meu namorado na aterrissagem continuava, e agora assustava os moradores da cidade. Caiu uma chuva torrencial por volta do meio-dia que causou alguns contratempos. Por sorte, naquele dia eu ficaria até a tarde na mesma escola, evitando o transtorno de ter que me mover na hora do caos.

Por volta das dezesseis horas, peguei meu celular de forma distraída e me assustei ao encontrar dezenas de chamadas perdidas. Era de um número desconhecido, mas local. Normalmente eu não daria importância, mas a quantidade de chamadas me deixou preocupado. Seria alguma coisa relacionada ao Jonathan? Ele vivia se metendo em problemas. Não, não podia ser. Ele tinha outras pessoas de quem dar o número em caso de emergência.

Fiz a ligação. Uma só, pensei, pra saber o que estava acontecendo. Uma voz estranha atendeu e eu expliquei que tinha várias chamadas daquele número. E então tudo se esclareceu.

— Ah, foi o rapazinho que ligou — disse um homem muito solícito. — Tadinho, ele está tendo um dia ruim. Pedi pra ele tentar outro número, a casa dele, mas ele só se lembrava do seu. Hoje em dia a gente não decora mais números, não é? Fica tudo no celular. Só um minuto, sim? Ele está aqui. Tá um pouco nervoso, tadinho.

— Ok. — Ainda me parecia um trote, um engano, mas a preocupação com Jonathan era real. Outra recaída, meu Deus? Ele estava tão bem!

— Amor? — Era a voz de Richard. Curiosamente, fiquei mais tranquilo.

— Sim, amor, sou eu. O que aconteceu?

— Por que você demorou tanto a atender? Eu só lembro do seu número de cabeça, eu não consigo ir pra casa, tá chovendo...

— Eu tô na aula, amor, não podia atender. Inclusive, eu tenho que voltar.

— Eu fui assaltado, tô sem carteira, sem cartão, sem dinheiro. Eu torci o pé. Tá um inferno!

— Pega um táxi e vem pra cá, aqui eu pago.

— Ninguém quer me levar pra lá. Tá chovendo muito, tem alagamento na travessa, tem acidente no contorno. Eu tô horrível, parecendo um morador de rua.

— Ah, meu Deus! O que eu faço... só um minuto que eu tô pensando no que fazer.

— Você não pode vir?

— Como, Richard? Se fosse fácil ir pra lá, não seria difícil encontrar quem te trouxesse pra cá. Vou pedir ajuda a um amigo.

— Que amigo?

— Espera um pouco, tá? Te ligo já, já. Eu conheço uma pessoa aí no centro, vou pedir ajuda. Fica aí e fica calmo.

Desliguei e liguei para o Loth. Loth era o único de todas as pessoas que eu conhecia no centro que poderia me fazer um favor naquele horário. O motivo era simples: ele não tinha patrão. Ele era o patrão. Só que nem sempre se conseguia falar com ele justamente porque ele era muito ocupado.

Porém, tive sorte. Ele me atendeu de primeira, pois estava numa pausa em seu lugar favorito: uma cafeteria em frente à sua empresa. Ele riu do meu desespero.

— Calma, Dan! Eu ajudo você.

Não me acalmei. Eu conhecia Richard o suficiente para saber que se ele estava tendo um dia ruim, mais pessoas teriam um dia ruim.

— Ele está aí no centro, foi assaltado, levaram o celular e a carteira dele, eu acho que ele foi tentar fugir e torceu o pé, e está chovendo, ele está na rua. Enfim, ele me ligou porque é o único número que ele se lembra de cor, mas eu estou trabalhando, não posso sair, e nesse horário eu iria gastar duas, três horas pra chegar aí. Eu nem devia estar fazendo essa ligação. Enfim, você pode ligar pra esse número que vou te mandar por mensagem, ver onde fica e pegar ele lá pra mim? Depois eu dou um jeito de buscar ele, seja hoje à noite, seja amanhã cedo.

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