Capítulo 16

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Na prática, a mudança de Jonathan para a casa da avó colocava mais alguns quilômetros entre nós, já que ela não morava na cidade. Quando ele ia "para casa" nos finais de semana ou feriados prolongados, a "casa" agora era aquela. Além disso, a nossa última conversa e o esclarecimento dos fatos não nos aproximou como eu imaginava que fosse acontecer. Ela fez bem o contrário. Jonathan não tinha nenhuma explicação fantástica, como eu gostaria, e eu não o entendi e apoiei incondicionalmente, como ele esperava.

Mais uma vez, o fato de não sermos maduros pesou. O meu lado pesou mais, já que eu sempre fui o adulto e o estável da "relação". Eu era seu porto seguro e não devia fazer julgamentos. Ele era apenas uma vítima.

Jonathan ficou pensativo e chateado naquela tarde. Quis ir embora. E eu estava ainda absorto na questão do envolvimento dele com a madrasta e na reação passiva do pai. Eu deveria ter entendido.

Quando mamãe chegou, às cinco horas de domingo, eu estava na cama triste e desanimado. Ela entrou apressada no meu quarto, seus cabelos cacheados soltos depois do banho, e me chamou.

— Obedran, Cida tá dizendo que aconteceu um rebuliço aqui esses dias. É verdade que o pai do Jonathan veio aqui e saiu correndo atrás dele?

Não tinha como fugir do assunto. A vizinhança, formada por homens aposentados em velhas calças sociais e senhoras de saias na altura das panturrilhas já a tinha posto a par dos acontecimentos. Eu não tinha falado nada.

— É verdade, mãe. Eles brigaram, mas já resolveu. Jonathan andou aprontando em casa e deu nisso.

— Aprontando o que?

— Muitas coisas, sabe como ele é. Ele não me falou.

— Tadinho. Se ele veio aqui ontem, por que não ficou? Tem tempo que não vejo ele.

Respirei fundo, de olhos fechados.

— Acho que ele vai vir menos de agora pra frente.

— Por quê? Você já foi brigar com ele também?

— Não, mãe, é que a gente... — Abri os olhos e me sentei. Passei a mão na minha cabeça quase raspada. — Mãe, a senhora sabe que Jonathan é um pouco mais que meu amigo, né?

— Ele é um menino tão bonzinho.

— É, mais ou menos bonzinho. Mas ele foi... — Era difícil dizer aquela palavra. Eu só a usava com amigos muito íntimos.

— Foi embora?

— Não. Ele foi... meu namorado. A gente terminou. — Minha voz foi baixando conforme eu revelava meu grande segredo à minha querida e evangélica mãe.

— Ele aprontou em casa, você disse? O que foi? Cida falou que o pai queria matar ele. Tadinho! Se eu estivesse aqui...

— Mãe, a senhora me ouviu? Jonathan e eu, a gente namorou.

— Porque essa gente chega aqui e pensa que pode falar qualquer coisa porque é casa simples. — Ela foi andando em direção à cozinha. Fui atrás. — Pois eu ia chamar era a polícia se eu visse aquele homem ameaçando o menino. Você foi lá saber se eles fizeram as pazes?

— Mãe, a senhora tá me ouvindo?

— O surdo é você. Você foi?

— Fui. O pai dele também veio aqui ontem e falou que já resolveram. Estão de bem.

— Que bom. — Ela abriu a geladeira, ficando de costas pra mim. Se abaixou pra pegar batatas para descascar. — Mas não fica falando isso por aí.

— Isso...?

— É. Ninguém precisa saber.

Sem saber o que fazer, eu apenas assenti. "Não fica falando isso por aí" era a versão da minha mãe para o "não fala nada" do pai do Jonathan. Silêncio, segredo. Ajudava, acalmava, mas não resolvia. Um paliativo protetor.

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