Fiquei impressionado com a mensagem, mas cético. Eu gostava daquele carinha muito além da amizade e da sacanagem, meu coração disparava só de pensar nele, mas eu não me sentia confiante para dar certos passos. Namorar... como isso seria possível?
Respondi imediatamente, pois nessa altura eu já tinha meu próprio celular.
"E como a gente ia namorar, seu doido?"
"Namorar namorando, ué. A gente não ia poder falar com ninguém, é lógico. Se meu pai fica sabendo, ele me abandona de vez, e ele me banca."
"Também não imagino minha mãe sabendo, mas ela não é problema. Só que namoro é meio radical, você não acha não? A gente ia se ver como?"
"Eu ia dar um jeito de te ver sempre, de falar com você. Nunca mais ia passar dois meses longe. Meu pai não me dá muita grana, então eu não posso ficar indo e vindo, mas eu daria um jeito, pegava carona."
"Tá, a ideia é tentadora, mas eu não sei. Esse negócio de você ter outra pessoa..."
"Eu terminava com Priscila. A gente nem tem nada mesmo."
"Você acha que é uma boa ideia? Ter compromisso e tal?"
"Eu acho. A gente se gosta, e a gente já teve um tempo de quase namorados mesmo. Eu sou doido por você, Dan. Eu queria muito te falar isso, que eu quero namorar você. Tô tremendo tanto aqui que quase nem consigo digitar isso."
Eu também estava tremendo, ainda não acreditando no rumo que a conversa tomava. Namorar... cada coisa que o Jonathan inventava. E eu entrava na onda, só imaginando o tempo passar, e nós dois juntos compartilhando momentos, a gente podendo ter um lugar só nosso onde ninguém podia dar pitaco nas nossas vidas.
O problema era que o curso de Jonathan era longo, anos e anos, e ele não trabalhava. Dependia do pai pra tudo. Ambicioso, ele sonhava em recuperar a vida que tinha antes da separação dos pais, a casa, o status, o dinheiro. E isso tinha um preço.
Eu me saía melhor aceitando minha condição de pobre. Se minha mãe me tocasse pra fora de casa, eu já podia me sustentar sozinho no padrão que estava acostumado, ou seja, modestamente. E apenas tinha me matriculado na faculdade, que tinha metade da duração da dele.
Eu não me atrevia a sugerir que Jonathan baixasse suas expectativas em relação à vida. Eu tinha orgulho dele por pensar maior, mais alto do que eu. Por fazer sacrifícios pelo futuro. Se submeter às regras da família que bancava seus sonhos era como pagar por eles; não havia nada de graça em lugar algum. Mesmo a minha comodidade tinha um preço.
"Também tô tremendo aqui, pensando loucuras. Vamos tentar, ver no que dá."
"Então você me espera um pouco? Pra eu resolver umas coisas, é só uns dias."
"Se resolver umas coisas for terminar com essa sua namorada, eu espero sim. Mas ainda tô no susto com essa ideia."
"A gente vai conversando e decidindo. Se você não quiser namorar, eu entendo de boas. Não vou ficar chateado."
"Eu decidi que quero namorar com você. Vou esperar você resolver as suas coisas e então..."
"Sério?"
"Sério!"
"Tô tão feliz, Dan! Obrigado. Seu celular recebe foto?"
"Sim. Pode mandar."
Jonathan mandou uma foto de si mesmo no espelho, não muito nítida, mas linda. Foi a primeira vez que recebi uma foto dessa forma, e gostei muito. A gente tinha feito as pazes, falado em namoro, as expectativas lá no alto, mas tantas coisas nos obrigavam a ficar separados que ter uma foto dele na tela do meu Motorola era emocionante. Era apenas uma fração da beleza dele, não mostrava sua pele rosada e suas sardas, e seu cabelo ficou escuro, mas ainda era ele. Era o que eu podia ter, estando longe.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Temporais
RomanceAlguns personagens dessa história aparecem em "Depois da Tempestade", mas não se trata de uma continuação. Não é preciso ler Depois da Tempestade antes. Quem leu, pode se lembrar de alguns spoilers. Sinopse Dois mundos opostos se encontram no fina...