Capítulo 22

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2013

Houve um período longo de calmaria. Tanta calmaria que eu, acostumado aos temporais, estranhava.

Jonathan enviou minha camisa através de um amigo em comum e eu agradeci, depois não voltamos a conversar. Trocávamos mensagens em datas comemorativas e só. Eu já corria sozinho porque o Tiago, tendo cismado numa aproximação, tinha se afastado, e assim Richard não me desgastou mais com ciúmes.

A gente ficou bem. Éramos o protótipo do casal clichê: o grandão forte machão e o loirinho frágil e doce — ainda que de doce e frágil ele só tivesse a cara, e só pra quem não o conhecia. O casal vinte, os fofos, o "meu casal" dos amigos. Não tínhamos muito tempo juntos, eu trabalhando e fazendo especializações, ele estudando longe, de forma que os encontros, não tão frequentes, eram intensos e gostosos. Não sobrava tempo para discussões ou coisas ruins. As redes sociais eram testemunhas e divulgadoras do nosso relacionamento perfeito.

Então um belo dia Richard apareceu estranho. Eu tinha preparado uma pequena comemoração para nós, mas ele não chegou feliz. Nem minha pegada forte, que ele adorava, melhorou seu astral.

— O que foi? — Peguei seu rosto e o fiz olhar para mim. Estávamos na cama ainda.

— Tenho uma coisa horrível pra te contar.

— Ah, meu Deus! Fala logo que eu tô ficando nervoso. Não enrola!

— Então... eu vou estudar na Alemanha. Vou fazer a faculdade na Alemanha.

— Isso... não é exatamente uma coisa horrível. — Mas meu coração estava batendo descompassado. Por alguma razão, eu só me apaixonava por garotos estudiosos cujas carreiras eram mais importantes do que tudo. — Isso é uma coisa boa, não?

— É, é... mas... — Ele se virou e ficou olhando para cima. — Mas e a gente?

O abracei e beijei seu rosto.

— A gente continua, ué. O nosso namoro é meio de longe desde sempre. Não vai mudar muita coisa. Quanto tempo vai durar?

— Dois anos. Ou mais. Eu não quero ir! — Os olhos dele se encheram de lágrimas. — Sei que é bom, e eu queria isso, mas agora... Eu queria vir pra mais perto de você, não pra mais longe. Eu te amo, Dan.

— Ei, você vai, tá? Eu não quero que você faça algo diferente. É a sua vida, é o seu futuro. Você se preparou para isso. Então a gente vai ter que aguentar. Quando vai ser a viagem?

— Ainda vai demorar um pouco.

— Então vamos curtir esse tempo que falta da melhor forma possível.

Naquele dia eu vi Richard triste. Ele era de ficar com raiva, nervoso, bravo, mas nunca triste. Ele era uma fonte de energia, uma tomada 220 volts, uma pimenta malagueta, ele nunca abaixava a cabeça pra nada. Essa mudança nele, mesmo eu tendo certeza de que seria temporária, me deixou consternado.

— Oh, meu pestinha! Não fica assim não. Eu não vou mudar, vou continuar aqui esperando por você. O tempo passa tão rápido! Você piscou, foi um ano.

— Eu só vou vir a cada seis meses, Dan. Como vou dar conta de você?

— Você me julga muito mal, sabia? Se eu prometer que vou te esperar, eu vou cumprir. Eu não preciso de homem toda semana, ou todo mês. A gente pode namorar online. Você já me ouviu perguntando se eu vou dar conta de você? É porque eu não tenho dessas paranoias.

— Eu não tenho uma legião de fãs igual a você.

Ri algo me virando de costas na cama ao lado dele.

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