Capítulo 63

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PRISCILLA NARRANDO...

Tudo mudou. Nossa casa não tinha mais aquela alegria e a positividade da Natalie. Ela estava sempre chorando, gritando, fugindo de tudo e de todos, sendo grossa ao extremo. Não dava mais para passar por cima disso tudo e ignorar que ela estava doente, consumida pela depressão e pelo TEPT e não estava aceitando se tratar. Ela me cobrou tratamento quando precisei, e não fazia o mesmo por ela mesma. Que ironia. A Mel segue falando apenas em inglês e a pitica está indo para o mesmo caminho. É a língua materna delas, mas queremos que elas falem as duas línguas. Marcelle e eu conversamos muito sobre isso e o irmão dela aprendeu a falar espanhol e passou um ano falando apenas espanhol. Ela disse que é muito comum alguns autistas focarem metodicamente numa língua, ou num brinquedo, ou numa comida, ou numa roupa. Ela só quer vestir roupas de unicórnio e todos os dias ela falava da festa e do bolo de unicórnio. Eu queria dar essa felicidade pra minha menina e organizei tudo com a ajuda da Marcelle e da minha sogra. Natalie acordou super cedo eu me arrumei para o trabalho peguei a lista da festa e o telefone da sala e entreguei a ela, já sem paciência e cansada. Ela estava daquele jeito, muda, chorosa, abatida. Fui trabalhar irritada, devo ter passado uns três sinais vermelhos e cheguei na base. Trabalhei a manhã toda e decidi almoçar em casa e cheguei ouvindo Natalie gritar muito. Ela estava descontrolada. Ouvir da minha sogra e da Anna que ela queria sair, que ela deu banho na Sophie fez esforço e desmaiou, foi assustador pra mim, porque ela não estava medindo perigo. Fui atrás dela no quarto e ela chorava nervosa, como vem acontecendo nas ultimas semanas e começamos a gritar e me senti no chão quando a Melanie apareceu na porta e gritou que estávamos gritando e que gritos eram ruins. Nossa filha quase não fala com a gente e quando fala é para gritar de medo ou assustada. A dor que eu senti foi imensa. O que nossa família estava se transformando? Eu desabafei tudo que tinha para desabafar para Natalie e sai do quarto batendo a porta. Me sentei para almoçar com as minhas filhas, nosso almoço foi silencioso. Minha sogra estava abatida, meu sogro ainda não tinha voltado da rua. Terminei de comer, fiz a Sophie dormir e a Mel acabou dormindo também. Escovei os dentes refiz minha maquiagem e ouvi uma batida na porta do meu quarto era Deborah.

Deborah: Posso?

Eu: Claro.

Deborah: Como você está?

Eu: Exausta, magoada, com raiva, sem saber mais o que fazer, preocupada. – suspirei – Eu estou uma bagunça. – ela me abraçou.

Deborah: Eu sei. Eu entendo. Não tem sido fácil pra ninguém e pra você está sendo mil vezes pior. Leandro e eu já pensamos em ir embora várias vezes, mas não queremos deixar nossa filha assim, nem as meninas e nem você. Não podem ficar sozinhas com a Natalie nesse estado. Cogitamos falar com vocês, sobre levar as meninas para o Brasil, mas isso seria péssimo para vocês da mesma forma. Perto está difícil, longe seria pior.

Eu: Deborah eu estou ficando com medo, de verdade. Eu estou ficando com medo de sair de casa e ela machucar as meninas num rompante, num surto. Ela não admite que precisa de ajuda, ela não aceita. Eu preciso sair e trabalhar, ela precisa cuidar das meninas enquanto eu não estiver em casa. A Marcelle e a Stacye estão sendo dois anjos nas nossas vidas. Eu até aumentei o salário delas, porque elas estão fazendo mais do que deveriam por nós, a Anna também. A Emilly e eu temos nossas diferenças, mas ela está se matando para cuidar das duas empresas, a Diorio está aqui sempre que pode, você e o Leandro deixaram a vida de vocês no Brasil para estarem aqui cuidando dela, das nossas filhas de todos nós e ela não faz um pingo de esforço para melhorar ou sequer aceita nossa ajuda. Eu já estive onde ela está, eu sei o que é TEPT e eu faço tratamento até hoje. Eu ainda acordo de madrugada vez ou outra tendo pesadelo com aquele dia e com o dia que minha filha se feriu por minha causa, mas eu não posso largar tudo e viver numa bolha. – já chorava desesperada.

Deborah: Hei, calma... Olha pra mim... Fica calma. A gente praticamente se aposentou. Nós trabalhamos de home office faz tempo e assinamos tudo eletronicamente, então podemos fazer tudo a distância, está tudo bem. A gente fica o tempo que for preciso. Você está surtando, você está cansada, ela está exausta e perdida no medo e na dor, e vocês estão entrando em conflito e isso está afetando a relação de vocês.

Eu: Eu não sei se nossa relação sobrevive a isso Deborah. Eu não sei de mais nada, sinceramente.

Deborah: Sobrevive sim. Vocês se amam e vão passar por isso.

Eu:Espero que sim. Eu espero de verdade que sim. – eu me recompus, dei uma olhada nas meninas efui trabalhar. Passei o dia todo focada no que eu precisava fazer. Cheguei emcasa a noite, era bem tarde, passavam de 22 horas. A casa estava silenciosa.Natalie dormia, eu subi devagar, entrei no quarto da Mel a cobri e dei um beijonela e fiz o mesmo com a Sophie e fui para o meu quarto. Tirei meu uniforme,coloquei no cabide e fui tomar um banho. Fiquei no chuveiro por meia hora,coloquei um pijama e desci. Meu jantar estava no micro-ondas, liguei eesquentei, peguei uma taça de vinho e me sentei para jantar calmamente. Escoveios dentes passei meus cremes e deitei. O choro foi instantâneo eu estavaexausta e eu tinha certeza que tinha deixado isso transparecer o dia todo. 

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Sal na ferida. Será que esse casamento sobrevive?

NATIESE EM: NO AMOR E NA GUERRAOnde histórias criam vida. Descubra agora