Capítulo 34

116 18 25
                                    


Apesar de minha cabeça dizer constantemente "vá embora!", o restante do meu corpo estava ansioso para entrar naquela piscina e continuar dando espaço para o Jonathan e suas artimanhas. Aquele fim de semana estava sendo tão repleto de aventuras, com direito a acordar ao lado de um desconhecido e tudo mais, que pagar pra ver até onde aquele ruivinho pretendia ir não era nada.

Tirei a roupa e vesti a cueca de tamanho grande, que eu tinha usado mais cedo, e entrei na piscina com Jonathan. A água estava morna depois do dia inteiro de sol quente. Uma delícia.

Não falamos nada nos primeiros minutos. Ficamos distante um do outro, apenas curtindo.

Jonathan passou um tempo nadando, e então emergiu mais perto de mim. Seus lábios estavam vermelhos. Ele passou a mão nos cabelos para ajeitá-los.

— Bem melhor sem o Junior, não é?

Assenti.

— Hoje o dia foi quente.

Assenti de novo, mudo e imóvel.

— O que foi? Tão calado...

Suspirei.

— Eu devia ter ido embora há horas. O tanto de trabalho que eu acumulei...

Depois de alguma reflexão, Jonathan se jogou para trás. Seu pé se apoiou levemente na minha coxa para pegar impulso. Ele emergiu longe de mim.

— Eu estou feliz com a sua presença, Dan. Muito! De verdade. — Ajeitando o cabelo, ele sorriu, olhando um ponto longe, no alto. — Sei que você estar aqui não é promessa de nada. Tenho plena consciência disso. Eu tô me sentindo como há mais de dez anos, eu te reencontrando na rua sem saber das possibilidades, com a única certeza de que eu queria ser seu amigo. A diferença é que agora a minha vida não é mais uma merda. Tem dias ruins, como todo mundo, mas acho que eu posso ser uma companhia melhor agora.

Prendi os lábios sem saber o que responder. Acho que ele nem queria uma resposta.

Se eu estivesse longe, ouvindo isso por telefone, eu diria pra ele se acalmar e me esquecer em definitivo. Mas, assim tão de perto, vendo e ouvindo, eu só podia me sentir confuso. Não confuso quanto aos meus sentimentos, mas quanto ao que eu deveria fazer a partir daí.

Se eu o olhasse demais, se eu o ouvisse demais, todas as verdades que eu tinha sobre nós passava a não fazer sentido, e às vezes eu chegava a me sentir culpado. As palavras de Jonathan ecoavam na minha cabeça toda vez que eu submergia: "será que a gente daria certo de novo?"

Não!

Soltando o ar pela boca e deslocando a água que descia por meu rosto, eu balancei a cabeça. Eu não podia ficar pensando nisso.

— É uma pena que você tenha que ir embora — Jonathan continuou. — Você é uma pessoa tão ocupada! Admiro como você consegue dar conta de tantos compromissos e manter a vida social.

Eu ri.

— Minha vida social é uma piada. E só dou conta mesmo dos trabalhos. Esse fim de semana que eu decidi sair, e o resultado é um monte de coisas acumuladas.

— Espero que as coisas se ajeitem. Você também precisa se divertir um pouco.

Como eu não respondi, ele mergulhou. Esperei um pouco e mergulhei também.

Emergi perto de Jonathan. Minha intenção era me despedir, mas demorei a dizer isso e ele ficou me olhando. Como estava num canto, ele apoiou os cotovelos na borda e se ergueu, ficando mais alto do que eu.

— Tenho que ir — falei, por fim. Não saiu muito firme.

A pressão e o movimento da água deixavam uma tensão em mim e eu precisava me concentrar em coisas aleatórias para não ceder ao momento. Se eu ficasse olhando para a boca de Jonathan, os olhos de Jonathan, os cabelos sempre caídos dele, suas sardas nas costas, seu interesse não disfarçado, não ia demorar e o espaço entre nós iria desaparecer.

TemporaisOnde histórias criam vida. Descubra agora