Jonathan corria um risco sério de perder toda a sensibilidade ocular à luz. Em outras palavras, ele poderia ficar cego em definitivo. Tratamentos paliativos já vinham sendo usados havia algum tempo, e com a piora drástica devido ao traumatismo, não tinha outro caminho senão passar, o mais rápido possível, por cirurgias delicadas e muito precisas.
Ele recebeu a notícia resignado, de cabeça erguida. Perguntou apenas quando seria. Ouvindo um suspiro longo do pai, pediu que ele não ficasse preocupado, que tudo daria certo. Segurando minha mão, ele disse o mesmo para mim, invertendo a direção das palavras de conforto.
Um dos médicos, que por acaso era bem bonito, deu tapinhas no ombro dele.
— É claro que vai dar certo!
Ele teria que fazer uma série de exames naquele dia, e enquanto aguardava, ele ficava comigo, tornando mais fácil os momentos que poderiam ser constrangedores se ele tivesse que fazer com outras pessoas, como tomar banho, por exemplo.
De qualquer forma, não havia muito o que eu pudesse fazer além de ficar acordado com ele à noite, conversando. Assim, pela manhã ele estava confiante para encarar as cirurgias, e eu fui para a escola com o humor do demo. Ao receber alta, ele foi levado para a minha casa, já preparada para recebê-lo.
Conforme se espalhava a notícia do novo acidente de Jonathan e suas consequências, amigos e conhecidos enviavam mensagens de boa sorte e de preocupação. Ele recebeu algumas visitas, e essas visitas se encarregaram de avisar pra geral que ele estava comigo. Não demorou e esse detalhe passou a ser mais importante que o motivo em si, afinal, Jonathan não era um necessitado qualquer. Ele tinha uma bela casa.
Mara, que era mais íntima apesar de não ter vindo nos visitar, me mandou um de seus áudios:
"Nego, me diz que eu não tô pirando na batatinha. Comassim o ruivo tá na sua casa? Me fale mais sobre esses rumores, querido!"
Respondi longe de Jonathan.
"Então... a gente estava lá na fazenda quando ele caiu e bateu a cabeça. Perdeu a consciência por um tempo. A gente tem evitado espalhar essa notícia para não alarmar ninguém, mas ele perdeu a visão, e por isso, fez cirurgia. Mas é temporário, viu? Não faça alarde. Agora ele tá de repouso absoluto e eu trouxe ele pra cá. Sim, ele podia ter ido pra casa da vó, ou ficado na casa dele com alguém cuidando, uma equipe inteira de enfermagem, mas eu tive a brilhante ideia de trazer ele pra cá. Não me pergunte por quê. Eu sei bem o que você vai dizer, que eu gosto de drama e o caralho..."
"Vou dizer nada não, nego. Tá doido? Você é velho, vacinado, e tá CARECA de saber o que quer da vida. O que vou fazer é me adiantar e entrar num regime pra perder uns quilos. O modelito que eu quero usar nesse casamento não fica bom com a minha atual barriga."
Balancei a cabeça, rindo. Normalmente eu não gostava de ninguém especulando sobre a minha vida, mas a Mara era tão próxima que podia qualquer coisa.
"Você sossega o facho, viu? A gente não tá nem namorando, de fato. Só estamos... juntos."
"É capaz de saírem por aí falando que são apenas amigos."
"Somos amigos, ué. Mas estamos juntos e, por enquanto, fica assim."
"Eu sei, besta. Você gosta do ruivo independente de qualquer coisa. Mas que o drama ajudou nessa reaproximação, ajudou. Nem adianta protestar. Quando eu puder, vou lá visitar o casalzinho. Beijo."
Guardei o celular, rindo. Se eu resolvesse me casar um dia, com certeza ela seria a madrinha. Mas o momento não era pra brincadeiras, nem mesmo pra romance, apesar do clima e das expectativas. O momento era tenso, e mesmo Jonathan mantendo o humor e a tranquilidade, era óbvio que ele tinha medo e ansiedade. Ele não reclamava para não me incomodar.
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Temporais
RomanceAlguns personagens dessa história aparecem em "Depois da Tempestade", mas não se trata de uma continuação. Não é preciso ler Depois da Tempestade antes. Quem leu, pode se lembrar de alguns spoilers. Sinopse Dois mundos opostos se encontram no fina...