Capítulo 12

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Uma hora depois da ligação, Jonathan me chamou no velho portãozinho da minha casa. Eu ainda estava na mesma posição, no sofá, e de alguma forma sabia que ele viria. Não estava preparado para vê-lo, mas sabia que ele iria tentar.

Se eu tinha pensado em não falar com ele, em deixá-lo sozinho lá fora, não deu certo. Fui encontrá-lo assim que ouvi sua voz, e quando o vi tão triste e vulnerável naquela rua escura, não consegui ficar longe. Fui até ele e o abracei forte.

O soltei e olhei seu rosto segurando-o com as duas mãos.

— Eu disse que você não precisava vir. Vai perder o show.

— Mas eu precisava vir. Por que, Dan? Eu te expliquei tudo. Eu não menti pra você.

— Eu sei, você falou tudo, mas dessa vez não deu, tá? Eu tinha pedido pra você não exagerar, e eu acho que você foi longe demais.

— Dan, desculpa! Se eu não aceitasse...

— Não precisa explicar, Jonathan. Não vai fazer nenhum sentido pra mim. Eu lembro da festa de quando você passou no vestibular. Eu fiquei sobrando lá.

— Foi por isso...

— Por isso você não me convidou pra essa. Eu sei. Só que não dá, cara! Que droga de nam... — Que me esqueci de que estávamos na rua. Baixei o tom. — Isso não tem como.

— Eu... — Ele suspirou, deixando cair os braços e desistindo de lutar. — Entendo. Eu vacilei. Mas eu gosto de você. Eu te amo, porra! Eu penso na gente lá na frente, quando as coisas forem mais fáceis...

— Você está guardando o osso para depois, mas não dá, mano. Não dá! Eu não sou um osso. Você acha que eu sinto o que quando você faz essas coisas? Eu tenho amor-próprio, cara. E eu fiz a minha parte, te levei a sério, falei de você para quem perguntou se eu namorava. A mamãe só finge que não sabe, mas lá vai ver, ela até guardou o seu prato que sabia que era dia de você vir. Ela fez um bolo, e eu nem precisei falar nada. Mas você... Você só enrola e inventa desculpas. Você deve ganhar alguma coisa sendo um mauricinho pegador.

Jonathan ia gritar, mas eu contive sua indignação. Entramos no quintal da minha casa e ficamos na lateral, e só então eu deixei ele falar.

— Eu não sou um mauricinho pegador! Eu não pego ninguém, caralho! Será que o que eu faço pra ser fiel a você não conta?

— Se liberta disso, tá? Foi ideia sua, e eu não tenho culpa se tá sendo difícil. Vai lá, trepa com quem você quiser! Só tá faltando isso mesmo.

— Dan! — Ele ficou chocado. — Para! Você não tem ideia... Você é tão importante pra mim!

— Eu sei que você gosta de mim, Jonathan. Não tô duvidando. Mas do jeito que as coisas tão indo, daqui a pouco a gente vai começar a brigar. No final, a gente vai se afastar, e nem amigos vai ser. Você vai ver.

Jonathan se sentou no banquinho, pôs o rosto entre as mãos e apoiou os cotovelos nos joelhos. Eu não sabia se ele estava chorando ou apenas cobrindo o rosto para pensar. Me aproximei e brinquei com seus cabelos.

Eu estava sensibilizado. Mesmo com raiva, eu reconhecia que ele se esforçava para a gente ficar juntos. Mas ele fazia um esforço igual ou maior pra manter uma imagem diferente junto à família e os amigos. E eu, como namorado, de aliança e tudo, não gostava de ficar escondido. Não gostava de ser substituído por outra pessoa quando ele precisava apresentar alguém.

— Não fica assim. Vamos entrar? Mamãe guardou comida pra você, que eu falei que a gente ia sair e depois você vinha pra cá. Ela já foi deitar, que ela dorme cedo.

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