Capítulo 25

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Numa noite de dezembro, Loth ligou me convidando para acompanhá-lo em uma festa com seus funcionários. Tinha alguns dias que a gente vinha conversando — eu iniciei o contato — e ele não tinha a quem convidar. A pessoa com a qual ele gostaria de ir não estava presente.

Acabei aceitando por pena. E porque queria me distrair um pouco, conversar, saber da vida dele. O beijo era algo que podia ser ignorado, desde que ele se mantivesse sensato.

Chegamos cedo ao local da festa e eu fiquei ao lado dele enquanto ele recebia os cumprimentos. Depois nos sentamos a uma mesa reservada. Quando os funcionários mais próximos dele, que conduziam a conversa, saíram da mesa, nós ficamos em silêncio. Estava tudo bonito, som maravilhoso, boa comida e bebida, de forma que passamos um bom tempo a contemplar.

— Estou estranhando você sem o celular essa noite — Loth me alfinetou enquanto tomava um coquetel. — Ficamos até sem assunto.

— É feio estar numa festa mexendo no celular, eu sei. Não vou fazer isso.

— E o seu namorado?

— Silenciei as notificações dele, só por hoje. Richard cismou que eu estou ignorando ele. Aliás, de uns meses pra cá, ele faz isso. A gente está por um fio, e o momento é perigoso, a gente tá com viagem planejada pra daqui uns dias. Não pode brigar agora.

— Exato. Deixa pra brigar lá, vai ser muito chique. Um barraco em Paris.

— Não. Eu só vou conversar sobre isso quando ele voltar, em abril ou maio. Até lá, a gente vai levando. Em agosto, a gente passou dias inteiros no quarto, fazendo planos, tudo lindo... — Suspirei. — Agora isso. Sei que namoro à distância é assim mesmo, mas o primeiro ano, um ano e meio, a gente passou muito bem.

Loth ficou olhando o próprio copo vazio.

— Eu nunca namorei por tanto tempo, então nem posso falar nada.

— Não tá sendo fácil não. — Peguei o celular e mostrei a melhor foto que eu tinha do meu namorado (uma em que ele estava vestido, obviamente). — Esse é o Richard. Quando não está desconfiado de tudo e cheio de paranoias, ele é uma pessoa maravilhosa. Tem um alto astral, sabe.

— Ele é bonito.

— É, muito bonito. Estou doido pra encerrar essa etapa e voltar ao que era antes. Ou, se não voltar, pelo menos resolver civilizadamente. Essas briguinhas que a gente está tendo agora... olha, ninguém merece! — Loth tinha se inclinado para ver a tela de meu celular e sua cabeça estava muito próxima da minha, tão concentrado que ele tinha ficado na foto. Olhei em volta e avistei alguns rostos curiosos. — Você perto de mim assim ... as pessoas estão olhando para nós. Vão pensar que somos gays.

Loth deu uma risada e eu o acompanhei. Foi um dos poucos momentos descontraídos daquela festa.

— Que absurdo!

Não ficamos muito tempo no salão porque, apesar de toda a bajulação em torno de Loth, a festa não era para ele. Era bancada por ele, mas destinada a seus funcionários. Seguimos para nossa própria comemoração, essa bem mais espontânea e divertida. Viramos a noite como nos melhores tempos.

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Eu estava ocupado com assuntos da escola nos últimos e dias do ano, e ainda tinha coisas da viagem para providenciar, quando recebi essa mensagem de áudio:

"Mara para Dan: ruivo devidamente conferido. Ele tá bem, mas triste. Motivo: formatura adiada pela segunda vez. Já enviei votos de tristeza e indignação em seu nome. No lugar de "Relaxa, você tem a vida toda pela frente",, eu mandei: mas é um caralho mesmo! Me inspirei no movimento anti-good vibes do Loth."

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