Capítulo 15
Minha primeira reação foi proteger Jonathan da fúria cega do pai. O homem tinha um carro e poderia usá-lo para vencer a distância se ainda quisesse fazer mal ao filho, então eu o impedi de se mover até que ele caiu em si e começou a balançar a cabeça, desesperado. O olhar de outras pessoas ajudou a segurá-lo.
— O meu filho... — ele repetia.
— Isso, é o seu filho. Você não vai fazer nada com ele.
Os conhecidos mantiveram alguns metros de distância, mas ficaram alertas.
— Precisa que chame a polícia, Obedran?
— Acho que não, dona Cida. Obrigado. É só coisa boba de família. Logo eles vão resolver.
O pai de Jonathan desistiu de lutar contra mim e deixou cair as mãos ao longo do corpo. De cabeça baixa, ele foi para o carro. Ficou olhando a rua por um tempo, então ligou o carro e foi embora. Eu permaneci esperando. Se Jonathan tivesse alguma coisa na cabeça, ele iria entrar em contato comigo.
Os vizinhos demoraram a voltar para suas casas. Expliquei que meu amigo tinha aprontado alguma coisa e o pai queria brigar, mas era só porque ele estava de cabeça quente. Não era motivo de preocupação. Mais uma vez, dei graças à Deus por mamãe não estar em casa. A cada dois ou três meses ela ia pro interior onde moravam minhas irmãs e ficava lá alguns dias.
A minha segunda reação, depois que o pai de Jonathan foi embora, foi de incredulidade. Choque. Mas que merda foi essa que Jonathan aprontou dessa vez? Por que aquele garoto fazia coisas tão idiotas? Era tanta novidade absurda que nem dava tempo de respirar. Eu não sabia se sentia pena ou raiva, se ficava preocupado ou deixava pra lá. Havia questões muito profundas em jogo, mas tantas ao mesmo tempo, e para as quais eu não tinha conhecimento, que eu não processei como deveria.
Entrei em casa depois de me certificar de que Jonathan não estava por perto. Entrei no meu quarto e a primeira coisa que vi foi o celular dele sobre a minha cômoda. O Blackberry que eu sabia que ele adorava. Como eu ia saber pra onde ele tinha ido se até o celular tinha ficado para trás?
Esperei. O tempo passou e nada de Jonathan dar notícias. O celular dele tinha senha de bloqueio, então eu tinha que esperar alguém ligar. Só que a primeira pessoa que ligou foi justamente o pai, e eu não sabia se devia ou não atender. Ele poderia requerer o aparelho, então não atendi. Chegaram mensagens, mas não tive como abri-las. Arrumei um carregador para mantê-lo ligado enquanto o contato não vinha.
E ninguém além do pai ligou naquela noite. Mensagens, porém, chegavam aos montes, mas de nada serviam.
No dia seguinte, à tarde, quando eu estava no trabalho, recebi uma mensagem no MSN. Abri e era o Jonathan usando uma conta diferente. Ele disse que estava na casa da avó e que não poderia ficar muito no computador. Perguntou pelo celular, disse que quando pudesse, iria buscá-lo. Eu só perguntei se ele estava bem e ele respondeu positivamente. Não deu tempo de saber maiores detalhes.
Chegou o fim de semana. Mamãe iria voltar pra casa na tarde de domingo e eu estava agoniado com a falta de notícias de Jonathan. O celular dele já não recebia tantas mensagens, quando chegou uma ligação eu não tive tempo de atender, e o pai não tinha ligado mais.
Fui às compras, e quando estava voltando para casa, avistei um carro chegando no meu portão. Era o carro do pai de Jonathan. Mara também estava vindo pelo lado contrário, mas ela parou antes de chegar como se estivesse indo numa casa vizinha. O homem, que eu só sabia que se chamava João Alguma coisa, saiu do carro com as mãos nos bolsos. Não dava a impressão de ter vindo cometer um homicídio.
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Temporais
RomanceAlguns personagens dessa história aparecem em "Depois da Tempestade", mas não se trata de uma continuação. Não é preciso ler Depois da Tempestade antes. Quem leu, pode se lembrar de alguns spoilers. Sinopse Dois mundos opostos se encontram no fina...