Em casa, precisei explicar à minha mãe por que eu tinha uma marca de mordida no pescoço. Saiu uma menina dos fundos da minha mente porque se eu dissesse ter sido obra do fofíssimo Jonathan, que ela adorava, as coisas ficariam bem estranhas para nós. Ou talvez não. Talvez, se eu dissesse simplesmente que Jonathan tinha me mordido, minha mãe achasse engraçado e pedisse para ele não fazer mais isso. Talvez ela não visse maldade nos atos dele, como não via maldade em seu jeito angelical. Mas eu me antecipei. Era como se todos desconfiassem do que a gente fazia trancados no quarto.
Tarde da noite, mamãe já dormindo, eu peguei o celular e mandei mensagem para o Jonathan:
"Você está melhor? Já consegue andar direito?"
Ele respondeu pouco depois:
"Tá querendo perguntar como está o meu rabo, é?"
"Já que você tocou no assunto"
"Vai se foder, vai."
Fiquei chateado. Aquilo tudo tinha sido ideia dele. Por que ele tinha ficado tão arrogante?
Eu gostava de Jonathan. Gostava de falar com ele, de olhar para ele, de ouvir os planos dele. Gostava de como ele me contava as coisas. Gostava até mesmo de seus acessos de raiva. Não era só porque nossas "brincadeiras" estavam gostosas num nível absurdo. Eu gostava de ficar com ele, muito mais do que aquilo; mesmo ele sendo daquele jeito difícil.
Um dia um conhecido falou: quando você gostar de alguém, até o jeito que essa pessoa enfia o dedo no nariz vai te parecer atraente. E era verdade. Até os defeitos de Jonathan eram interessantes para mim. Ele ser doidinho, marrento e direto só me fazia admirá-lo ainda mais. Por isso eu me preocupava se o tinha machucado, se tinha sido forte demais, se ele estava confuso...
No outro dia, ele respondeu:
"Eu tô bem, tá? Mas acho que exagerei na dose. Ainda tá doendo."
"Desculpa."
"Tem nada não, a culpa foi minha. Agora para de ser um príncipe cheio de frufru. Isso é chato."
"Você queria o que? Um cavalo?"
"Você é fofo, Dan. Se eu fosse uma mulher, ia casar com você."
"Você é um safado. Só pensa em putaria."
"Que mentira! Falando nisso, lembra do que eu falei outro dia, de você, eu e a Priscila?"
"Desistiu disso não, mano?"
"Ela quer. Você topa?"
"E ela sabe da gente?"
"Óbvio que não, né! E ninguém vai falar. Bora tentar? Se não rolar, a gente finge que não foi nada."
"Não sei. Tô com medo de ficar bolado, o negócio não rolar e você ficar com raiva depois. Você fica com raiva por qualquer coisa mesmo."
"Eu fui cuzão ontem, né. Desculpa. É que as coisas são diferentes do que a gente imagina. Mais dolorosas, digamos assim. Mas você não teve culpa, então esquece aquilo. Bora lá com a Priscila, vai ser legal."
"Tem certeza?"
"Tenho".
"Só se for com camisinha."
"Óbvio, né! Senão a gente faz filho nela e depois não sabe quem é o pai kkkkkkk"
"Você é doido, moleque!"
Sim, ele era.
֍֍֍
Passei uns dias sem ver Jonathan. A gente se falava por mensagens, onde ele me contava tudo o que estava fazendo. Ele estudava e nunca tinha tempo, e quando saía, era sempre com a tal Priscila. Ele me contava até quando estava pegando nos peitos dela ou dedando ela por debaixo da mesa. Aquele era o Jonathan. Doido demais! Mas ele era um bom amigo.
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Temporais
RomanceAlguns personagens dessa história aparecem em "Depois da Tempestade", mas não se trata de uma continuação. Não é preciso ler Depois da Tempestade antes. Quem leu, pode se lembrar de alguns spoilers. Sinopse Dois mundos opostos se encontram no fina...