Capítulo 29

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Era uma noite de quinta-feira e eu estava ocupado. Tinha atrasado a edição de meus vídeos. Saí apenas para comprar comida para depois me enfiar no quarto e trabalhar até de madrugada. A comida que eu queria era saudável, o local bem avaliado no quesito limpeza, mas não fazia entregas. A gente tinha que encomendar por telefone e buscar pessoalmente.

Logo que cheguei ao restaurante, avistei um grupinho de pessoas conhecidas numa mesa externa e me incomodei. Aquele era o grupinho do Richard, e ele estava junto. Enquanto eu esperava o pedido ficar pronto, Richard ficou me olhando diretamente, e então se aproximou. Pôs uma cadeira na minha frente e se sentou, cheio de sorrisos.

— Oi, Dan!

— Oi. Rich! Tudo bem contigo?

— Sim. E com você?

— Estou ótimo.

Ele me encarou durante um tempo, os cantos de sus lábios sugerindo um sorriso. Suspirei de irritação; eu conhecia bem aquele jogo.

— O que você tá querendo falar? Fala logo que daqui a pouco eu vou embora.

— Nada especial. E aí? Já tá namorando de novo?

— Você sabe que não.

— Por que eu saberia?

— Você sempre sabe de tudo. Tão esperto e tão bem-informado!

— Você tá sendo irônico? — Ele fez falsa cara de surpresa. — Que mudança!

— Não estou sendo irônico, só tô te elogiando. Você podia entrar pra polícia ou alguma agência de inteligência. Ia se dar bem.

— Sua ironia não me afeta. Mas acho que com ela você está dizendo que teve algo que eu não fiquei sabendo. Mas relaxa, isso não importa mais.

Sorri, desafiador.

— Se não importasse, você estaria lá com seus amigos e não aqui fazendo insinuações.

— Seu amigo Lothar te deixou pra namorar outra pessoa?

— Não é preciso deixar os amigos porque começou a namorar. Você é o único com essas paranoias. As pessoas normais namoram e mantém suas amizades.

— Mas a sua amizade inclui benefícios.

— Não incluía quando a gente namorava, e fora isso, não é da sua conta. — Olhei a hora no celular. — Bem, acho que meu pedido está pra sair, então você pode voltar lá pro seu grupinho.

— Você acha ele uma pessoa maravilhosa, né. — Richard olhou as unhas. Aquele cinismo dele era irritante.

— Eu pedi um favor e ele fez, um favor numa tarde de chuva. Então é uma boa pessoa. Mas que diferença faz agora?

— A gente conversou bastante naquela noite. E continuou conversando depois.

Respirei fundo. Lá vinha coisa que eu não ia gostar! Mas segurei a barra, afinal, eu tinha passado da fase de ficar gritando com aquela criatura tóxica.

— Huumm. E aí?

— Foram conversas bem interessantes.

— Em que sentido?

— Você vai ver. — Richard pegou o celular. — Que bom que não nos bloqueamos, assim eu posso mandar fotos e prints. Você é muito maduro, eu sempre amei isso. Você não bloqueia as pessoas.

— Print de quê?

As fotos começaram a chegar, e eram terríveis.

— Sexo virtual. Fizemos bastante. E fizemos ao vivo também. Naquela noite mesmo, como você pode conferir nas conversas. Pelo menos eu fui decente e terminei com você. Se a gente tivesse continuado, ele aceitaria, mostrando que não é tão bom amigo assim.

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