2008
Um dia, dois dias, uma semana... Jonathan estava coberto de razão quando disse que estar ocupado ajudava a não pensar. No meu caso, ajudava a não pensar nele. Tantas coisas me perturbavam. Ele ser tão complicado, tão pouco confiável, mas tão doce ao falar de sentimentos. Depois de tudo, ele ainda estava nos meus pensamentos.
Dezembro, janeiro... Férias, calor, a gente se falando às vezes, mas de forma rápida e rasa. Ele estava longe e eu não vinha dando muita abertura. O pai dele com seus preconceitos raciais e ele baixando a cabeça sem dizer nada não era coisa que eu podia tolerar. Mas eu respondia suas mensagens, e se ele ligasse, eu atendia. A hora que fosse.
Conheci um cara aparentemente legal numa daquelas comunidades virtuais. Começamos a conversar e foi bom, ele me mantinha entretido com bom papo. Eu ainda gostava de Jonathan, e pensava muito nele, mas estava disposto a me distrair e, quem sabe, tentar seguir em frente. Encontros casuais eu já tinha chegado à conclusão de que não me interessavam. Eu precisava ter alguém para conversar e Elias era essa pessoa.
Marcamos de nos encontrar num dia qualquer de janeiro. Elias me surpreendeu positivamente: era inteligente, sério e mais bonito do que nas fotos. Mais parecido comigo que com um mauricinho branco que não podia andar comigo. Cheiroso, simples, um pouco mais velho do que eu, já formado. Faltava animação, humor, mas ele estava se esforçando pra me interessar. E eu me interessei.
Saímos a noite, fomos a um parque de diversões, depois a um show aberto. Nos beijamos num momento de privacidade sob umas árvores. Foi ok, nem bom nem ruim. É porque você ficou comparando com o beijo de Jonathan — pensei. Na próxima, melhora. Elias parecia ter tudo o que eu precisava pra me sentir bem, e o beijo era apenas um detalhe.
Como ele era de outra cidade, convidei-o para dormir lá em casa. Outro amigo, eu disse à mamãe, mas era mesmo. A gente ainda estava conversando, embora o ritmo da conversa estivesse animador.
Era madrugada quando entramos em casa, nos ajeitamos e fomos dormir. Elias ficou no colchão e eu na cama. Nada de manobras como as que eu fazia quando era com "ele". Talvez Elias estivesse esperando mais daquela noite, mas pra mim estava ótimo. Eu não iria forçar uma intimidade que ainda não existia. Eu disse "boa noite" e fechei os olhos. Estava tudo bem para mim.
Acordei com o toque do meu celular. O volume estava baixo, felizmente, mas eu não tinha problemas pra acordar. Sonolento, tateei o chão onde ele ficava e olhei a tela: era o Jonathan. E eram quatro da manhã. Atendi, assustado.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Ouvi choro e soluços.
— Dan? É você?
— Sim, sou eu. O que foi?
— Eu liguei porque... eu gosto tanto de você, Dan. Você é uma pessoa tão maravilhosa. — Soluços.
Elias se sentou no colchão. Eu não queria acordar ninguém, mas já era. Já tinha acordado. Abri a porta e fui pra cozinha. Com sorte mamãe não ouviria de lá.
— Você tá bêbado, é?
— Eu não sei.
— Eu tenho certeza que tá. O que você tá fazendo, cara?
— Eu tô um pouco bêbado, mas olha... Eu tô com tanta saudade. Eu nem sei...
— Ai, Jonathan! É madrugada. Onde você tá?
— Eu tô na rua... — Ele fungou. — No meio-fio.
— Vai pra casa, vai.
— Eu não posso ir pra casa. Meu pai vai me matar.
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Temporais
RomanceAlguns personagens dessa história aparecem em "Depois da Tempestade", mas não se trata de uma continuação. Não é preciso ler Depois da Tempestade antes. Quem leu, pode se lembrar de alguns spoilers. Sinopse Dois mundos opostos se encontram no fina...