Capítulo Vinte e Seis

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Marlon Shipka:

Uma vez, eu pensei em como algumas histórias seriam perfeitas se não tivessem tanto drama. Mas logo percebi que sem os altos e baixos, sem os momentos de dor seguidos por aqueles de pura alegria, elas perderiam o brilho. São os desafios que tornam as vitórias mais doces, e é o drama que faz os momentos de felicidade se destacarem.

Depois de contar a Otto em detalhes o que havia acontecido comigo, algo mudou em sua expressão. Ele finalmente compreendeu meu lado, e, em um gesto cheio de carinho, beijou minha mão, seus lábios quentes contra minha pele.

— É por isso que eu sempre soube que você é o meu parceiro ideal — disse ele, com um sorriso que era ao mesmo tempo doce e um pouco exagerado.

O comentário era tão meloso que me fez desviar o rosto, tentando esconder o sorriso. Otto podia ser absurdamente romântico, e embora eu achasse isso fofo, não podia deixar de achar um pouco brega também. Talvez fosse apenas meu jeito, uma relutância em me entregar completamente ao sentimentalismo.

Não querendo me perder em pensamentos melancólicos, decidi mudar de assunto.

— Agora você entende por que não gosto de falar muito sobre o meu passado — comecei, soltando um suspiro. — Naquela época, eu era alguém completamente consumido pela vingança, algo que meus pais nunca teriam aceitado.

Otto me olhou com uma mistura de compreensão e confusão. Eu sabia que ele queria entender, mas a profundidade da minha escuridão era difícil de explicar em palavras simples. Para ilustrar, deixei que a magia negra que agora fazia parte de mim se manifestasse, escurecendo o ar ao nosso redor, tornando-o pesado e opressivo.

— Quando voltei para este mundo e comecei a minha vingança, a magia negra começou a me obedecer — expliquei, observando a preocupação se formar em seus olhos. — Às vezes, eu a uso para encantamentos ou poções, mas só em casos extremos. Estou te contando isso agora porque quero que saiba que estou confiando meu maior segredo a você. Eu usei essa magia para enfraquecer os aliados do Marquês Veil, para que antes que suas ações se tornassem uma ameaça maior, eu pudesse esmagá-los completamente.

Otto respirou fundo, absorvendo minhas palavras.

— Eu entendo por que você fez isso — disse ele, seu tom sério e calmo. — Mas não quero que você lute indiscriminadamente. Enquanto eles não interferirem, não levantarei minha mão contra eles, e não quero que você se deixe corromper por essa magia.

Suas palavras, cheias de um senso de justiça e prudência, me fizeram relaxar. Seus princípios eram quase os mesmos que os meus, e saber disso me trouxe uma paz inesperada.

— Já coletei muitas informações para condenar o Marquês Veil — continuou Otto, voltando ao tom prático.

— Eu cuido do resto — interrompi, levantando-me. — Afinal, como seu parceiro de negócios e com meu conhecimento do futuro, posso ser uma grande ajuda.

Otto me olhou com preocupação, sua voz desesperada e confusa.

— Cuidar do resto... sozinho? Como assim?

Sorri, sentindo a familiar sensação de controle e estratégia que me definia.

— Na verdade, sou muito bom em reconhecimento e planejamento — expliquei, caminhando até o guarda-roupa. Com um movimento rápido, removi a parte de trás e revelei uma pilha de papéis escondidos. Otto ficou chocado, mas logo seu choque se transformou em admiração enquanto ele examinava os documentos.

— Marlon, de onde conseguiu todos esses papéis? — perguntou ele, ainda incrédulo.

— Eu me entediava quando não tinha aulas com os cavaleiros, então comecei a investigar o Marquês Veil. Descobri que ele tem mais inimigos do que aliados — disse, com um toque de orgulho. — E devo agradecer a você por ter dito que se casaria comigo. Os rumores sobre nosso relacionamento irritaram ainda mais o Marquês, e isso me permitiu coletar mais provas. A filha mais velha dele até me ajudou um pouco, em troca da promessa de sua liberdade se algo acontecer a ela. Foi durante as noites que reunimos essas informações, aproveitando a escuridão para avançar sem sermos notados.

O bruxo imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora