Capítulo Quarenta e Oito

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Marlon Shipka:

A escuridão era pesada, sufocante. Eu estava suspenso em algum lugar entre o vazio e o esquecimento, como se o tempo tivesse perdido o significado. Não havia som, luz ou forma ao meu redor, apenas uma sensação de estar à deriva em uma imensidão sem fim. Por quanto tempo fiquei assim? Não sabia. Minutos ou séculos, não havia diferença.

Então, lentamente, algo começou a mudar. Um som distante, abafado como um sussurro vindo do fundo de um poço, começou a romper o silêncio. Uma batida... ritmada, constante, como um coração pulsando. Com cada batida, a escuridão ao meu redor parecia ondular, vibrando como se estivesse reagindo a um chamado que não conseguia ignorar.

De repente, uma imagem brilhou diante de mim, uma memória confusa. Vi o rosto de Otto, sua expressão marcada por uma mistura de medo e determinação. A lembrança de seu grito ecoou em minha mente, trazendo com ela uma onda de emoções que cortou a apatia em que eu estava imerso. Havia uma promessa não dita naquele grito, um fio tênue de esperança que recusava ser cortado, mesmo diante das sombras que me envolviam.

Aos poucos, comecei a sentir meu corpo novamente, como se estivesse sendo puxado de volta para a realidade. Mas a realidade que me esperava não era gentil. O chão sob meus pés era áspero e frio, e o ar estava impregnado de uma umidade densa e pesada. A sensação era sufocante, como se estivesse em uma caverna profunda, onde nem mesmo o menor raio de luz pudesse penetrar.

Meus olhos, ainda turvos, começaram a se ajustar. Ao longe, vi figuras espectrais deslizando pelas paredes, vultos sem forma que sussurravam palavras incompreensíveis. Eram sombras de almas perdidas, presas nesse lugar por séculos, talvez milênios, esperando por algo — ou alguém — para libertá-las ou condená-las ainda mais.

— Bem-vindo de volta à sua verdadeira casa, Marlon — a voz de Marlun soou, fria e serena, rompendo o silêncio como uma lâmina afiada. Ele estava próximo, mas sua presença parecia encher todo o espaço ao nosso redor, como se fosse parte do próprio ambiente.

Eu me forcei a levantar a cabeça, ainda tonto e fraco. Ele estava lá, envolto em sombras que ondulavam como serpentes ao redor de seu corpo. Havia um brilho perigoso em seus olhos, algo entre a euforia e a loucura.

— Este lugar... — ele continuou, abrindo os braços como se apresentasse um reino sombrio que ele mesmo tinha forjado. — Aqui é onde todas as coisas terminam, onde os laços são cortados e as almas são finalmente subjugadas. Este será seu novo lar, meu querido fragmento. Aqui, você será moldado conforme minha vontade, e finalmente, seremos um só novamente.

Minha mente ainda estava nebulosa, mas uma coisa era clara: Marlun pretendia me transformar, quebrar minha essência até que eu não fosse nada além de uma extensão da sua própria escuridão. Mas havia algo em mim que ele não entendia completamente. Algo que, mesmo em meio àquele abismo, ainda resistia. Eu sabia que Otto estava lá fora, que ele não desistiria. E, de alguma forma, isso me dava forças para continuar lutando, mesmo quando tudo parecia perdido.

— Você... nunca vai conseguir isso — consegui dizer, minha voz arranhada e fraca, mas ainda carregando a determinação que eu sentia.

Marlun sorriu, um sorriso cruel e indulgente.

— Ah, Marlon... ainda não percebeu? Não há escapatória. Este lugar, estas sombras, tudo responde ao meu comando. Não há ninguém para salvá-lo aqui. Nenhuma luz para guiá-lo. Apenas eu... e você.

E com um gesto, as sombras ao nosso redor começaram a se mover, se arrastando como correntes que se aproximavam de mim, prontas para me prender mais uma vez. Mas mesmo ali, no coração da escuridão, eu sabia que não estava completamente sozinho. Eu ainda podia sentir o eco daquele grito distante de Otto, um lembrete de que, mesmo nas trevas mais profundas, havia uma fagulha de esperança esperando para ser reacendida.

O bruxo imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora