Capítulo 5

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Fiquei com raiva quando fui limpar a sujeira na minha cama. Tudo bem que tinha sido gostoso, mas depois que passou... confesso que senti nojo e preocupação. O que era aquilo que a gente estava fazendo?

Jonathan levava tudo numa boa, como se fosse a coisa mais simples do mundo dois amigos se deitarem na cama e gozarem um no outro. Para mim, não era brincadeira. Era uma coisa séria que incomodava. Eu não conseguia parar de pensar.

Depois ele ainda mandou mensagem dizendo que tinha falado com a "mina" dele que um amigo tinha gostado da ideia. Eu me lembrava da ideia: sexo entre nós três; eu, ele, e a tal. Nem o nome dela eu sabia. Eu não tinha ideia de como seria, se acontecesse, mas sentia tesão ao pensar na possibilidade. Na verdade, eu sentia muito mais tesão ao pensar em Jonathan de bruços na minha cama querendo a "brincadeira".

De qualquer forma, decidi que ia à casa dele na terça-feira seguinte. Quem me recebeu foi a babá, com o bebê no colo. O irmãozinho de Jonathan era moreno e não se parecia com ele.

— Ele está no quarto — disse a jovem empregada. — Pode entrar lá que ele está te esperando.

Entrei totalmente sem jeito. Ao empurrar a porta, vi Jonathan de pé sobre uma cadeira arrumando livros numa prateleira alta.

— Oi, amigo! Entra!

Achei curioso ele me chamar de amigo.

— Oi. Como tá?

— Tô arrumando aqui. Um monte de coisa minha foi pro lixo porque não tem espaço nesse muquifo. Se eu não arrumar, o resto também vai.

— Quer pôr lá em casa? Não é uma mansão, mas tem espaço. E a minha mãe não liga de ficar livro fora do lugar.

— Sério? Então vou levar esses mais pesados pra sua casa.

Jonathan desceu da cadeira e me deu um abraço tão rápido que eu nem tive tempo de retribuir.

— Você me chamou de amigo.

— E daí?

— Nada, ué. Foi engraçado porque ninguém nunca me chama assim.

— E você tem muitos amigos?

— Igual a você assim, não.

Ele continuou arrumando livros, agora numa prateleira atrás da cabeceira da cama.

— Sabia que o meu nome significa "amigo"?

— É, eu acho que sabia. O cara lá, amigo do rei Davi. Vi isso na igreja.

— Vou lá nessa igreja sua uma hora dessas. — Ele deu uma risada. — Naaah, não vou não!

— Eu só vou quando minha mãe insiste muito. Não tenho paciência.

— Senta aí. — Ele apontou a cama. — Eu fiz suco, daqui a pouco eu pego pra nós.

Me sentei e fiquei olhando o que ele estava fazendo. Eu achava bonito aquele monte de livro e ficava triste por ele não poder colocar onde quisesse. Ele não era feliz naquele lugar.

— Por que você fica livre apenas nas terças? — perguntei porque ficamos sem assunto.

— Porque a madrasta sai nesse dia, não tem inglês, e o cursinho é só a noite. Meu pai vem pra casa na quinta-feira; se ele não viesse, seria outro dia livre. Mas ele vem — Jonathan respirou fundo, de costas para mim —, então é o pior dia.

— O que ele faz pra ser tão ruim?

— Nada, basicamente. Mas deixa pra lá.

Ao final da arrumação, ainda havia um livro fora do lugar, então Jonathan subiu na cama, abriu uma porta basculante onde havia coberta e travesseiro, e enfiou o livro lá, escondido. Visto de baixo para cima, o short curto e folgado que ele usava não escondia muito. Quando se abaixou, ele se sentou pertíssimo da minha perna.

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