Marlon Shipka:
O navio deslizava sobre as águas revoltas, cortando o mar com uma velocidade e leveza que pareciam desafiar as próprias leis da natureza. As velas inchadas capturavam cada sopro de vento contrário, impulsionando a embarcação a uma altura e velocidade que nenhum pássaro jamais alcançara. O horizonte se estendia infinito à nossa frente, mas meus olhos voltaram-se para trás, onde o porto começava a desaparecer na distância.
As figuras no cais ainda eram visíveis, pequenas manchas de cores vibrantes contra o céu cinzento. O pessoal no porto acenava com entusiasmo, seus gestos carregados de esperança e despedida. Entre eles, Max se destacava ao lado de Ian, ambos acenando vigorosamente, como se pudessem prolongar aquele momento de conexão. Ao lado deles, a filha do meu amigo saltava de alegria, sua pequena mão acenando com uma energia contagiante, o rosto iluminado por um sorriso radiante.
Virei-me então em direção a Steven, que estava pálido e visivelmente enjoado pelo balanço incessante do navio. Ele se agarrava ao corrimão com força, os nós dos dedos brancos, enquanto tentava conter a náusea que o assombrava. A cada onda, ele se inclinava um pouco mais, até que, sem conseguir mais se conter, vomitou por sobre a borda. Arthur, sempre atento e prestativo, estava ao seu lado, esfregando suavemente as costas de Steven em um gesto de conforto e apoio.
— Ele vai ficar bem? — perguntei, preocupado.
Arthur olhou para mim, e embora seus olhos mostrassem cansaço, seu sorriso era reconfortante.
— Dentro do possível, sim — respondeu, a voz carregada de uma tranquilidade que parecia capaz de acalmar até as águas mais turbulentas.
O céu havia se tornado de um cinza metálico, como a superfície de uma lâmina prestes a ser empunhada, e as nuvens pesadas se acumulavam, carregadas de presságios sombrios. O navio avançava, cortando as águas em direção à divisão dos oceanos, onde os impérios se encontravam, e o ar parecia vibrar com a tensão de um confronto iminente.
Nunca, em nenhuma das minhas vidas passadas, eu havia embarcado em uma viagem como essa. Sempre ouvi histórias sobre como era extraordinário navegar pelos mares, mas, sinceramente, não encontrava nada de tão especial. O navio apenas deslizava sobre a imensidão azul, com o capitão firmemente ao leme, guiando nossa trajetória. O que me surpreendia, no entanto, era como tudo nesse mundo parecia preso ao passado, mesmo com a presença dos Tecsoul, que poderiam facilmente impulsionar um avanço tecnológico incomparável. Se ao menos permitissem que o tio de Max produzisse mais de suas invenções... Como aquele barco voador, por exemplo, que, embora precisasse de uma quantidade imensa de magia para se mover, era uma prova viva do potencial inexplorado deste mundo.
Sacudi a cabeça, afastando esses pensamentos, e voltei meu olhar para a cabine do capitão. Otto estava lá, em conversa séria com um de seus guardas, suas palavras se perdendo no ruído do vento. O telhado da cabine brilhava como prata antiga, levemente manchada pelo tempo, e a paisagem ao redor era uma vasta extensão de águas cristalinas, intercaladas por ilhas distantes que só podiam ser vislumbradas se eu apertasse bem os olhos. De vez em quando, eu imaginava ver figuras encapuzadas se movendo furtivamente no mar ou nas ilhas, mas era difícil ter certeza de qualquer coisa a essa distância, observando apenas com a visão desarmada.
Foi então que senti uma presença se aproximando, e, ao virar, reconheci a cavaleira pessoal de Otto.
— Quanto tempo já passou? — perguntei, minha voz revelando a inquietação que começava a se acumular dentro de mim.
— Cinco minutos desde a última vez que perguntou — respondeu ela, sua voz calma e controlada, enquanto se virava para observar Otto, que agora estava apoiado no corrimão da escadaria, a cabeça inclinada para trás, parecendo exausto ou talvez enjoado pela constante oscilação do navio.
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O bruxo imperador
FantasyMarlon Shipka é um bruxo poderoso de um clã do imperio de Summer, após ver seu amigo acender ao trono de Imperador decidiu fazer uma viajem para o império Otto para ajudar na recuperação do local. Lentamente foi restaurando o império e até fortalece...