Capítulo 20

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Semanas depois, quando eu estava chegando ao meu endereço carregando várias coisas da escola, avistei uma pessoa conhecida próxima ao portão. Era um certo João Paulo, o pai de Jonathan. Fiquei intrigado, tinha muito tempo que eu não via aquele homem.

Me aproximei sem que ele me visse. Quase o assustei.

— Olá! Você tá procurando por mim?

— Sim, eu procurei. Que bom que chegou. Jonathan disse que ficaram coisas dele com você e que podem estar atrapalhando na sua casa nova. Vim buscar.

— Ah! Ficou mesmo. — Os livros e brinquedos de Jonathan ainda estavam comigo. Por mais que demorasse, por mais que a gente se afastasse, ele ia até minha casa e pegava aquelas coisas apenas pra ficar olhando para elas. Vez ou outra ele levava algum livro, mas tinha ficado muitos comigo. — Ele mandou buscar?

— Sim. Eu estava por aqui e ele pediu esse favor. Vou levar pra casa dele.

Se Jonathan mandou o pai buscar suas coisas ao invés de vir pessoalmente e usar isso como desculpa pra aproximação, era porque ele tinha desistido de mim de vez. Milhares de coisas passaram pela minha cabeça.

— Bom, se é assim... então entra e me ajuda a pegar. É bastante coisa.

Abri o portão e o homem entrou sem dizer nada. Me esperou na porta enquanto eu arrumava os pertences de Jonathan para a viagem.

Peguei uma caixa que estava jogada sobre a máquina de lavar para acomodar os livros. Eles ainda estavam embalados por ocasião da minha mudança, mas estavam ajeitados e limpos, no pequeno quarto extra. Eu cuidava deles tão bem quanto cuidava dos meus. Fechei a caixa reforçando-a com fita-pacote e a entreguei ao homem.

Fui ao meu quarto, e da parte mais alta do guarda-roupas, ao lado de cobertores pesados e caixas de lembranças, peguei a caixa favorita de Jonathan. Cheguei na sala com ela justo quando o pai dele estava de volta depois de ter levado os livros para o carro.

— Isso é tudo. Essa caixa é maior, mas não é pesada. Já tá lacrada.

Ele a pegou com curiosidade, sopesou, balançou com cautela.

— O que tem aqui dentro?

— Brinquedos.

— Brinquedos? — Ele estranhou.

— É. Bonecos, jogos de montar, carrinhos, coisas que ele ganhava nos aniversários. Presentes caros.

— Meu Deus! Jonathan tá com vinte e três anos. Achei que isso tivesse ido pro lixo ou dado pro Junior.

— Foi justamente pra não dar pro Junior que ele pediu que eu guardasse.

João ficou olhando a caixa, pensativo, a expressão carregada. Fiquei desconfiado.

— Você vai entregar a ele, né? Se for levar pra outro lugar, deixa aqui que eu entrego. Ele é muito apegado com essas coisas.

— Eu vou levar, já que ele pediu. Antigamente ele tinha um quarto cheio disso. Quando a gente se mudou, foi feito uma faxina e ele não gostou. Saiu recolhendo o que tinha sido doado. — Ele respirou fundo. — Acho que ele ainda não cresceu.

— O Jonathan tem o tempo dele, e é um tempo bem estranho.

À noite, eu encucado ainda com aquilo, liguei para o Jonathan. Eu tinha prometido não ligar mais, mas as questões sobre sua família sempre me intrigavam. Eu nem sabia a razão, mas me sentia incomodado. Venci minha própria resistência e liguei.

Jonathan me atendeu sussurrando.

— Oi... eu tô estudando, mas pode falar rapidinho.

— Eu só liguei pra perguntar se seu pai te entregou sua caixa de brinquedos. Ele veio aqui buscar as suas coisas e estranhou o conteúdo da caixa.

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