Capítulo Quarenta e Sete

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Marlon Shipka:

Theorban, que até então exibia uma confiança inabalável, deu um passo hesitante para trás. A segurança que antes o envolvia como uma armadura parecia trincar diante da presença ameaçadora do recém-chegado. Seus olhos, antes transbordando de ódio e superioridade, agora se estreitaram em uma mistura de cautela e temor. Era como se a própria sombra de Marlun pesasse sobre ele, prendendo-o em correntes invisíveis.

— Marlun — disse Theorban, sua voz revelando um traço de incerteza enquanto seu olhar vacilava por um momento. — Isso não condiz com nosso acordo quando o libertei de seu selo.

A resposta de Marlun não veio em palavras imediatas, mas sim em um som quase desprezível — uma risadinha baixa e fria que reverberou pelas paredes escuras como o sussurro de um predador brincando com sua presa. Ele deu um passo à frente, seu sorriso gelado se alargando enquanto as sombras ao seu redor pareciam ganhar vida própria, contorcendo-se em formas sinistras e ameaçadoras.

— Acordo? — A palavra escapou de seus lábios com uma mistura de escárnio e indiferença. — Você realmente acredita que algo como um acordo tem valor para mim? — Seus olhos faiscaram com uma malícia antiga e insondável, como se estivesse se divertindo com a ingenuidade de Theorban. — Eu o avisei, Theorban. O poder que você tanto ansiava vem com um preço. E esse preço... — Marlun deu uma pausa, saboreando o suspense no ar antes de concluir com um tom cortante. — ...sempre será pago, de uma forma ou de outra.

Theorban engoliu em seco, tentando recuperar sua compostura, mas o suor frio em sua testa e o tremor em suas mãos o traíam. Marlun, por outro lado, parecia totalmente no controle, cada movimento calculado, como um lobo cercando uma presa já derrotada.

— Agora, — continuou Marlun, sua voz um sussurro de pura ameaça, — escolha suas próximas palavras com cuidado. Pode ser sua última chance de mudar o rumo do seu destino... ou selar de vez sua ruína.

Matteo se moveu com uma agressividade que beirava o desespero. Seus músculos estavam tensos, e sua voz saiu fragmentada e cheia de ódio, como se cada palavra fosse arrancada à força de sua garganta:

— O... que... o... maldito... do... Marlon... tem... de... especial? — Ele conseguiu dizer, seus olhos cheios de inveja e frustração.

Antes que qualquer um pudesse reagir, Marlun lançou um olhar frio e desdenhoso para Matteo. Com um simples movimento de seus dedos, quase como se estivesse tocando o ar, Marlun avançou em minha direção em um piscar de olhos, rápido demais para ser percebido. Em um instante, ele estava diante de mim, sua presença esmagadora me paralisando. Ele ergueu uma das mãos e tocou meu queixo com delicadeza, mas seus olhos brilhavam com uma loucura perigosa, um abismo de poder e obsessão.

— Simples. Ele é quem eu estava procurando — sussurrou Marlun, com um sorriso insano que se alargava em seus lábios. Sua voz parecia carregar um eco, como se falasse de algum lugar além deste mundo. — Vou contar uma coisa para vocês...

Ele se afastou lentamente, girando sobre os próprios calcanhares com uma graça letal, como um predador prestes a brincar com suas presas.

— Eu sou Marlun, o guia dos mortos e o Deus dos espíritos — declarou, a voz cheia de orgulho e ressentimento. Cada palavra parecia pesar como uma sentença eterna. — Em um tempo antigo, eu detinha poder sobre tudo aquilo que os deuses e os mortais temiam. Meu nome causava tremor, e minha sombra era o presságio do fim.

Sua expressão de loucura se transformou em algo ainda mais sombrio, uma raiva contida que fez a aura ao seu redor explodir como uma onda opressiva, me atingindo com tal força que o ar ao meu redor pareceu desaparecer. Meu estômago se revirou, e a náusea tomou conta de mim enquanto tentava me manter de pé.

O bruxo imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora