Capítulo Trinta e Seis

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Marlon Shipka:

Eu ainda sentia o calor do corpo de Otto contra o meu, e só me afastei quando um leve tremor percorreu o chão, despertando nosso alerta. Nossos olhares se cruzaram por um breve instante, a tensão em seus olhos espelhando a minha. Foi então que o som de algo rasgando o ar nos alcançou, e, antes que pudéssemos reagir, uma garotinha foi lançada com brutalidade pelo espaço. Otto, com a precisão e rapidez de um predador, a segurou em seus braços com uma delicadeza impressionante, como se temesse que ela se desfizesse em pó.

Segundos depois, uma criatura grotesca e disforme emergiu das sombras, seus olhos cheios de ódio fixados na criança. Sem pensar duas vezes, canalizei minha magia, sentindo o poder pulsar em minhas veias, e com um gesto determinado, a criatura foi obliterada em uma explosão de luz e energia. O ar se encheu de faíscas e cinzas, mas meu foco estava na garotinha, que agora ofegava nos braços de Otto.

— Deve haver uma entrada oculta para este lugar — murmurei, minha voz saindo mais suave do que eu esperava, quase um consolo. — Mas o mais importante agora é cuidar dela.

— Me salve... — A voz frágil da menina era um sopro, quase inaudível, e logo depois seus olhos se fecharam enquanto ela caía em uma inconsciência profunda.

Troquei um olhar preocupado com Otto, e sem perder mais tempo, corremos em direção à enfermaria do palácio, nossos passos ecoando pelos corredores frios. No caminho, ordenei a alguns cavaleiros que vasculhassem o jardim e seus arredores. Algo não estava certo, e precisávamos descobrir o que tinha causado todo esse caos.

Enquanto os médicos e uma curandeira se ocupavam em estabilizar a garotinha, permaneci ao seu lado. Ela parecia tão frágil, com a pele pálida e os pequenos dedos encolhidos em um reflexo de dor. A cada suspiro irregular dela, uma parte de mim se retorcia em agonia silenciosa. Não conseguia afastar os pensamentos sombrios que surgiam, uma angústia fria de que ela não sobreviveria, de que as energias que explodiram dentro dela—minha magia e a da criatura—poderiam ter sido demais para seu pequeno corpo.

Cada vez que aquela ideia se formava na minha mente, eu era lembrado da facilidade com que somos destruídos, de como vidas podem ser feridas e quebradas até que nada mais reste além de escombros vazios. A dor dela ecoava em memórias antigas minhas, de um tempo em que eu também fui usado, manipulado, esvaziado para satisfazer os desejos egoístas de minha própria família.

Otto vinha nos ver ocasionalmente, sua expressão dura, focada em encontrar a origem do ataque, mas eu sabia que ele também se preocupava. Ele não dizia, mas a forma como seus olhos suavizavam ao olhar para a menina revelava mais do que palavras poderiam. No entanto, ele precisava investigar, e eu ficava aqui, esperando qualquer sinal de melhora. A luta para mantê-la viva se tornava a minha própria, como se, de algum modo, salvá-la fosse redimir algo dentro de mim.

E assim fiquei, esperando, sentindo o peso de cada minuto, o silêncio da enfermaria pontuado apenas pelo som frágil de sua respiração e pelo latejar dos meus próprios pensamentos.

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Ela abriu os olhos lentamente, um pequeno bocejo escapando de seus lábios enquanto olhava ao redor, os olhos ainda trêmulos, sem perceber minha presença ao seu lado. Era como se ela estivesse despertando de um pesadelo, ainda confusa e desorientada.

— Onde estou? Eu morri? Este é outro mundo? — murmurou, quase em um sussurro. As palavras saíram hesitantes, como se ela estivesse tentando se ancorar na realidade. De repente, um borrão de dor atravessou seu corpo, fazendo-a estremecer. Vi quando seus olhos se contraíram e, aos poucos, a névoa em sua mente começou a dissipar. Ela piscou lentamente, tentando regular sua respiração, que saía trêmula.

O bruxo imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora