Capítulo 31

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Logo o almoço ficou pronto a Marcelle desceu com a Mel para almoçarmos.

Eu: Não pica o tomate dela, ela não come picado pode deixar em rodelas mesmo.

Marcelle: Seletividade alimentar?

Eu: Sim. Entende de crianças autistas?

Marcelle: Meu irmão é autista. Ele tem 10 anos só come batata, macarrão, ovo, massa de pizza com molho de tomate sem recheios, frango, almondegas e brócolis.

Eu: Ele não aceita mais nada?

Marcelle: Não. Estamos tentando o feijão e a carne vermelha, as poucos ele come, mas ainda não pede, e se não insistirmos ele não come. Mas era pior, ele só comia macarrão e batata frita. Hoje ele come a batata de qualquer jeito. Gosta de leite com chocolate também e panquecas.

Eu: Acho que o mais difícil até agora tem sido a alimentação dela. Por que ela come o que oferecemos, mas é uma luta. Por exemplo, o tomate descobrimos que ela não comia picado porque ela rejeitou do pratinho dela e pegou do prato da minha esposa a rodela. O ovo só se for mexido ou omelete, ela não come cozido e nem frito. O feijão só se for misturado ao arroz.

Marcelle: As texturas os incomodam. Meu irmão come só o macarrão penne ou ravióli com recheio de queijo. Molho de tomate não pode ter carne ou frango tem que ser só o molho vermelho. – conversamos muito. Ela sabia lidar muito bem com a Mel e ela estava se divertindo com ela. Sabia entende-la muito bem pelo fato de ter um irmão autista. Eu entrevistei após o almoço três moças e não gostei de nenhuma delas. No fim da tarde viria mais duas. Já tínhamos a necessidade de ter outra babá que ajudaria a Nancy porque as duas demandam muito tempo então perguntei a Marcelle se ela teria interesse de ser a babá da Mel fixa, expliquei as condições, o salário e ela disse que tinha sim, mas que teria que conversar na agência. No fim da tarde entrevistei mais duas e gostei de uma delas e falaria com a Natalie. Assim que ela foi embora a Natalie chegou. Primeiro ela falou com a Marcelle, e as duas se deram super bem, e ela gostou muito do conhecimento dela com autista e falei que ofereci a ela ser babá fixa da Mel e ela gostou da ideia. Logo Marcelle foi embora e voltaria no dia seguinte.

Eu: E a Soso?

Nat: Ela está estável. Está bem cuidada, as queimaduras estão sendo bem cuidadas. O médico disse que ela está recuperando até mais rápido que ele esperava. A assistente falou comigo por quase uma hora e ela disse que uma outra esteve aqui. Ela disse que vai esperar o desenvolvimento do quadro da Sophie para depois dar o parecer devolvendo a guarda dela pra gente. – suspirou.

Eu: Ela vai voltar pra gente logo.

Nat: Eu espero que sim...

Eu: Ela vai... – a puxei e a abracei.

Nat: Estou exausta.

Eu: Vai tomar um banho, descansa, você está precisando. Eu vou fazer alguma coisa pra gente jantar.

Nat: Tá. – me deu um selinho e subiu. Eu fui até a cozinha tinha camarão então fiz uma massa com molho branco e camarão. A Mel não come camarão então fiz com molho vermelho pra ela, a coloquei na mesa e dei a ela pra não fazer muita bagunça. Ela terminou de comer eu subi escovei os dentinhos dela coloquei o pijama e uma fralda limpa. A Levei pra Natalie dar boa noite pra ela e ela apagou no meu colo. A coloquei na cama e desci. Aqueci o molho de camarão e coloquei o macarrão e a Natalie desceu pra jantar. Ela tomou um vinho sozinha e eu tomei um suco. A gente não conversou muito. Ainda estava tudo estranho, esquisito.

Eu: O que está achando do jantar?

Nat: Está bem gostoso. O molho está sutil, bem temperado ficou muito bom – sorriu de leve.

Eu: Obrigada. – terminamos de comer em total silêncio. Coloquei a louça na lava loucas e subi, fiz minha higiene tomei meus remédios e deitei. Ela logo veio do quarto da Mel e deitou comigo. Depois de 5 dias a gente quase não se falava mais. Meu casamento estava acabando. Não podíamos ver nossa filha, a assistente não deixava mais a Natalie se aproximar e elas não apareceram mais lá em casa também. Marcelle e Mel se davam bem, minha mãe não parava de mandar mensagem com mil motivos para que eu fosse para o Brasil. Natalie recebia apenas boletins médicos da nossa filha e ela estava se recuperando, mas permanecia intubada. Mel estava tirando um cochilo, era domingo. Eu fiz o almoço, ela já tinha comido então sentamos para almoçar somente nós duas. Natalie só espalhava a comida no prato sem dizer nada. – Não está comendo nada amor.

Nat: Eu não estou com fome. – falou seca e ainda olhado para o prato.

Eu: Precisa se alimentar.

Nat: Você não sabe do que eu preciso Priscilla. – falou brava. – Eu preciso da guarda da minha filha de volta, é disso que eu preciso. Eu preciso da minha filha nessa casa, brincando, sorrindo é disso que eu preciso. Não tem nada normal nessa casa. Para de brincar de casinha, de agir como se nada estivesse acontecendo porque está, e é culpa sua. – falou com raiva e chorando saindo da mesa. – Reza... Reza bastante para minha filha voltar pra casa logo, porque se isso não acontecer, quem sai dessa casa é você.

Eu: Droga... – comecei a chorar colocando as mãos no rosto. Ela passou o domingo todo me ignorando e ignorando até mesmo a Mel que só ficava comigo. Eu estava mal, porque aquilo tudo era culpa minha.  

NATIESE EM: NO AMOR E NA GUERRAOnde histórias criam vida. Descubra agora